Gaspar Dias
O Maneirismo foi uma corrente artística que nasceu em Itália em princípios do séc. XVI e foi cultivada na Europa ao longo de quase todo esse século e princípios do século seguinte. O Maneirismo valorizava acima de tudo a expressividade do conteúdo de uma obra, mesmo que isso fosse em detrimento da sua forma. Os maneiristas quiseram, acima de tudo, despertar emoções e sentimentos nas pessoas, e não apenas conduzi-las a uma contemplação passiva da beleza, da harmonia e do equilíbrio. Para atingirem esse fim, os maneiristas não hesitaram em recorrer ao exagero, à deformação, à ilusão, ao contraste, à multiplicação de pontos de vista, à teatralidade, à representação de sonhos, etc.
Frequentemente, as personagens das obras maneiristas são apresentadas em atitudes exageradas, de tal modo que há quem identifique o Maneirismo com o artificialismo e a afetação das poses. Sendo até certo ponto verdadeira, esta identificação é imensamente injusta para com artistas cujo propósito era, acima de tudo, realçar paixões e sentimentos, e não representar as personagens em atitudes naturais. No quadro presente, Gaspar Dias mostra-nos S. Roque numa pose bastante teatral, enquanto acentua o caráter maneirista do quadro com a representação do interior de uma vasta edificação no seu canto superior direito, que é apresentado sob uma perspetiva diferente da do restante quadro. Não é defeito, é feitio.
Conta-se que São Roque foi um santo francês, que viveu no séc. XIV e era oriundo de uma família abastada da cidade de Montpellier, mas que renunciou às riquezas deste mundo, vendendo tudo quanto herdara, distribuindo pelos pobres o dinheiro resultante desta venda e fazendo-se frade da Ordem Terceira de S. Francisco. Como frade, Roque fez uma peregrinação a Roma, num tempo em que a Europa foi assolada pela peste bubónica, a terrível "peste negra", que matou metade da população do continente. Ao longo do seu caminho e, por fim, em Roma, Roque tratou e curou muitos doentes, valendo-se dos conhecimentos de medicina que possuía. Como era de se esperar, Roque acabou por ser também atingido pela doença. Afastou-se então para uma floresta, passando a viver junto de uma nascente de água, à espera da sua própria morte, mas um cão aparecia-lhe todos os dias com um pedaço de pão, para que se alimentasse. Roque acabou por se curar. São Roque é habitualmente representado como um peregrino, de chapéu na cabeça e bordão numa mão, e exibindo uma ferida aberta numa sua coxa, uma ferida provocada pela peste bubónica, isto é, um bubão.
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