11 fevereiro 2015

Angola nos trilhos da independência


Vídeo sobre as gravações feitas na província do Bengo para o projeto Angola nos Trilhos da Independência


Angola nos Trilhos da Independência é um projeto de Paulo Lara e da Associação Tchiweka de Documentação (ATD), em colaboração com a empresa angolana de audiovisual Geração 80. Este projeto tem por finalidade pesquisar e recolher, em vídeo e áudio, testemunhos orais de pessoas que tomaram parte, direta ou indiretamente, em Angola ou no estrangeiro, na guerra de libertação de Angola, entre 1961 e 1974.

O projeto Angola nos Trilhos da Independência teve início em 2010, prevendo-se que seja feita a sua apresentação final, como produto acabado, em 11 de novembro de 2015, 40º aniversário da proclamação da independência de Angola. Até agora, foram feitas 900 horas de gravações com cerca de 700 testemunhos.

O projeto Trilhos, como mais abreviadamente é chamado, faz lembrar imediatamente essa outra empresa que é a série de reportagens televisivas A Guerra, do jornalista português Joaquim Furtado. Há diferenças e semelhanças entre o projeto Trilhos e a série A Guerra:

— Tanto o Trilhos como A Guerra, pretenderam constituir um acervo de testemunhos e informações diretas e pessoais, prestadas pelos próprios protagonistas do conflito, que em Portugal é chamado guerra colonial e nas antigas colónias guerra de libertação;

— A série A Guerra pretendeu abranger as três frentes do conflito em que as Forças Armadas Portuguesas estiveram envolvidas, a saber, Angola, Moçambique e Guiné-Bissau; o projeto Trilhos debruça-se unicamente sobre a guerra em Angola;

— Em A Guerra, Joaquim Furtado procurou ouvir, de forma mais ou menos equitativa, protagonistas de ambos os lados do conflito; em Trilhos sobressaem, pelo que me foi dado ver até agora, os testemunhos do lado angolano, quase sempre de antigos guerrilheiros e de pessoas que viveram nas regiões que foram palco da guerra;

— Com A Guerra, Joaquim Furtado terá querido realizar um documento histórico factual (sem o conseguir completamente, aliás); com Trilhos, Paulo Lara e os seus companheiros terão desejado fazer um documento empenhado, que enalteça o sentimento patriótico angolano.

No que a Angola diz respeito, tanto A Guerra como Trilhos dão um excessivo realce à ação de um dos movimentos de libertação, o MPLA, em detrimento dos outros dois. Este realce pode não ter sido intencional, mas existe e é evidente. A série A Guerra chega a deixar a impressão, a quem a veja, que à data de 25 de abril de 1974 a FNLA praticamente já não combatia as Forças Armadas Portuguesas, o que é falso. No dia em que se deu a Revolução dos Cravos, era precisamente no Norte (FNLA), assim como em Cabinda (MPLA), que se travavam os combates mais intensos em Angola.

No caso do projeto Trilhos, o próprio mentor do projeto, general Paulo Lara, é filho do dirigente histórico do MPLA Lúcio Lara, e é ele mesmo quem afirma, em entrevista ao site Rede Angola, que mais de metade dos entrevistados para o projeto foram do MPLA.

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