Música africana para este fim de semana
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«É a fraqueza do homem que o torna sociável; são as nossas misérias comuns que levam os nossos corações a interessar-se pela humanidade: não lhe deveríamos nada, se não fôssemos homens. Todos os afetos são indícios de insuficiência: se cada um de nós não tivesse necessidade dos outros, nunca pensaria em unir-se a eles. Assim, da nossa própria enfermidade, nasce a nossa frágil felicidade. Um ser verdadeiramente feliz é um ser solitário; só Deus goza de uma felicidade absoluta; mas qual de nós faz uma ideia do que isso seja? Se algum ser imperfeito se pudesse bastar a si mesmo, de que desfrutaria ele, na nossa opinião? Estaria só, seria miserável. Não posso acreditar que aquele que não precisa de nada possa amar alguma coisa; não acredito que aquele que nada ama se possa sentir feliz.»
«As cartas de amor começam sem saber o que se vai dizer, e terminam sem saber o que se disse.»
«O verdadeiro fundador da sociedade civil foi o primeiro que, tendo cercado um terreno, se lembrou de dizer "isto é meu" e encontrou pessoas suficientemente simples para acreditá-lo. Quantos crimes, guerras, assassínios, misérias e horrores não pouparia ao género humano aquele que, arrancando as estacas ou enchendo o fosso, tivesse gritado aos seus semelhantes: "Defendei-vos de ouvir esse impostor; estareis perdidos se esquecerdes que os frutos são de todos e que a terra não pertence a ninguém".»
«A fingida caridade do rico não passa, da sua parte, de mais um luxo; ele alimenta os pobres como cães e cavalos.»
«Nunca se conseguirá ser sábio se primeiro não se foi traquinas.»
«De todos os animais, o homem é aquele a quem mais custa viver em rebanho.»
«A inocência não se envergonha de nada.»
S. João, a festa do povo
Longe de qualquer tradição religiosa, o S. João é o cheiro a gente, a poesia popular e a paixão eternizada pelo erotismo dos cravos, outrora oferecidos às raparigas.
As ruas enchem-se de transeuntes que, em ritmo de passeio, aproveitam para dar uma ou outra martelada na cabeça do vizinho, mas poucos são aqueles que conhecem as verdadeiras origens do S. João, no qual a sardinha assada não é rainha.
“Ver o sol nascer, apanhar as orvalhadas e saltar às fogueiras”
As verdadeiras origens da festa estão intimamente ligadas ao culto do sol, da natureza, do fogo e da fecundidade. Segundo Hélder Pacheco, as referências às festas de S. João começaram a sentir-se nitidamente no século XIX. “A cidade era, então, mais pequena”, recorda, explicando que, na altura, o S. João consistia em três festas: uma no Bonfim, uma na Lapa e outra em Cedofeita.
Ainda assim, rapidamente se transformou numa “festa de ruas, ruelas e bairros”. Hélder Pacheco contou até que estão arquivados, na cidade, centenas de milhares de pedidos de autorização para a realização de arraiais, nos mais diversos sítios.
Apesar de, atualmente, o cheiro a sardinhas assadas ser um dos odores mais fortes do S. João, “o prato típico era o anho ou o cabrito assado com batatas”. “A sardinha nada tem a ver com a tradição do S. João do Porto. É a feira popular que a adiciona à festa”, garantiu. O historiador revelou ainda que, no espírito original da festividade, “o S. João é ver o nascer do sol, apanhar as orvalhadas e saltar às fogueiras”, ações ligadas aos cultos da natureza e da fertilidade. De salientar ainda a forte presença do culto das plantas, que atribuiu uma simbologia a cada uma delas. “O alho porro transformou-se num protetor e o cravo, por exemplo, era oferecido pelos homens às mulheres, tendo um significado erótico”, contou Hélder Pacheco.
“O S. João nunca foi uma festa católica”
Errado é também pensar que esta festa, de cores, cheiros e sabores, apresenta uma base religiosa, em homenagem a um santo. “O S. João nunca foi uma festa católica”, explicou, à Viva, o historiador Hélder Pacheco. “É uma festa pagã, dedicada ao solstício de Verão”, acrescentou, frisando que, ao contrário do que se podia ler numa campanha espalhada pela cidade do Porto, o S. João não tem 100 anos. “As referências [à festa] são da Idade Média. Já Fernão Lopes falou do S. João. O que se verificou há 100 anos foi a escolha do feriado”, apontou Hélder Pacheco.
O historiador explicou, então, que a Igreja, “muito habilmente, fez coincidir a festa do nascimento de S. João Batista com a data do solstício”, de modo a atribuir-lhe um cariz religioso. (...)
As nossas frases estão cheias de picadasManuel Alegre
de minas a explodir nos substantivos
por dentro do silêncio há emboscadas
não sabemos sequer se estamos vivos.
Os helicópteros passam nas imagens
a meio de uma vírgula morre alguém
e os jipes destruídos estão nas margens
do papel onde talvez para ninguém
se vão escrevendo estas mensagens.
Ano de 1972, Angola em guerra, Angola em progresso! Vivia-se a grande euforia económica. O empresário Pais dos Santos, alma virtuosa, nela albergava o maior potentado do mundo capitalista à escala portuguesa, ramificando os seus negócios lícitos e ilícitos de norte a sul daquela província ultramarina. Investia, lucrava, investia, até que, investe contra ele o marginal Trafaria – professorado em vigarice e mestrado em crime. Entram em confronto clandestino. O mundo subterrâneo dos fora-da-lei e da corrupção agita-se. Trafaria rouba-lhe o sossego, o devaneio amoroso, a pista dos diamantes, e não satisfeito, rapta-o e leva-o com o filho adoptivo para o deserto de Moçâmedes. A notícia deste insólito e trágico acontecimento rebenta como uma bomba junto dos angolanos. A polícia promete eficácia e o confronto dá-se. Só que, nesta rocambolesca aventura, o crime compensou o Trafaria que desapareceu de África no momento exacto.