João Batista Ribeiro
João Batista Ribeiro foi um pintor, desenhador, gravador e até fotógrafo (foi um dos pioneiros do daguerreótipo em Portugal), nascido em São João de Arroios, no concelho de Vila Real, em 1790 e falecido na cidade do Porto em 1868. Dele, alguém disse que foi «miguelista por convivência e liberal por convicção». Só assim se compreende que tenha conseguido pintar retratos de D. Miguel e de D. Pedro IV, apesar da sangrenta guerra que opôs estes dois irmãos e que tanto dilacerou Portugal.
O cerco que as forças miguelistas puseram ao Porto, no momento em que D. Pedro IV se encontrava dentro da cidade juntamente com as suas tropas vindas da Ilha Terceira, durou treze terríveis meses, de julho de 1832 a agosto de 1833. Foram treze meses de combates ferozes, de mortos e de feridos em grande quantidade, de muita fome e de muitas doenças, que o povo do Porto suportou estoicamente em defesa da liberdade. O próprio rei D. Pedro IV, que se tinha instalado na mais rica residência da cidade (o Palácio dos Carrancas, onde agora está o Museu Soares dos Reis), teve que se mudar para uma casa mais modesta e mais abrigada na Rua de Cedofeita, porque o palácio era alvo de bombardeamentos feitos pela artilharia miguelista postada em Gaia.
Seria de esperar que as questões da Cultura ficassem esquecidas num tempo em que a própria sobrevivência física do rei e dos seus apoiantes estava em causa. Por incrível que pareça, não foi isso o que aconteceu. Além dos combates, da fome e das epidemias, o Cerco do Porto foi um acontecimento de enorme relevância para a cidade também do ponto de vista cultural, porque foi durante o cerco que nasceram duas das mais importantes instituições do Porto, por iniciativa de D. Pedro IV: o Museu de Pinturas e Estampas, que agora é o Museu Nacional Soares dos Reis, e a Real Biblioteca Pública do Porto, que agora se chama Biblioteca Pública Municipal do Porto, onde trabalhou Alexandre Herculano por nomeação do rei.
João Batista Ribeiro também desempenhou um papel de grande relevo na dinamização cultural da cidade durante o Cerco do Porto, tendo sido chamado várias vezes à presença de D. Pedro IV, para aconselhá-lo sobre as medidas a tomar no campo da Cultura. Criou e organizou academias e associações, e recolheu e catalogou o espólio dos conventos e residências da cidade que foram deixados ao abandono pelos seus antigos ocupantes, que se puseram em fuga por serem miguelistas. Também cabe, por isso, dar o devido destaque à actividade desenvolvida por João Batista Ribeiro durante o Cerco do Porto, porque foi realizada em condições extremamente difíceis.
Comentários: 2
Pela amostra
João Batista Ribeiro
sabia da poda
Pintar assim... meu Deus ...
Abraço
João Batista Ribeiro sabia da "poda" de tal maneira, que foi lente, isto é, catedrático.
O retrato que ele fez de D. Pedro IV foi pintado durante o Cerco do Porto. Conheço muito bem este quadro, pois ele estava na sala de leitura da Biblioteca Pública Municipal do Porto, que frequentei inúmeras vezes. Neste quadro, o rei parece estar sentado num trono, mas não está. Se repararmos bem, D. Pedro IV está encostado a um cenário pintado. No quadro, o rei é de verdade, a mesa sobre a qual ele apoia o seu cotovelo direito também é de verdade, a cadeira em que ele está sentado também é de verdade (devia ser a cadeira mais rica que havia no Porto naquele momento), mas o encosto da cadeira, que se vê encimado por uma coroa real, é de faz-de-conta. Os panejamentos que compõem o fundo do quadro também são de faz-de-conta. Este encosto e estes panejamentos são um cenário, semelhante aos dos teatros. Talvez tenha sido o próprio João Batista Ribeiro que pintou este cenário.
É compreensível que, quando D. Pedro IV saiu do Brasil para repor a sua filha Maria da Glória (D. Maria II) no trono de Portugal, que foi usurpado pelo absolutista D. Miguel, tenha deixado o seu trono imperial, lá em Terras de Vera Cruz. O trono de Portugal, esse estava em Queluz e era D. Miguel quem se sentava nele. O trono pintado no retrato de D. Pedro IV é a fingir.
A cidade do Porto tem uma veneração especial por D. Pedro IV, que deixou o seu coração à cidade e lhe pôs o título de Invicta, que quer dizer Invencível. Podemos criticá-lo por mil e uma razões (dizem, por exemplo, que ele era muito mulherengo), mas não é habitual ver-se um rei sair do seu conforto num palácio onde estava rodeado por uma bajuladora corte, para arriscar a sua própria vida lutando pela Liberdade.
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