Uma bailarina de peso
Até aqui, foi uma brincadeira. Agora a sério.
Quando se conhece Monk tudo na sua música soa a estranho, a novo, a desafinado, a fora de tempo. O próprio swing parece estar ausente. Nada é imediato nas artes de Monk. As dissonâncias, os tempos atrasados, distorcidos, as harmonias rebuscadas, as melodias filhas desta anti-ordem toda, tudo isto é o mundo onde se tem de viver com Monk. Passada que esteja a porta, tudo lá dentro soa bem e admirável.”Esta é a versão primeira de um dos temas mais aplaudidos da sua vasta e riquíssima herança musical. Art Blakey, sempre ele, impõe um tempo vertical, meio desequilibrado para a frente, como é ideal para Monk e Monk expõe o assunto, repetido a seguir pelos outros. Monk sola com escassez de notas, simples e difícil, como Basie ou Ellington. Sahib Shihab e Milt Jackson dão a sua opinião, um bem e o seguinte melhor e tudo, à maneira clássica, com o recado do tema repetido. É uma das primeiras lições do curso secundário de jazz.
Jorge Barradas frequentou a Escola Superior de Belas-Artes de Lisboa, mas não concluiu o curso. Podemos dizer que ele foi, de certo modo, um autodidata, que foi aprendendo no convívio que teve com outros artistas, como Almada Negreiros, Cristiano Cruz, José Pacheko, Stuart Carvalhais etc. Faleceu em 1971, também na cidade de Lisboa.
Nas primeiras décadas da sua vida artística, Jorge Barradas foi um frequentador assíduo da noite lisboeta, que documentou com um traço influenciado pelo estilo Art Déco. Colaborou em inúmeras publicações, com particular destaque para uma revista chamada "ABC", para a qual criou capas inesquecíveis ao longo da década de 1920.
Podemos dizer que ninguém mais do que ele, em Portugal, conseguiu retratar com tanta fidelidade a década que ficou conhecida como "Os Loucos Anos 20", em que mulheres de saias curtas e penteado à garçonne dançavam o charleston nos clubes noturnos da capital portuguesa.
As pessoas tiveram tanto medo que fugiram, mas como gostavam tanto de morar ali, e o lugar é deveras bonito, iam dizendo:
— Que pena, que pena termos de sair daqui!
E foram construir as suas casas numa aldeia, no fundo de um vale de difícil acesso, onde a serpente não lhes conseguisse chegar com facilidade. Diz-se que, por isso, chamaram Pena ao lugar para onde fugiram. Mas alguns não quiseram ir para longe dali e ficaram em Covas do Rio, por isso tinham que levar, todos os dias, uma rês ao pé do rio, para a serpente não os comer a eles.
Certo dia, uma menina levava uma rês lá para o sítio onde a serpente ia beber; e ia a chorar com muito medo, quando encontrou um barbeiro, que andava a cortar as barbas de aldeia em aldeia. Então, o barbeiro perguntou-lhe porque é que ia a chorar e ela contou-lhe o que se estava a passar. O barbeiro disse-lhe que não chorasse mais, que ele havia de matar a serpente e quis saber por onde é que ela passava, quando ia beber ao rio. A menina mostrou-lhe o caminho e o barbeiro afiou bem muitas facas e colocou-as em jeito de escamas, de tal maneira que, nesse mesmo dia, quando a serpente desceu para ir beber ao rio, passou em cima das navalhas, mas não se cortou, só que quando voltou a subir, cortou se toda, o sangue corria pelo rio abaixo e ela morreu.
Ainda hoje lá se pode ver a cova da serpente e os restos das paredes das casas, que as pessoas tiveram de abandonar para salvarem as suas vidas.
”Pela estrada desce a noite
Mãe-Negra desce com ela.
Nem buganvílias vermelhas,
nem vestidinhos de folhos,
nem brincadeiras de guizos
nas suas mãos apertadas…
Só duas lágrimas grossas,
em duas faces cansadas.
Mãe-Negra tem voz de vento,
voz de silêncio batendo
nas folhas do cajueiro…
tem voz de noite descendo
de mansinho pela estrada.
… Que é feito desses meninos
que gostava de embalar?
Que é feito desses meninos
que ela ajudou a criar?
Quem ouve agora as histórias
que costumava contar?…
Mãe-Negra não sabe nada.
Mas ai de quem sabe tudo,
como eu sei tudo,
Mãe-Negra…
É que os meninos cresceram,
e esqueceram
as histórias
que costumavas contar…
Muitos partiram pra longe,
quem sabe se hão de voltar!…
Só tu ficaste esperando,
mãos cruzadas no regaço,
bem quieta, bem calada…
É tua a voz deste vento,
desta saudade descendo
de mansinho pela estrada…
No outono,
Quando a vinha se ensanguenta
E as folhas caem com sono
Sobre a terra lamacenta,
O sol,
Ao romper a madrugada,
Derrama um frouxo arrebol
Num céu de cinza molhada.
O frio,
Que vem das serras distantes,
Semeia escamas brilhantes
Nas águas turvas do rio;
Murmura
A carvalheira plangente,
E a escassa luz do nascente
Não alumia, de escura.
Depressa,
O dia passa, embuçado…
E quando a noite começa,
Envolta em luto pesado,
A nossa melancolia
Diz-nos que a morte é um sono.
E a vida a imagem de um dia
Do outono!
Pela oficina de Jorge Afonso, em Lisboa, passaram alguns discípulos que vieram a tornar-se, eles também, grandes pintores do Renascimento português: Gregório Lopes, Cristóvão de Figueiredo, Gaspar Vaz, Grão Vasco, etc.
Entre outras obras, são atribuídos a Jorge Afonso os painéis da charola do Convento de Cristo, em Tomar, os do retábulo que estava no convento da Madre de Deus, em Lisboa, e que agora está no Museu Nacional de Arte Antiga e, muito provavelmente, os do retábulo do Convento de Jesus, em Setúbal.
Era uma vez uma aldeia onde toda a gente vivia bem, tinham campos e hortas, criação de porcos e galinhas, vacas e outros animais, mas era gente muito agarrada, na dava nada a ninguém.”Um dia chegou lá uma pobre mulher, muito magrinha e muito esfarrapadinha, a pedir. Batia a uma porta, nada. Batia a outra, também nada. Até que chegou à casa mais rica e como na lhe dessem nada de comer pediu que ao menos lhe deixassem dormir no palheiro. Assim foi. Ficou a dormir no palheiro, de dia saía p’ró campo e à noite voltava. Ninguém sabia o que ela andava a fazer, mas começou a ficar mais gordinha.
Ora, ao mesmo tempo, nunca mais as galinhas punham ovos e começaram a desaparecer galinhas e pintos dos galinheiros e também bacorinhos dos chiqueiros, umas vezes num lado, outras vezes no outro. Não foi preciso mais nada para deitarem culpas à tal mulher.
Ela negava tudo, chorava e jurava que não era ela. Mas não acreditaram e puseram-na na rua. Foi-se embora, nunca mais ninguém a viu, mas os animais continuaram a desaparecer na mesma.
Então as pessoas começaram a guardar os animais dentro de casa e os mais ricos dentro dos armazéns. Mesmo de dentro do armazém desapareciam galinhas, pintos e patos todas as noites. Os donos revistaram tudo muito bem e descobriram um buraco não muito grande, escavado na porta do armazém. Lá muito de noite foram à porta e pregaram uma tábua a tapar o buraco.
No dia seguinte, quando abriram a porta, o que haviam de ver? Saltou-lhes uma grande cobra, muito gorda, com a barriga inchada, a acometer contra eles. Deram-lhe com um grande varapau e depois de muita pancada a cobra deu um grande grito e transformou-se na tal mulher. Disse-lhes que estava encantada e andava a correr o seu fadário, mas que eles tinham redobrado o tempo da sua pena e que havia de vingar-se. Aí, deu um grande salto e atirou-se contra eles com umas grandes garras estendidas, parecia uma fera. Os homens fugiram espavoridos.
Passado isto, quando as pessoas dali iam vender coisas ao mercado, se saíam de casa ainda de noite e sozinhas, às vezes apareciam mortas nos caminhos, estranguladas. Deitaram as culpas à mulher-cobra. O que é que haviam de fazer? Pensaram que era melhor deixarem coisas de comer no caminho à saída da terra, e assim foi. Deixavam o comer à noitinha e no dia seguinte, nada. Tinha desaparecido tudo. Nunca mais ninguém apareceu morto. Passou muito tempo, foram sete anos, até que um dia de manhãzinha viram na estrada a comida que lá tinham posto na véspera e ao lado a pele duma grande cobra, tão grande que metia pavor.
Então a mulher-cobra desapareceu de vez e nunca mais lá voltou. Bendito e louvado, o meu conto acabou.
Mia madre velida,
vou-m'a la bailia
do amor.
Mia madre loada,
vou-m'a la bailada
do amor.
Vou-m'a la bailia
que fazem em vila
do amor.
[Vou-m'a la bailada
que fazem em casa
do amor.]
Que fazem em vila
do que eu bem queria
do amor.
Que fazem em casa
do que eu muit'amava
do amor.
Do que eu bem queria;
chamar-m'-am garrida
do amor.
Do que eu muit'amava;
chamar-m'-am perjurada
do amor.
A intenção que preside ao desenvolvimento da IA consiste em fazer máquinas que emulem por meios eletrónicos o funcionamento do cérebro humano, e até que o ultrapassem, por exemplo na velocidade de "raciocínio". Isto não se consegue com processadores semelhantes aos que até agora têm estado — e continuarão a estar — no "coração" dos nossos computadores, telemóveis, "smart TV" e outros dispositivos digitais (processadores chamados CPU ou "central processing units"), nem mesmo com processadores gráficos (chamados GPU ou "graphics processing units"), mas sim com recurso a redes neuronais artificiais, criadas especificamente para o efeito. As redes neuronais artificiais (há quem lhes chame neurais) são redes de processadores, batizados de "neurónios", que são bastante simples na sua arquitetura interna, mas que são em grande quantidade, os quais comunicam uns com os outros de maneira a formarem uma densa rede de trocas de informações. O que se pretende, ao construir redes neuronais artificiais, é imitar as redes de neurónios que compõem um sistema nervoso biológico, como o dos seres humanos. Porém, existem muitas diferenças.
Os circuitos biológicos presentes no sistema nervoso dos organismos vivos funcionam por meio de fluxos de iões, que são átomos ou moléculas com carga elétrica positiva ou negativa, por terem eletrões a mais ou a menos. Os iões são movimentados de dentro das células para fora e vice-versa, ou então são retidos nas células ou fora delas para utilização ulterior, quando houver oportunidade para isso.
Por seu lado, e tal como o nome indica, a eletrónica, seja ela digital ou analógica, funciona por meio de fluxos de eletrões, que são partículas subatómicas com carga elétrica negativa, que se fazem movimentar de um lado para o outro sob a forma de correntes elétricas, ou então são armazenadas sob a forma de cargas elétricas para ulterior utilização, em dispositivos chamados condensadores, no Brasil capacitores.
Esta comparação entre circuitos biológicos e circuitos eletrónicos, tal como está descrita, é demasiado simplista, é verdade que sim, mas o que importa sublinhar é o que estes circuitos têm em comum: a utilização de cargas elétricas como veículos de processamento e comunicação, independentemente de estas cargas serem iónicas ou eletrónicas.
Quase todas as células, sejam elas nervosas ou não, estão envolvidas por uma membrana, exceto no caso das amibas, que são seres unicelulares sem membrana. A membrana de uma célula protege-a das agressões exteriores, mas não é totalmente impermeável. Possui pequeníssimos poros, através dos quais a célula efetua trocas de iões com o exterior. No caso dos neurónios, concretamente, estes comunicam através de poros existentes nas suas sinapses com as células suas vizinhas, células vizinhas estas que podem ser outros neurónios, podem ser células musculares (a jusante) ou então células sensoriais, que transformam a luz, o som, o paladar, o olfacto, o tacto, etc. em impulsos elétricos (a montante).
Se aproximarmos um dedo de uma chama, por exemplo, as células receptoras da dor que estão no dedo enviam um sinal de alarme, que o sistema nervoso comunica ao cérebro. Este, ao interpretar o sinal recebido como sendo de dor, envia de volta um sinal às células musculares envolvidas no movimento do braço, para que estas retirem imediatamente o dedo da chama. Entretanto, as células olfativas poderão comunicar ao cérebro a sensação de cheiro a carne assada… Enquanto tudo isto acontece, as células do cérebro associadas à memória registam o incidente como tendo sido desagradável (no mínimo), e o cérebro começa a evitar a proximidade do fogo, porque passa a achar que ele é perigoso. O cérebro aprende mais uma lição.
Como se verifica pelo exemplo dado, o órgão principal de um sistema nervoso biológico é o cérebro, que sente, comanda, memoriza, deduz e decide. O cérebro é um emaranhado extremamente complexo de milhares de milhões de neurónios, cada um dos quais possui milhares de sinapses! Tudo dentro do espaço de um crânio! Como se poderá replicar um órgão tão extraordinário num equivalente artificial? Não pode. Ainda por cima, falta considerar outros aspetos que também envolvem o cérebro e que também fazem parte da inteligência humana: os sentimentos, as emoções, a intuição, a criatividade, os afetos, etc. O que se tem tentado fazer, é procurar replicar, por meios eletrónicos, algumas das características dedutivas e indutivas do raciocínio presente num cérebro biológico.
Os sinais presentes nas células de um sistema nervoso biológico são constituídos por sequências de impulsos elétricos. Todos estes impulsos têm aproximadamente a mesma forma e a mesma amplitude. O interior de um neurónio biológico em repouso encontra-se a uma diferença de potencial, relativamente ao meio envolvente, que é da ordem dos -70 mV (0,07 Volts negativos); diz-se então que a célula está polarizada. Quando passa um impulso pela célula, o interior desta atinge momentaneamente uma diferença de potencial de cerca de +30 mV (0,03 Volts positivos) relativamente ao exterior; então diz-se que a célula ficou despolarizada. Na passagem de -70 mV para +30 mV, a variação total de potencial é da ordem dos 100 mV, que é uma barbaridade, porque a membrana é extremamente fina. De facto, a membrana é sujeita a uma diferença de potencial tão extrema, que esta equivale à aplicação de vários milhares de Volts entre os dois lados de uma folha de papel! Se aplicássemos esta diferença de potencial a uma folha de papel, ela não resistiria, romper-se-ia instantâneamente e o papel acabaria por se desfazer em fumo. Pois uma membrana celular tem características dielétricas (isoladoras) tais, que é capaz de resistir sem se danificar!
A amplitude dos impulsos transmitidos por um neurónio biológico não é importante para a informação por eles veiculada. O que é importante é a frequência dos impulsos, isto é, a quantidade de impulsos que passam pelo neurónio num determinado período de tempo. Forneçamos um exemplo do que acontece: se quisermos agarrar um objeto com força, o nosso cérebro irá emitir uma sequência de impulsos dirigida aos músculos da nossa mão, para que estes fiquem contraídos e mantenham o objeto agarrado; a partir do momento em que o cérebro deixar de emitir impulsos aos músculos, estes ficam relaxados e o objeto cai ao chão. Outro exemplo: um clarão luminoso irá levar o nervo ótico a enviar para o cérebro uma sequência de impulsos; o cérebro entenderá então que está a ver um clarão; assim que o nervo ótico deixar de enviar impulsos, o cérebro perceberá que se restabeleceu a escuridão.
Para os sinais usados nas redes neuronais artificiais, por outro lado, é a amplitude dos sinais que é importante e não a sua frequência. Na generalidade dos sistemas eletrónicos digitais, a amplitude dos sinais só pode tomar o valor 0 (habitualmente correspondente a 0 Volts) e o valor 1 (habitualmente correspondente à tensão com que o circuito é alimentado, que pode ser de 3V, 2V, 5V ou outro valor). Nas redes neuronais artificiais, porém, os sinais veiculados através das sinapses (que ligam dois neurónios de diferentes camadas) não só podem tomar os valores 0 e 1, como podem tomar qualquer valor intermédio, por exemplo 0,7. Este valor, a que se convencionou chamar "peso", é um valor atribuído pelo próprio neurónio a cada um dos sinais que receber. Quanto maior for o peso, maior será a importância do sinal. Se o peso atribuído for bastante pequeno, isso quererá dizer que o sinal terá uma influência desprezível sobre o resultado e por isso poderá ser descartado. Um sinal que estiver abaixo de um dado limiar, portanto, passa automaticamente a zero e não conta para nada.
De um modo geral e como ponto de partida, os neurónios da camada de entrada só poderão tomar os valores 0 ou 1 (que podem ser arbitrários ou não), os quais virão a ser modificados a jusante para valores intermédios com a atribuição de pesos. Os sinais presentes nos neurónios da camada de saída também são arredondados para 0 ou 1, conforme estiverem abaixo ou acima de um dado limiar, quanto mais não seja porque a rede neuronal está inserida num sistema digital.
Nós vivemos na era da informação. Os sistemas de inteligência artificial que atualmente existem são mastodônticas redes neuronais. Além disso, memorizam uma aterradora quantidade de dados, que são imagens (fixas e em movimento), textos, sons e tudo o mais que for considerado potencialmente útil ou vantajoso do ponto de vista económico. Tudo isto é reunido e memorizado em data centres, com vista a ser trabalhado pela IA, com resultados que são tão surpreendentes que até parecem milagre. É o que fazem o popular ChatGPT e os sistemas de IA da Google, da Microsoft, da Apple, da Meta, etc. Estamos a falar de sistemas que enchem edifícios e edifícios inteiros de equipamento e que consomem uma quantidade astronómica de energia. Só para dar uma ideia do gigantismo que a IA já atingiu, lembremos que a Google pretende construir pequenas centrais nucleares, só para alimentar a sua insaciável IA! Este crescimento não pode continuar indefinidamente. Um limite terá que aparecer mais tarde ou mais cedo, dê lá por onde der.
A inteligência artificial está na moda, sem dúvida. As pessoas recorrem a ela para os mais diversos fins e sentem-se satisfeitíssimas com os resultado obtidos. A presente euforia em relação à IA leva-as a julgar que estão na presença de uma forma de inteligência infalível e que tem respostas para tudo, porque acham que os computadores não erram. Puro engano. A IA é, pelo menos, tão falível como os seres humanos que a criaram. Ela até sofre, por vezes, de "alucinações" e debita respostas disparatadas, sem pés nem cabeça. Não se pode confiar cegamente na inteligência artificial. É preciso manter um espírito crítico, sempre e em todas as circunstâncias. No dia em que a humanidade deixar de pensar, porque julga que as máquinas pensam melhor do que ela, transformar-se-á numa imensa multidão de seres estúpidos, sem moral, sem honra e sem dignidade. Eu sei que isso não vai acontecer, mas... mais vale prevenir do que remediar.
Kalinka é o nome em russo de um arbusto ornamental, que em português se chama folhado ou viburno.
Praticamente nada se sabe a respeito da Cruz de Portugal que, a avaliar pelo seu estilo gótico flamejante, deve datar do séc. XV. Este cruzeiro é feito de calcário branco, que é uma rocha que não existe em todo o Algarve e muito menos em Silves, onde a pedra é vermelha, como se pode claramente ver no castelo ou na Sé da cidade. Então, das duas uma: ou a Cruz de Portugal foi levada já feita para Silves, ou foi levada para Silves a pedra em bruto, a fim de ser trabalhada no local. De qualquer modo, não se sabe de onde é que foi levada a pedra ou a cruz já feita, não se sabe quem foi que a transportou para Silves, não se sabe quem foi que a esculpiu, não se sabe quem foi que a encomendou nem para quê, não se sabe, sequer, por que razão lhe puseram o nome de Cruz de Portugal. Podiam chamar-lhe Cruz do Algarve, por exemplo, mas não, chamam-lhe Cruz de Portugal. Uma cruz cheia de mistérios.
O estado em que se encontra a Cruz de Portugal é lastimável. A passagem dos séculos deixaram-lhe marcas profundas, que nunca mais vão poder ser apagadas. Mesmo assim, ela ali está em Silves, ao ar livre, protegida por um simples telheiro e um simples gradeamento, que afinal nada protegem. Até admira que a cruz ainda não tenha sido alvo de algum ato de vandalismo. Se um dia tal acontecer, então já será tarde demais.