Até ao fim
Mas é assim o poema: construído devagar,
palavra a palavra, e mesmo verso a verso,
até ao fim. O que não sei é
como acabá-lo; ou, até, se
o poema quer acabar. Então, peço-te ajuda:
puxo o teu corpo
para o meio dele, deito-o na cama
da estrofe, dispo-o de frases
e de adjectivos até te ver,
tu,
o mais nu dos pronomes. Ficamos
assim. Para trás, palavras e versos,
e tudo o que
não é preciso dizer:
eu e tu, chamando o amor
para que o poema acabe.
Nuno Júdice (1949–2024)
Nu couché, óleo sobre tela de Amedeo Modigliani (1884–1920). Coleção privada
Comentários: 2
Oportuno reconhecimento e homenagem
Esta era uma homenagem que eu devia a Nuno Júdice, que foi um dos mais importantes poetas portugueses de há muitas décadas a esta parte.
Um abraço
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