A Árvore
Árvore, — amiga constante,
Desde o berço à sepultura!
Bendita a mão que te plante,
Bendita a voz que te cante,
Bendita sejas na altura!
Estende à luz os teus ramos,
Onde a harmonia se gera!
Perfuma o ar que aspiramos…
— Dá-nos flor na primavera!
Cobre de verde folhagem
Teus braços, docel sombrio!
Abranda a calma da aragem…
— Dá-nos a sombra do estio!
Os teus pomos ao Sol cora…
E pensa que ao abandono
Há muita boca que implora:
— Dá-me o teu fruto no Outono!
Em vindo a dura inverneira,
Seja o teu gesto mais terno!
Dá-nos calor na lareira…
— Dá-nos a lenha no inverno!
Bendita seja a constância
Que há na tua proteção!
Árvore, — amor e abundância! —
— Deste-me o berço na Infância!
Dá-me na Morte o caixão!
João Saraiva (1866–1948)
in Líricas e Sátiras, edição Renascença Portuguesa, Porto, 1916
Castanheiros (Foto de autor desconhecido)
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