Entrei no café com um rio na algibeira
Entrei no café com um rio na algibeira
e pu-lo no chão,
a vê-lo correr
da imaginação…
A seguir, tirei do bolso do colete
nuvens e estrelas
e estendi um tapete
de flores
a concebê-las.
Depois, encostado à mesa,
tirei da boca um pássaro a cantar
e enfeitei com ele a Natureza
das árvores em torno
a cheirarem ao luar
que eu imagino.
E agora aqui estou a ouvir
A melodia sem contorno
Deste acaso de existir
—onde só procuro a Beleza
para me iludir
dum destino.
José Gomes Ferreira (1900–1985)
(Foto: Paulo Videira da Costa)
Comentários: 6
Não conhecia este poema do JGF. Conquistou-me o título, de imediato. Depois o rio foi-me inundando até à última palavra.
Abraço!
Vou tentar descobrir
quem cante isto
acabo de decidir
passar a ser meu hino
"Roubei" o título deste poema do Zé Gomes Ferreira e teci-o à minha maneira... :)
Claro está que identifiquei o primeiro verso como sendo de JGF.
Um eterno prayer ler um grande poeta!
Obrigado por esta partilha poética.
*prazer
Está visto que José Gomes Ferreira escreveu este poema à mesa de um café, e que estava inspiradíssimo. Foi um grande poeta, sem dúvida nenhuma, e nós somos uns privilegiados por podermos lê-lo.
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