02 fevereiro 2025

O Panteão dos Lemos, em Trofa do Vouga


Estes são os grupos tumulares do lado da Epístola (lado direito de quem está virado para a capela-mor) do Panteão dos Lemos, em Trofa do Vouga. À esquerda está o túmulo de Duarte de Lemos, com a sua estátua orante, e à direita o de sua esposa, D. Joana de Melo. Na igreja matriz de Góis existe um túmulo semelhante ao de Duarte de Lemos, que é o túmulo de Luis da Silveira e que poderá ser do mesmo autor (Foto de Manuelvbotelho)
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Estes são os grupos tumulares do lado do Evangelho (lado esquerdo de quem está virado para a capela-mor) do Panteão dos Lemos, em Trofa do Vouga, com os túmulos dos dois primeiros senhores de Trofa, Gomes Martins de Lemos e seu filho João Gomes de Lemos, juntamente com as respetivas mulheres (Foto de Manuelvbotelho)
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Pormenor da estátua orante de Duarte de Lemos, no seu túmulo do Panteão dos Lemos, em Trofa do Vouga (Foto: Jgqa56)
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Os Lemos foram uma orgulhosa família de senhores de uma povoação situada no concelho de Águeda, chamada Trofa, nome ao qual se acrescenta frequentemente o nome Vouga (Trofa do Vouga), para evitar confusões com uma outra Trofa, que hoje é cidade do distrito do Porto. A família Lemos tinha as suas raízes na Galiza, como o nome claramente sugere, e laços de parentesco com outras personalidades de primeiro plano da nobreza castelhana, o que explica a sua empáfia.

A personalidade que mais se destacou no seio desta família foi Duarte de Lemos (c.1480–1558), que foi o 3.º senhor de Trofa. Duarte de Lemos partiu para a Índia em 1505 com D. Francisco de Almeida, regressou logo a seguir ao Reino e partiu de novo em 1508. Após uma sucessão de acontecimentos que não vêm ao caso, Duarte de Lemos acabou por ser nomeado pelo rei D. Manuel capitão-mor do Mar da Etiópia, Arábia e Pérsia, enquanto Afonso de Albuquerque o foi da Índia.

Duarte de Lemos achou que tinha poucos homens e escassos meios para a vastíssima costa que tinha ficado à sua responsabilidade. Resolveu pedir mais homens e mais naus a Afonso de Albuquerque, que recusou o seu pedido. Duarte de Lemos foi mesmo pessoalmente à Índia (provavelmente a Cochim, onde Albuquerque estaria), mas nem assim obteve uma resposta favorável. Mais: não só Afonso de Albuquerque recusou satisfazer o pedido de Duarte de Lemos, como quis que este o auxiliasse a conquistar Goa. Deve ter havido uma discussão acalorada entre ambos e Duarte de Lemos regressou à sua base (em Socotorá, uma ilha no Oceano Índico em frente à entrada para o Mar Vermelho) sem conseguir o que pretendia. Entretanto, e mesmo sem o apoio de Duarte de Lemos, Afonso de Albuquerque conseguiu conquistar Goa, ainda que com terríveis dificuldades.

O desentendimento entre Duarte de Lemos e Afonso de Albuquerque chegou ao conhecimento do rei D. Manuel, que tomou partido por Albuquerque. D. Manuel retirou a Duarte de Lemos os seus cargos de responsabilidade, ordenou o seu regresso ao Reino e atribuiu esses cargos a Afonso de Albuquerque, que ficou com jurisdição sobre todo o Oceano Índico.

Afonso de Albuquerque não ficou a descansar, saboreando a sua vitória. Conquistou Goa, como já se disse, e também conquistou Calecute, Ormuz, Malaca, Diu, e só não conquistou Adém, à entrada do Mar Vermelho, porque as coisas lhe correram mal, tendo sido ferido no assalto a esta cidade e ficado com um braço inutilizado. Tudo isto ele fez aos 60 anos de idade, mais ou menos, o que no séc. XVI já devia ser uma idade muito considerável! As ambições de Afonso de Albuquerque eram de tal maneira faraónicas, no verdadeiro sentido do termo, que ele chegou a pensar desviar o curso do rio Nilo, para assim fazer vergar o sultão do Cairo, seu principal inimigo!

Duarte de Lemos, por sua vez, regressou a Trofa, certamente zangado com Afonso de Albuquerque e com o rei, mas riquíssimo. Não foi em vão que ele andou pelos mares do Oriente. Duarte de Lemos encomendou um requintado panteão, onde ele pudesse ser sepultado juntamente com os parentes que o tinham antecedido como senhores de Trofa. É o agora chamado Panteão dos Lemos, uma maravilha da arte renascentista, que está na capela-mor da igreja matriz de Trofa do Vouga.

Desconhecem-se os nomes dos autores do Panteão dos Lemos. Apenas se podem fazer conjeturas, falando-se em nomes como João de Ruão, Nicolau de Chanterenne e Hodart, este como possível autor da estátua orante de Duarte de Lemos. Todos estes artistas foram notáveis escultores e arquitetos franceses, que muito vieram enriquecer a arte em Portugal, mas neste caso não se sabe ao certo quem foi que fez o quê.

Para acabar a história, refira-se que, após a conclusão do panteão, Duarte de Lemos partiu para o Brasil e estabeleceu-se numa ilha, que é a ilha onde está agora a cidade de Vitória, capital do estado do Espírito Santo. Duarte de Lemos acabou por morrer no Brasil e foi trasladado para o seu panteão em Trofa do Vouga, onde está sepultado.

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