10 agosto 2024

São Pedro de Moel


São Pedro de Moel vista das antigas piscinas (Foto de autor desconhecido)

Para muitos portugueses, São Pedro de Moel (também grafado Muel, com U) dispensa apresentações. É uma afamada povoação costeira do concelho da Marinha Grande, no centro do país, que cresceu junto a uma praia abrigada do vento norte. São Pedro de Moel encontra-se envolvida pelo não menos famoso Pinhal de Leiria, assim como por escarpas sobre o mar com estratos de belo efeito cenográfico. Apesar de ser uma importante atração turística, São Pedro de Moel ainda não foi, até este momento, desvirtuada do seu caráter de tranquila e requintada estância de veraneio.


Vista sobre a praia de São Pedro de Moel (Foto de autor desconhecido)

Toda a vida de São Pedro de Moel gira em torno da sua praia, que é a sua razão de ser. As ondas do mar são por vezes agitadas e desfazem-se em espuma contras as rochas, a água é fria, as neblinas matinais são frequentes e podem prolongar-se pelo dia fora, mas nada disto importa a quem busca a beleza e o repouso. E nem sempre há nevoeiro e mar agitado em São Pedro de Moel. Mas se por acaso houver, existe sempre a possibilidade de dar uma volta pelo pinhal, que tem recantos paradisíacos e onde a mistura do cheiro da maresia com o perfume da seiva dos pinheiros é inebriante.


Há em São Pedro de Moel muitas casas com pitorescas varandas de madeira (Foto: Pedro Domingues)

Eu poderia ficar aqui a descrever São Pedro de Moel e os seus pontos de interesse, como o monumento a D. Dinis e à Rainha Santa Isabel, o farol do Penedo da Saudade, a casa que foi do poeta Afonso Lopes Vieira, os jardins muito cuidados à sombra dos pinheiros, as casas com belas varandas de madeira na parte mais antiga da povoação, etc. Até poderia referir-me à campeã olímpica Rosa Mota, que costumava viver em São Pedro de Moel durante o inverno, mas não sei se ainda o faz. Prefiro socorrer-me do que José Saramago escreveu no seu livro Viagem a Portugal, que, do pinhal mandado plantar pelo rei D. Dinis, fala deste modo, aposto que a propósito da zona envolvente à Ribeira de Moel:
São Pedro de Muel, visto nesta hora, praia deserta, mar forte batendo, muitas casas fechadas à espera de um tempo estival talvez não tão formoso como este, tem uma atmosfera que tranquiliza o viajante. E nessa disposição vai indagar se não há caminho para a Marinha Grande que lhe permita saborear por mais tempo a mata. Dizem-lhe que, haver, há, mas que o risco de perder-se é certo. Correu o risco, e se se perdeu não deu por isso. Sabe o que ganhou: alguns quilómetros de verdadeiro deslumbramento, a floresta densa por onde a luz entra em feixes, em rajadas, em nuvens, transformando o verde das árvores em ouro palpitante, reconvertido depois o ouro em seiva, nem o viajante sabe para onde olhar. A mata de São Pedro de Muel é incomparável. Outras podem ser mais opulentas de espécies e porte, nenhuma mereceria mais ter, como habitantes, o povo pequenino dos gnomos, fadas e duendes. E está pronto a apostar que um súbito remexer de folhas que ali se viu foi obra de um esperto anãozinho de barrete vermelho.

Dentro da mata contígua a São Pedro de Moel (Foto: Ana Lúcia Pinho)

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