Vem, cacimbo
Vem, cacimbo
Estende teus dedos anelados sobre a minha carapinha
derrama a tua inconsciente tranquilidade
sobre a minha angústia submergida.
Vem, cacimbo
eu quero ver os cafeeiros ao peso dos bagos vermelhos
endireita os troncos vencidos dos bambus
coroa os cumes altos das serras do Bailundo
limpa a visão empoeirada dos comboios que descem para
[Benguela
nimba poeticamente os horizontes dos camionistas de[Angola.
Vem, cacimbo
debruça-te cuidadosamente sobre as plantas da
[madrugada,
destrói a angústia resignada das gentes da minha terraabre-lhes os horizontes dos cantos de esperança.
Vem, cacimbo
Derrama a tua inquieta saciedade sobre a minha natureza
a esta hora empoeirada com o barulho das esquinas
com o cheiro a óleo sujo dos automóveis
e com a visão daquele nosso amigo
cujo ordenado são quinze escudos diários
irremediavelmente caido sobre a grama do jardim
Ó cacimbo
eu quero percorrer teus campos sossegados
orquestrados pela alegria do beija-flor.
Henrique Guerra (1937–2023), poeta angolano
Cacimbo (do quimbundo kixibu) - Nome dado em Angola à estação do ano seca e fria; na planície litoral do país, sobretudo, esta estação do ano costuma ser caracterizada por nevoeiros, que também são chamados cacimbo, e por nuvens baixas que ocultam o sol por vezes durante semanas
Cacimbo em Angola (foto de autor desconhecido)
Comentários: 1
Ambos excelentes, o poema de Henrique Guerra e a tela de autor desconhecido.
Um abraço!
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