08 janeiro 2024

Há palavras que nos beijam

Há palavras que nos beijam
Como se tivessem boca.
Palavras de amor, de esperança,
De imenso amor, de esperança louca.

Palavras nuas que beijas
Quando a noite perde o rosto;
Palavras que se recusam
Aos muros do teu desgosto.

De repente coloridas
Entre palavras sem cor,
Esperadas inesperadas
Como a poesia ou o amor.

(O nome de quem se ama
Letra a letra revelado
No mármore distraído
No papel abandonado)

Palavras que nos transportam
Aonde a noite é mais forte,
Ao silêncio dos amantes
Abraçados contra a morte.

Alexandre O'Neill (1924–1986)


(Composição gráfica de autor desconhecido)

Comentários: 2

Blogger CCF escreveu...

Tão bom!

09 janeiro, 2024 23:32  
Blogger Fernando Ribeiro escreveu...

Sem dúvida, cara CCF. Este poema de Alexandre O'Neill revela uma enorme sensibilidade. É muito bom saboreá-lo.

10 janeiro, 2024 01:53  

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