09 agosto 2023

Igreja de São Cristóvão de Rio Mau


Igreja de São Cristóvão de Rio Mau, Vila do Conde (Foto: Paula Miranda?)

Rio Mau é o nome de uma localidade do concelho de Vila do Conde, que tem uma igreja românica dedicada a São Cristóvão, que é pequena, discreta, rústica e pobre, mas no entanto é linda! Não é por acaso que esta igrejinha está classificada como Monumento Nacional.

Quando visitamos a pequena igreja de São Cristóvão de Rio Mau, sentimo-nos logo transportados para a Idade Média, porque poucas alterações esta igreja sofreu desde os primórdios da nacionalidade até aos nossos dias. Como parece ter parado no tempo muitos séculos atrás, São Cristóvão de Rio Mau é o retrato de uma época que ficou petrificada no rugoso granito local e por isso nos dá uma amostra da rusticidade, dos gostos, da fé, dos símbolos, dos medos, dos mitos e das esperanças das pessoas que viveram naquele tempo e naquela região.

A igreja de São Cristóvão de Rio Mau deve ter sido construída no séc XI, como parte integrante de um mosteiro que albergava uma comunidade de cónegos regrantes de Santo Agostinho. No séc. XII, a igreja sofreu alguns acrescentos e passou a tomar um aspeto semelhante ao que agora apresenta. Desde então, ela não sofreu muitas alterações, porque entretanto os monges saíram daquele lugar para se juntarem aos que estavam em São Simão da Junqueira, perto dali. A humilde igrejinha de Rio Mau deve então ter ficado esquecida ou mesmo abandonada, enquanto o mosteiro que lhe ficava anexo desapareceu por completo.

O estado a que chegou a igreja de São Cristóvão de Rio Mau deve ter sido de verdadeira ruína, a avaliar pelos sinais de reconstrução que apresenta de forma evidente. No entanto, foi possível restaurá-la tanto quanto possível dentro do respeito pela sua traça original medieval, porque ela nunca tivera outra. A igreja sempre tinha sido mais ou menos assim e assim ficou. É uma belíssima igreja, ainda que seja muito rústica e pequena.


Tímpano do portal principal da igreja de São Cristóvão de Rio Mau, concelho de Vila do Conde (Foto: Jacqueline Poggi)

O tímpano do portal principal da igreja é tão tosco que até comove. Dir-se-ia que aquelas figuras foram esculpidas por mãos que estavam mais habituadas a empunhar o arado, do que a manusear o martelo e o cinzel para moldar o duro granito.

No centro do tímpano, vê-se uma representação de Santo Agostinho, com a mitra e o báculo de bispo, abençoando os fiéis com a sua mão direita. De ambos os lados da figura central, duas personagens menores apresentam livros abertos, símbolos tradicionalmente associados a Santo Agostinho, que é Doutor da Igreja. Por fim, no extremo esquerdo do tímpano vê-se uma ave com o sol acima da sua cabeça e no extremo direito está o que dizem ser uma sereia com os braços levantados segurando a lua. Sinceramente, não consegui descobrir qual é o significado destas duas figuras. Com certeza que deve existir um simbolismo associado a elas, mas eu não sei qual é.


Tímpano do portal lateral norte da igreja de São Cristóvão de Rio Mau, Vila do Conde (Foto de autor desconhecido)

O portal lateral da igreja virado a norte tem um tímpano com um baixo-relevo que parece representar um combate entre um grifo, no lado esquerdo, e um dragão, no lado direito. Este combate pode ser interpretado como simbolizando a luta entre o Bem e o Mal.


Capitéis no portal principal da igreja de São Cristóvão de Rio Mau, Vila do Conde (Foto: Xabier)

Uma das características das igrejas medievais, sejam elas românicas ou góticas, mas sobretudo das românicas, é a extraordinária riqueza e diversidade de motivos representados em capitéis, gárgulas, cachorros e outros elementos arquitetónicos. Os motivos que forem vegetais e abstratos, enfim, provavelmente teriam uma finalidade predominantemente decorativa. Mas que dizer dos outros motivos (e são tantos e tão diversos), que representam pessoas, animais, dragões, sereias, monstros, etc.? Que significados poderemos atribuir a tais representações, que muitas vezes nos parecem ter saído de sonhos, de delírios, de êxtases e de visões do inferno ou do paraíso, e que ficaram eternizados na pedra? Ainda por cima, tais representações testemunham muitas vezes uma conceção estética de altíssima qualidade.


Capitel no interior da igreja de São Cristóvão de Rio Mau, Vila do Conde (Foto: PedroPVZ)

Mesmo quando não soubermos que mensagem nos pretendia transmitir o artista que tais motivos materializou, sentimos uma comoção imensa ao vê-los, que não é unicamente estética. Assim acontece em São Cristóvão de Rio Mau. É uma igreja que emociona.



Capitéis no interior da igreja de São Cristóvão de Rio Mau, Vila do Conde (Fotos: Xabier)

Capitel no interior da igreja de São Cristóvão de Rio Mau, Vila do Conde (Foto de autor desconhecido)

Interior da igreja de São Cristóvão de Rio Mau, Vila do Conde, tal como se apresenta atualmente (Foto de autor desconhecido)

Comentários: 2

Blogger Valdemar Silva escreveu...

Caro Fernando Ribeiro
Julgo que nesta preciosidade românica, a Igreja de São Cristóvão de Rio Mau, não se encontra no seu interior ou exterior nenhuma representação/imagem de São Cristóvão.
No blogue Malomil aparecem constantemente postais, de José Liberato, sobre São Cristóvão na Europa apresentando-nos o santo nas igrejas dos mais variados locais de países europeus, mas desta de Rio Mau não faz referência.

Abraço
Valdemar Queiroz

10 agosto, 2023 14:14  
Blogger Fernando Ribeiro escreveu...

É verdade, meu caro Valdemar. Embora se chame de São Cristóvão, a igreja de Rio Mau não tem nenhuma referência a ele. Porque será? Será que a igreja foi chamada de São Cristóvão porque ficava no Caminho de Santiago e São Cristóvão era o padroeiro dos viajantes?

Um abraço e obrigado pelo comentário

Fernando Ribeiro

11 agosto, 2023 03:25  

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