O Panteão dos Lemos, em Trofa do Vouga
Os Lemos foram uma orgulhosa família de senhores de uma povoação situada no concelho de Águeda, chamada Trofa, nome ao qual se acrescenta frequentemente o nome Vouga (Trofa do Vouga), para evitar confusões com uma outra Trofa, que hoje é cidade do distrito do Porto. A família Lemos tinha as suas raízes na Galiza, como o nome claramente sugere, e laços de parentesco com outras personalidades de primeiro plano da nobreza castelhana, o que explica a sua empáfia.
A personalidade que mais se destacou no seio desta família foi Duarte de Lemos (c.1480–1558), que foi o 3.º senhor de Trofa. Duarte de Lemos partiu para a Índia em 1505 com D. Francisco de Almeida, regressou logo a seguir ao Reino e partiu de novo em 1508. Após uma sucessão de acontecimentos que não vêm ao caso, Duarte de Lemos acabou por ser nomeado pelo rei D. Manuel capitão-mor do Mar da Etiópia, Arábia e Pérsia, enquanto Afonso de Albuquerque o foi da Índia.
Duarte de Lemos achou que tinha poucos homens e escassos meios para a vastíssima costa que tinha ficado à sua responsabilidade. Resolveu pedir mais homens e mais naus a Afonso de Albuquerque, que recusou o seu pedido. Duarte de Lemos foi mesmo pessoalmente à Índia (provavelmente a Cochim, onde Albuquerque estaria), mas nem assim obteve uma resposta favorável. Mais: não só Afonso de Albuquerque recusou satisfazer o pedido de Duarte de Lemos, como quis que este o auxiliasse a conquistar Goa. Deve ter havido uma discussão acalorada entre ambos e Duarte de Lemos regressou à sua base (em Socotorá, uma ilha no Oceano Índico em frente à entrada para o Mar Vermelho) sem conseguir o que pretendia. Entretanto, e mesmo sem o apoio de Duarte de Lemos, Afonso de Albuquerque conseguiu conquistar Goa, ainda que com terríveis dificuldades.
O desentendimento entre Duarte de Lemos e Afonso de Albuquerque chegou ao conhecimento do rei D. Manuel, que tomou partido por Albuquerque. D. Manuel retirou a Duarte de Lemos os seus cargos de responsabilidade, ordenou o seu regresso ao Reino e atribuiu esses cargos a Afonso de Albuquerque, que ficou com jurisdição sobre todo o Oceano Índico.
Afonso de Albuquerque não ficou a descansar, saboreando a sua vitória. Conquistou Goa, como já se disse, e também conquistou Calecute, Ormuz, Malaca, Diu, e só não conquistou Adém, à entrada do Mar Vermelho, porque as coisas lhe correram mal, tendo sido ferido no assalto a esta cidade e ficado com um braço inutilizado. Tudo isto ele fez aos 60 anos de idade, mais ou menos, o que no séc. XVI já devia ser uma idade muito considerável! As ambições de Afonso de Albuquerque eram de tal maneira faraónicas, no verdadeiro sentido do termo, que ele chegou a pensar desviar o curso do rio Nilo, para assim fazer vergar o sultão do Cairo, seu principal inimigo!
Duarte de Lemos, por sua vez, regressou a Trofa, certamente zangado com Afonso de Albuquerque e com o rei, mas riquíssimo. Não foi em vão que ele andou pelos mares do Oriente. Duarte de Lemos encomendou um requintado panteão, onde ele pudesse ser sepultado juntamente com os parentes que o tinham antecedido como senhores de Trofa. É o agora chamado Panteão dos Lemos, uma maravilha da arte renascentista, que está na capela-mor da igreja matriz de Trofa do Vouga.
Desconhecem-se os nomes dos autores do Panteão dos Lemos. Apenas se podem fazer conjeturas, falando-se em nomes como João de Ruão, Nicolau de Chanterenne e Hodart, este como possível autor da estátua orante de Duarte de Lemos. Todos estes artistas foram notáveis escultores e arquitetos franceses, que muito vieram enriquecer a arte em Portugal, mas neste caso não se sabe ao certo quem foi que fez o quê.
Para acabar a história, refira-se que, após a conclusão do panteão, Duarte de Lemos partiu para o Brasil e estabeleceu-se numa ilha, que é a ilha onde está agora a cidade de Vitória, capital do estado do Espírito Santo. Duarte de Lemos acabou por morrer no Brasil e foi trasladado para o seu panteão em Trofa do Vouga, onde está sepultado.
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