Uma final da Taça de Portugal diferente
Em 22 de junho de 1969, teve lugar uma final da Taça de Portugal em futebol que foi diferente de todas as outras. O jogo foi disputado entre o Benfica e a Académica de Coimbra, saindo vencedor o Benfica, sem surpresa nenhuma. O que foi surpreendente foi o ambiente que envolveu o desafio e a atitude dos jogadores da Académica, que se apresentaram com uma capa do traje académico pelos ombros, caída em sinal de luto.
Em 1969, os estudantes da Universidade de Coimbra estavam em luta contra o regime ditatorial que então dominava Portugal, após a recusa, por parte do presidente da República, Américo Tomás, em dar a palavra a Alberto Martins, presidente da direção da Associação Académica de Coimbra, na cerimónia da inauguração do edifício das Matemáticas em 17 de abril desse ano. A esta recusa, seguiu-se uma feroz repressão aos dirigentes da Associação Académica, que teve como resposta, por parte dos estudantes da Universidade, uma greve aos exames. A esta greve, o governo respondeu com o envio de numerosos efetivos da GNR e da PSP, que fizeram de Coimbra uma cidade ocupada, praticamente em estado de sítio.
Enquanto tudo isto acontecia, o clube dos estudantes de Coimbra, que era a Académica, conseguiu chegar à final da Taça de Portugal em futebol, que disputou contra o Benfica, que era o outro finalista. O ambiente escaldante que nessa ocasião se vivia em Coimbra transferiu-se então para o jogo da final da Taça, que se disputou no estádio do Jamor, como era habitual. O que não foi habitual, foi a ausência do presidente da República e demais individualidades oficiais na tribuna principal do estádio, para entregarem a taça à equipa vencedora, e foi também o facto de o jogo não ter sido transmitido em direto pela RTP, ao contrário do que tinha acontecido nos anos anteriores. O ambiente que envolveu o jogo está documentado nestas imagens da Secção Fotográfica da Associação Académica de Coimbra, as quais foram publicadas por Maria Rola na sua página pessoal no Facebook. Numa das faixas, pode ler-se: "Estão 36 estudantes presos". Eu era um deles. Ainda não tinha atingido a maioridade, ainda não tinha idade para ir para a tropa, mas já tinha idade para fazer uma curta estadia numa cela de isolamento na cave da Penitenciária de Coimbra, ao pé dos Arcos do Jardim.
Comentários: 4
Foi nesta final da taça que um GNR mais nervosinho investiu sobre mim, a cavalo. Fiquei paralisada, mas o meu pai conseguiu puxar-me a tempo de não ser pisoteada. Tinha 16 anos, na altura.
Como tanto eu quanto meu pai conhecíamos aquelas matas tão bem quanto as palmas das nossas mãos, conseguimos escapulir-nos quando a situação se tornou mais violenta e as detenções começaram. Recordo-me perfeitamente desse dia.
Abraço!
Mesmo que eu quisesse assistir ao jogo, não poderia, porque estava no xilindró. Fui libertado no dia seguinte, 23 de junho de 1969. Fui celebrar a minha libertação nessa noite, no S. João da Figueira da Foz, na companhia de alguns colegas. Pelo caminho, apanhei a única bebedeira da minha vida, quando jantei num restaurante em Tentúgal. Num bailarico que havia na Figueira da Foz, "alegre" como já estava, dancei com uma peixeira de Buarcos que eu não conhecia de lado nenhum...
Lembro-me de ourta Taça entre a Académica de Coimbra e o Vitória de Setúbal. Já não posso precisar a época/anos.
Eu já naquele tempo não ligava ao futebol mas, sendo estudante da Universidade de Coimbra, não podia deixar de simpatizar com a Académica.
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