26 julho 2012

Árvores do Alentejo

Horas mortas... Curvada aos pés do monte
A planície é um brasido... e, torturadas,
As árvores sangrentas, revoltadas,
Gritam a Deus a bênção duma fonte!

E quando, manhã alta, o sol posponte
A oiro a giesta, a arder, pelas estradas,
Esfíngicas, recortam desgrenhadas
Os trágicos perfis no horizonte!

Árvores! Corações, almas que choram,
Almas iguais à minha, almas que imploram
Em vão remédio para tanta mágoa!

Árvores! Não chorais! Olhai e vede;
— Também ando a gritar, morta de sede,
Pedindo a Deus a minha gota de água!
Florbela Espanca (1894-1930)


(Foto de autor desconhecido)

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