Prelúdio
Pela estrada desce a noite
Mãe-Negra desce com ela.
Nem buganvílias vermelhas,
nem vestidinhos de folhos,
nem brincadeiras de guizos
nas suas mãos apertadas…
Só duas lágrimas grossas,
em duas faces cansadas.
Mãe-Negra tem voz de vento,
voz de silêncio batendo
nas folhas do cajueiro…
tem voz de noite descendo
de mansinho pela estrada.
… Que é feito desses meninos
que gostava de embalar?
Que é feito desses meninos
que ela ajudou a criar?
Quem ouve agora as histórias
que costumava contar?…
Mãe-Negra não sabe nada.
Mas ai de quem sabe tudo,
como eu sei tudo,
Mãe-Negra…
É que os meninos cresceram,
e esqueceram
as histórias
que costumavas contar…
Muitos partiram pra longe,
quem sabe se hão de voltar!…
Só tu ficaste esperando,
mãos cruzadas no regaço,
bem quieta, bem calada…
É tua a voz deste vento,
desta saudade descendo
de mansinho pela estrada…
Alda Lara (1930–1962), poetisa angolana
Estrada rural na província de Benguela, Angola (Foto: Samuel Sambaly)
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