Comigo me desavim
Comigo me desavim,
sou posto em todo perigo;
não posso viver comigo
nem posso fugir de mim.
Com dor, da gente fugia,
antes que esta assi crecesse;
agora já fugiria
de mim, se de mim pudesse.
Que meo espero ou que fim
do vão trabalho que sigo,
pois que trago a mim comigo,
tamanho imigo de mim?
Francisco Sá de Miranda (1481–1558)
meo = mais
(Ilustração de João Abel Manta)
Comentários: 4
Acho que Sá de Miranda
falava assim
de mim
pois eu
tal como ele
comigo me desavim
(mas Minha Alma me acudiu)
Abraço
COMIGO NÃO DESAVINDA
*
Comigo não desavinda,
Eu mesma em p`rigo me ponho:
Vôo de sonho pra sonho
Pondo as asas na berlinda
*
Se cansada, me deitava
No verso que em mim nascesse
Hoje esfriei como a lava
De vulcão que enfim morresse
*
Mas do trabalho que em vão
De minhas mãos vai nascendo,
Se vez por outra me acendo,
Volto a ser fogo e vulcão!
Mª João
Fernando, grata por este poema de Sá de Miranda ao qual me senti fortemente tentada a dar réplica.
Poderá, por gentileza, emprestar-me esta ilustração de João Abel Manta, caso eu publique esta conversa com Sá de Miranda? Obviamente, referirei o espaço no qual encontrei poema e gravura. Obrigada e um abraço!
Tens razão, Rogério. Em "Almas Que Não Foram Fardadas", as tuas desavenças contigo mesmo acabavam sempre por se resolver, e sempre a favor da Tua Alma. Um forte abraço.
Maria João, que grande surpresa! Um comentário assim não é para qualquer um! Muito obrigado. Presumo que Sá de Miranda seja um dos seus poetas preferidos, quanto mais não seja porque ele foi o introdutor em Portugal da forma soneto, que a Maria João cultiva com tanto talento. Espero que o seu vulcão continue a cuspir fogo por muitos e bons anos, que eu gosto de ser esturricado assim.
Quanto à questão das imagens, antes ainda de começar a publicar este blog em 2006, eu comecei por pedir licença por email ao autor de uma imagem, para poder publicá-la, mas nunca recebi qualquer resposta. Acabei por inaugurar o blog sem imagens, só com um poema de Sophia. A partir daí, resolvi passar a publicar imagens, sim, mas que já estivessem na internet, tendo o cuidado de identificar os seus autores sempre que fosse possível. Tenho procedido desta maneira até hoje e nunca recebi qualquer reclamação; houve até um fotógrafo profissional que me agradeceu o facto de o identificar como autor de uma imagem dele! O meu blog não é comercial, nunca ganhei dinheiro com ele, nem tenciono ganhar, e deve ser por isso que beneficio de uma certa tolerância. De qualquer modo, evito quase sempre publicar imagens de profissionais, para não os prejudicar, embora não me falte vontade de encher o blog com as fotografias fabulosas de Sebastião Salgado, por exemplo.
Como o compreendo, Fernando...
Mas renovo aqui o meu agradecimento pela cedência da imagem, bem como pela publicação do poema de Sá de Miranda que teve o condão de, por instantes, me desenferrujar a Musa.
Já Está tudo publicado.
Um abraço!
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