Dia Internacional da Mulher
Eu já tencionava publicar um poema de Geraldo Bessa Victor, que é um autor angolano radicado em Portugal há muitas dezenas de anos, mas o poema não era este. Não faz mal, fica para outra ocasião.
Poema para a Negra
Deixa que os outros cantem o teu corpo
que dizem feiticeiro e sedutor,
e, na volúpia vã do pitoresco,
entoem madrigais á tua dor.
Deixa que os outros cantem teus requebros
nos passos de massemba e quilapanga,
e teus olhos onde há noites de luar,
e teus beiços que têm sabor de manga.
Deixa que os outros cantem os teus usos
como aspectos formais da tua graça,
nessa conquista fácil do exotismo
que dizem descobrir na nossa raça.
Deixa que os outros cantem o teu corpo,
na captação atónita do viço
e fiquem sempre, toda a vida, a olhar
um muro de mistério e de feitiço...
Deixa que os outros cantem o teu corpo
- que eu canto do mais fundo do teu ser,
ó minha amada, eu canto a própria África,
que se fez carne e alma em ti, mulher!
(Geraldo Bessa Victor, in Obra poética, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, Lisboa 2001)
Comentários: 1
Rynaldo, seja benvindo a esta sua casa. Intervenha sempre que achar oportuno.
Abraço de Portugal
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