Ode ao futebol
Rectângulo verde
meio de sombra
meio de sol
vinte e dois em cuecas
jogando futebol
correndo
saltando
ziguezaguando
ao som dum apito
dum homem magrito
-- também em cuecas --
e mais dois carecas
com uma bandeira
de cá para lá
de lá para cá
Bola ao centro
bola fora
fora o árbitro
E a multidão
lá do peão
gritava
berrava
gesticulava
e a bola coitada
rolava no verde
rolava no pé
de cabeça
em cabeça
a bola não perde
um minuto sequer
e zumbindo no ar
como um besoiro
toda redonda
toda bonita
vestida de coiro
O árbitro corre
o árbitro apita
O público grita
bola nas redes
Laranjadas
pirolitos
asneiras
palavrões
damas frenéticas
gordas
esqueléticas
esganiçadas aos gritos
todos à uma
todos ao um
ao árbitro roubam o apito
Entra a guarda
entra a polícia
os cavalos a correr
os senhores a esconder
uma cabeça aqui
um pé acolá
ancas
coxas
pernas
pé
cabeças no chão
cabeças de cavalo
cavalos sem cabeça
com os pés no ar
fez-se em montão
a multidão.
E uma dama excitada
que era casada
com um marido
distraído
no meio da bancada
que estava à cunha
tirou-lhe um olho
com a própria unha
À unha, à unha!
ânimos ao alto!...
E no fim
perdeu-se o campeonato!
Tóssan (António Fernando dos Santos, 1918-1991)
Um desenho de Tóssan
Comentários: 1
Muito bom!
Girassóis nos seus dias.
Beijos
Enviar um comentário