11 abril 2025

A torre e ponte de Ucanha


A ponte e torre sobre o rio Varosa em Ucanha, concelho de Tarouca (Foto de autor desconhecido)
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A torre de Ucanha vista do tabuleiro da ponte sobre o rio Varosa. Ucanha, concelho de Tarouca (Foto de autor desconhecido)
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Para aceder à ponte a partir da aldeia de Ucanha, é preciso passar por baixo da torre. Ucanha, concelho de Tarouca (Foto de autor desconhecido)
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Se existe em Portugal uma região que seja riquíssima em património, essa região é a das bacias dos rios Varosa e Távora, afluentes da margem esquerda do rio Douro. Esta região integra os concelhos de Lamego, Tarouca, Moimenta da Beira, Armamar, Tabuaço, Penedono e São João da Pesqueira. Por ela passaram lusitanos e romanos e mouros e cavaleiros e trovadores e almocreves e monges. D. Afonso Henriques doou-a a Egas Moniz, seu aio, como recompensa pela indefetível dedicação demonstrada nos muitos combates que travou ao lado do seu pupilo, que ajudou a tornar-se primeiro rei de Portugal.

Desde os primórdios da Idade Média, instalaram-se nesta região diversos mosteiros, como os de Balsemão, Ferreirim, São Pedro das Águias e outros. Alguns deles tornaram-se particularmente ricos e poderosos, como foi sobretudo o caso dos mosteiros de São João de Tarouca e de Salzedas. A presença de mosteiros nesta região explica-se facilmente. Trata-se de uma região muito fértil, onde desde há muitos séculos se têm cultivado vinhas, pomares, olivais e amendoais, e onde atualmente se produz vinho da mais alta qualidade, com destaque para os espumantes saídos, sobretudo, da Cooperativa do Távora, das Caves da Raposeira e das Caves da Murganheira, estas situadas em Ucanha.

A abundante produção agrícola da região necessitava de escoamento para os locais de consumo. Porém, os rios Varosa e Távora (mais este do que aquele), além de não serem navegáveis, escavaram vales profundos que são difíceis de atravessar em grande parte da sua extensão. As pontes eram poucas e quem as possuía tirava proveito desta vantagem, cobrando portagens pela sua utilização. Foi o caso da ponte de Ucanha, sobre o rio Varosa, a respeito da qual se diz ter sido a primeira ponte com portagem da Península Ibérica.

Há quem afirme ter existido uma ponte romana mais ou menos no mesmo local em que está a atual ponte de Ucanha, pela qual passaria uma estrada igualmente romana. É muito provável que assim tenha sido, mas a ponte que agora está em Ucanha não é romana, mas sim medieval. Na sua configuração atual, a ponte deve ser do séc. XIV. No extremo oriental da ponte, ergue-se uma torre quadrangular, que só por si é digna de admiração.

O rio Varosa era uma das delimitações do couto do mosteiro cisterciense de Salzedas, que foi criado no séc. XII, mas aos monges do mosteiro não bastou terem em Ucanha uma simples ponte sobre o rio, com uma casa num extremo para a cobrança de portagem. Quiseram afirmar de forma irrefutável o seu domínio senhorial sobre aquele pedaço de território, acrescentando à ponte uma façanhuda torre, pronta a enfrentar quem quer que se atrevesse a desafiar este domínio. Quer isto dizer que os monges de Salzedas fizeram construir uma torre que tivesse características guerreiras: a entrada principal não foi feita ao nível do solo, mas alguns metros acima, e no andar mais elevado foram feitos quatro balcões com matacães. Os matacães são buracos feitos no piso dos balcões, por onde se poderia despejar azeite a ferver sobre quem passasse em baixo. Qualquer força hostil que quisesse atravessar a ponte, ficaria frita no azeite fervente despejado do alto da torre. Como se vê, uma torre assim não servia só para guardar os géneros cobrados aos utilizadores da ponte como pagamento de portagem.

No interior da torre não existe qualquer recheio digno de nota, porque este é constituído apenas por algumas peças de mobiliário vulgares. Mesmo assim, vale a pena subir à torre, se a porta estiver aberta, porque é muito bonita a visão que se tem sobre o rio e sobre a ponte, que é vista da torre em perspetiva.

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