30 setembro 2019

O soldado morto

Os infinitos céus fitam seu rosto
absoluto e cego
E a brisa agora beija a sua boca
Que nunca mais há de beijar ninguém.

Tem as duas mãos côncavas ainda
De possessão de impulso de promessa.
Dos seus ombros desprende-se uma espera
Que dividida na tarde se dispersa.

E a luz, as horas, as colinas
São como pranto, em volta do seu rosto
Porque ele foi jogado e foi perdido
E no céu passam aves repentinas.

Sophia de Mello Breyner Andresen (1919–2004)



Pai de um militar português morto na Guerra Colonial e condecorado a título póstumo (Foto de autor desconhecido)

Comentários: 0

Enviar um comentário