Quando eu tinha cerca de dez anos de idade, passei um par de meses numa casa dos arredores de Sintra que nunca mais me saiu da memória. Exteriormente, a casa era uma habitação rústica tipicamente saloia, rodeada de frondosos pinheiros mansos que davam pinhões deliciosos. Interiormente, era total e unicamente recheada com peças de mobiliário alentejano pintadas à mão, em tudo idênticas às que se veem nestas fotografias.
Que linda que era aquela casa! Que alegria! O seu interior, então, era duma luminosidade e duma frescura campestre incomparáveis. As cores fortes da mobília, com as suas flores e as suas ramagens cuidadosamente pintadas sobre fundo branco, vermelho ou azul, contrastavam maravilhosamente com o branco imaculado das paredes caiadas. Como eu gostava daquela casa.
Mas tudo passa e tudo acaba. A casa já não existe. A aldeia pitoresca onde ela ficava também não, pois transformou-se num subúrbio industrial cheio de fábricas e de armazéns. As ruas da aldeia onde eu cheguei a conduzir uma carroça (era fácil de conduzir; a mula era muito obediente) cederam o lugar a avenidas retilíneas percorridas por automóveis e camiões. No local onde havia um quartel de bombeiros e um asilo para crianças órfãs e abandonadas, que era em tudo semelhante à Casa do Gaiato, nasceu uma fábrica da Tabaqueira. Uma lástima.
Que saudades que eu tenho da casa que era saloia por fora e alentejana por dentro!