23 julho 2025

Pois nossas madres vam a Sam Simom

Pois nossas madres vam a Sam Simom
de Val de Prados candeas queimar,
nós, as meninhas, punhemos d'andar
com nossas madres, e elas entom
          queimem candeas por nós e por si,
          e nós, meninhas, bailaremos i.

Nossos amigos todos lá irám
por nos veer e andaremos nós
bailand'ant'eles fremosas em cós;
e nossas madres, pois que alá vam,
          queimem candeas por nós e por si,
          e nós, meninhas, bailaremos i.

Nossos amigos irám por cousir
como bailamos e podem veer
bailar [i] moças de bom parecer;
e nossas madres, pois lá querem ir,
          queimem candeas por nós e por si,
          e nós, meninhas, bailaremos i.

Pedro Viviães (séc. XIII), segrel português ou galego


GLOSSÁRIO

candeas - velas
punhemos - pugnemos, decidamos
i - aí
em cós - com vestuário leve
alá - lá
cousir - observar


EXPLICAÇÃO

Segundo esta cantiga de amigo, as moças tencionam ir com as suas mães à romaria de São Simão, em Vale de Prados (Macedo de Cavaleiros?), para dançarem, ligeiras, diante dos rapazes, enquanto as suas mães acendem piedosas velas ao santo.


Bailaremos, por Pedro Barroso, versão moderna da cantiga de amigo de Pedro Viviães Pois nossas madres vam a Sam Simom. Desta cantiga, só o poema chegou até aos nossos dias; a música é do próprio Pedro Barroso

Comentários: 4

Blogger Maria João Brito de Sousa escreveu...

Já por cá tinha passado sem deixar rasto. Volto para mais uma vez ouvir o Pedro Barroso
de cuja voz sempre gostei muito.

Um bom fim-de-semana, Fernando.

25 julho, 2025 10:03  
Blogger Fernando Ribeiro escreveu...

A única vez em que ouvi o falecido Pedro Barroso a atuar ao vivo já foi há muitos anos. Se bem me recordo, este ribatejano que era dono de um corpanzil e de uma voz com uma potência a condizer, exprimiu cantando, perante o público que estava presente, o seu entusiasmo emocionado pela música portuguesa, sobretudo pela música popular de raíz. Não me surpreende, por isso, que ele se tenha interessado também pelas cantigas de amigo e pelas cantigas de escárnio e maldizer, porque estas cantigas medievais também fazem parte das raízes da nossa cultura.

Bom fim de semana, Maria João. Resguarde-se do calor, que está a apertar.

26 julho, 2025 02:05  
Blogger Rogério G.V. Pereira escreveu...

Nos dias que correm, há cada vez mais
festivais, festivais, festivais
mas música como esta
nunca,, nunca, nunca mais

Abraço dançado

28 julho, 2025 18:19  
Blogger Fernando Ribeiro escreveu...

Lembrei-me agora de que o Pedro Barroso teve, nos anos 80, um programa semanal de rádio naquela que era, talvez, a mais improvável das estações: a Antena 2, que naquele tempo não se chamava assim, devia chamar-se Programa 2 da RDP ou coisa parecida. O Pedro Barroso passava discos da Brigada Victor Jara, da Ronda dos Quatro Caminhos e de outros agrupamentos semelhantes, entre as sonatas de Beethoven, os quartetos de Haydn e as sinfonias de Mozart... Chegou a entrevistar o grande Michel Giacometti, o musicólogo corso que ensinou os portugueses a descobrir e a gostar da sua própria música popular, grande amigo de Fernando Lopes-Graça.

30 julho, 2025 02:04  

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