Ornithology
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Tocar música improvisada, de que se é autor e intérprete, em público é sempre mais arriscado e daí mais atractivo para o ouvinte. Ouvê-se jazz. Esta obra de Parker, neste caso e versão, foi gravada (um descaramento reter música que é improvisada e nunca é igual!…) num histórico clube de jazz que existia em Boston, o Storyville. Charles Parker ou Yardbird ou Bird ou Charlie tem como parceiros três músicos que não são muito frequentes ou habituais na sua discografia. Este, com certeza, um grupo de ocasião.”À bateria Roy Haines, que gravou o bastante com Parker para então já ser considerado um excelente percussionista moderno, com swing a puxar para a frente, já lá estava tudo o que se viria a tocar à bateria, depois e até hoje. Em contrabaixo Billy Griggs cumpre, solando em discreto walking, sem se dar por ele. Red Garland ao piano sempre foi exemplar, um típico pianista do be-bop, um fraseado de perfil muito regular, um discurso com muitas palavras, perfeitamente inteligível, lógico e, daí, melódico. Parker em alto fazia o que ninguém na altura fazia (inovador) e hoje ainda todos o citam (mestre). Velocidade e certeza — dedos e cabeça, mais do que cabeça e depois dedos — com Parker as frases saíam como a água sai da nascente ou o petróleo dos poços, com riqueza, naturalidade, força. "Ornithology", que tem a ver com a alcunha de pássaro, sabe a blues e é uma composição típica bop, difícil. Experimentem decorá-la, só faz bem. Reparem na paráfrase de Parker na reexposição do tema, faz ainda melhor.
José Duarte (1938–2023)
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