Dez anos de saudade
MÃE
Mãe:
Que desgraça na vida aconteceu,
Que ficaste insensível e gelada?
Que todo o teu perfil se endureceu
Numa linha severa e desenhada?
Como as estátuas, que são gente nossa
Cansada de palavras e ternura,
Assim tu me pareces no teu leito.
Presença cinzelada em pedra dura,
que não tem coração dentro do peito.
Chamo aos gritos por ti — não me respondes.
Beijo-te as mãos e o rosto — sinto frio.
Ou és outra, ou me enganas, ou te escondes
Por detrás do terror deste vazio.
Mãe:
Abre os olhos ao menos, diz que sim!
Diz que me vês ainda, que me queres.
Que és a eterna mulher entre as mulheres.
Que nem a morte te afastou de mim!
Miguel Torga (1907–1995)
Comentários: 3
Lindo poema.
A minha, faleceu há pouco mais de um ano. As saudades são diárias.
Boa semana:))
Obrigado, Isabel. A minha mãe era uma guerreira, dotada de uma fibra que eu não tenho. Nós, homens. julgamo-nos uns valentões, mas em comparação não passamos de uns mariquinhas.
Ah!Ah!Ah!
Temos dias...homens e mulheres!
Boa semana:))
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