21 setembro 2023

Os Prémios Ig Nobel de 2023


Ex-líbris da revista Annals of Improbable Research

Em cada ano ocorre a cerimónia da atribuição dos Prémios Ig Nobel, que são prémios que se destinam a consagrar os trabalhos científicos mais insólitos ou mais divertidos. Apesar do seu ignóbil nome, os Prémios Ig Nobel não são prémios feitos para humilhar os cientistas galardoados; destinam-se, isso sim, a premiar os autores de trabalhos científicos que primeiro façam rir e depois façam pensar. Não se pode, por isso, deduzir que os trabalhos premiados não tenham valor científico.

Os Prémios Ig Nobel de 2023 já foram atribuídos, durante uma "cerimónia" organizada pela revista Annals of Improbable Research, que ocorreu em 14 de setembro de 2023 por webcast apenas. Segue-se a lista dos Prémios Ig Nobel de 2023.

Prémio Ig Nobel da Química e Geologia

Atribuído a Jan Zalasiewicz, por explicar porque é que muitos geólogos e paleontólogos gostam de lamber pedras.

Uma pedra que for humedecida com a língua poderá revelar se é um fóssil de origem orgânica (um osso colar-se-á à língua), se é de origem mineral, qual é a sua textura e granularidade, etc.

Prémio Ig Nobel da Literatura

Concedido a Chris Moulin, Nicole Bell, Merita Turunen, Arina Baharin e Akira O’Connor, por estudarem a sensação que as pessoas experimentam quando repetem uma simples palavra muitas, muitas, muitas, muitas, muitas, muitas vezes.

Ao fim de cerca de 30 repetições ou um minuto, a palavra repetida deixa de ter um significado imediatamente reconhecível, para passar a ser apenas uma sequência de fonemas sem sentido, como se fosse uma palavra desconhecida.

Prémio Ig Nobel de Engenharia Mecânica

Galardoado a Te Faye Yap, Zhen Liu, Anoop Rajappan, Trevor Shimokusu e Daniel Preston, por usarem aranhas mortas como ferramentas de preensão e com elas elevarem pequenas cargas.

Quando morrem, as aranhas ficam com as patas encolhidas. Esta equipa de cientistas conseguiu fazer abrir e fechar as patas de aranhas mortas, como se fossem pinças de pequenos robôs, e agarrar pequenos objetos.

Prémio Ig Nobel de Saúde Pública

Atribuído a Seung-min Park, por ter inventado uma sanita carregada de equipamento eletrónico que faz uma avaliação rápida do estado de saúde do utilizador.

A ideia não é nova, mas nenhuma sanita foi tão completa como esta, que faz uma análise à urina, às fezes e é mesmo capaz de fazer testes à covid-19. Esta sanita é tão completa que até fotografa o ânus do utilizador para identificá-lo, como se de uma impressão digital se tratasse! Diz o criador da sanita que não há duas pessoas com o ânus igual! Os dados recolhidos são em seguida encriptados e enviados pela sanita para uma cloud.

Prémio Ig Nobel da Comunicação

Concedido a María José Torres-Prioris, Diana López-Barroso, Estela Càmara, Sol Fittipaldi, Lucas Sedeño, Agustín Ibáñez, Marcelo Berthier e Adolfo García, por estudarem a atividade mental de pessoas que são capazes de falar de trás para a frente com facilidade.

Na cidade de La Laguna, nas Canárias, Espanha, existe um grupo de pessoas que são capazes de inverter as sílabas de palavras e até de frases inteiras, dizendo, por exemplo, nasbue chesno em vez de "buenas noches". Os autores do estudo concluíram que esta capacidade não está relacionada com a memória, mas sim com um aumento da massa cinzenta do cérebro e com uma maior conectividade entre regiões do cérebro relacionadas com a linguagem.

Prémio Ig Nobel da Medicina

Galardoado a Christine Pham, Bobak Hedayati, Kiana Hashemi, Ella Csuka, Tiana Mamaghani, Margit Juhasz, Jamie Wikenheiser e Natasha Mesinkovska, por procurarem saber se existe um igual número de pelos em ambas as aberturas do nariz humano.

Há pessoas que sofrem de alopecia (perda de cabelos e de pelos) em várias partes do corpo, a qual também pode atingir as narinas. Quando fica desprovido de pelos, o nariz fica mais sensível a infeções respiratórias, alergias, etc. Esta equipa de cientistas examinou os narizes de 20 cadáveres e deu-se ao trabalho de contar os pelos existentes nas suas narinas, além de ter medido o comprimento dos referidos pelos! Para o enriquecimento da nossa cultura geral, ficamos a saber que uma narina humana possui em média 120 a 122 pelos, os quais têm comprimentos que variam entre 0,81 e 1,035 centímetros.

Prémio Ig Nobel da Nutrição

Atribuído a Homei Miyashita e Hiromi Nakamura, por determinarem até que ponto a eletrificação dos pauzinhos de comer e das palhinhas de beber altera o sabor dos alimentos e das bebidas.

Estes dois cientistas estudaram a sensibilidade das papilas gustativas quando se colocam elétrodos nos extremos das palhinhas de beber e nas pontas dos pauzinhos de comer. Concluíram eles que esta sensibilidade aumenta proporcionalmente à diferença de potencial aplicada aos elétrodos. A finalidade do estudo consiste em levar as papilas gustativas a detetar sabores tão subtis, que não sentiriam se não houvesse a passagem de uma corrente elétrica.

Prémio Ig Nobel da Educação

Ganho por Katy Tam, Cyanea Poon, Victoria Hui, Wijnand van Tilburg, Christy Wong, Vivian Kwong, Gigi Yuen e Christian Chan, por terem estudado o aborrecimento de professores e alunos.

O aborrecimento sentido pelos alunos durante uma aula é um fenómeno praticamente universal, que ninguém se atreve a negar. O que estes cientistas estudaram foi até que ponto o aborrecimento sentido pelo próprio professor se reflete no aproveitamento dos seus alunos. Sem dúvida que os professores também se podem sentir aborrecidos, por estarem a ensinar sempre a mesma matéria ano após ano, perante alunos que não manifestam o mais pequeno interesse. Como resultado, os alunos ficam ainda mais aborrecidos e menos motivados do que já estavam. Esta é uma das conclusões do estudo científico premiado com o Ig Nobel, e que é manifestamente evidente: o aborrecimento de uns gera ainda maior aborrecimento nos outros. Outra conclusão a que a equipa de cientistas chegou é a de que a própria expectativa de que uma aula vai ser aborrecida gera ela mesma aborrecimento. A solução que eles propõem é a de manipular antecipadamente as expectativas sobre o interesse que uma aula possa vir a ter, de modo a minimizar o aborrecimento. Não há receitas milagrosas.

Prémio Ig Nobel da Psicologia

Concedido a Stanley Milgram, Leonard Bickman e Lawrence Berkowitz, por estudarem quantas pessoas olham para cima numa rua de uma cidade, quando veem estranhos olharem para cima.

Para dizer com toda a sinceridade, não há nada neste estudo que não se saiba já de forma empírica. Toda a gente sabe que o ser humano é dotado de curiosidade e, portanto, é natural que também olhe, quando vê alguém a olhar para o ar. E é tudo.

Prémio Ig Nobel da Física

Galardoado a Bieito Fernández Castro, Marian Peña, Enrique Nogueira, Miguel Gilcoto, Esperanza Broullón, Antonio Comesaña, Damien Bouffard, Alberto C. Naveira Garabato e Beatriz Mouriño-Carballido, por medirem até que ponto a agitação da água dos oceanos é afetada pela atividade sexual das anchovas.

É sabido que a agitação marítima se deve a vários fatores, tais como os ventos e as marés, que afetam diversas propriedades da água dos oceanos, tais como a temperatura, a salinidade, a dissolução de gases e a quantidade de nutrientes. Esta equipa de cientistas acrescenta aos fatores de agitação marítima referidos os organismos que vivem nos oceanos, como o zooplâncton, os peixes e os mamíferos, tendo estudado a intensa agitação das águas provocada pela desova de um numeroso cardume de anchovas.


Controlada por um pequeno sistema hidráulico, uma aranha morta (em cima) é usada para agarrar outra aranha, pousada numa superfície (em baixo) (Foto: Preston Innovation Laboratory)

Comentários: 2

Blogger Maria João Brito de Sousa escreveu...

Uma delícia, esta sua publicação!

O Ig Nobel da Literatura, não funciona comigo. Claro que a sonoridade se me impõe muito mais ao fim de um minuto, mas continuo a reconhecer o significado da palavra.

Um abraço!

22 setembro, 2023 13:34  
Blogger Fernando Ribeiro escreveu...

Pois o Ig Nobel da Literatura funciona comigo. À força de dizer (ou apenas pensar) muitas vezes a mesma palavra, de repente apercebo-me de que ela me é completamente estranha, como se nunca a tivesse encontrado na minha vida. Tenho que a escrever para reaver o seu significado e até chego a sentir a necessidade de consultar um dicionário, para ver como é que ela se escreve! O cérebro é realmente um órgão estranhíssimo! O meu, pelo menos, é.

Um abraço

24 setembro, 2023 02:04  

Enviar um comentário