30 janeiro 2024

A cerâmica de António Vasconcelos Lapa


Diante de um painel de azulejos da sua autoria na Estação Fronteiriça de Marvão, o ceramista português António Vasconcelos Lapa fala de si, do seu pai, do painel que tem atrás de si e de um outro painel que fez para o restaurante da mesma Estação Fronteiriça

Tanto quanto consegui saber, não existe qualquer laço de parentesco entre António Vasconcelos Lapa e Querubim Lapa, outro grande ceramista português. O nome verdadeiro de António Vasconcelos Lapa é António Manuel de Almeida e Vasconcelos, portanto sem Lapa. No vídeo acima, António Vasconcelos Lapa explica que tomou este nome em homenagem ao seu pai, Manuel Francisco de Almeida e Vasconcelos, que, na sua qualidade de pintor, tinha adotado o pseudónimo de Manuel Lapa.

Seguem-se algumas obras de cerâmica da autoria de António Vasconcelos Lapa.

(Foto de autor desconhecido)
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(Fotos: António Vasconcelos Lapa)
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28 janeiro 2024

Três óperas, uma abertura


Abertura da ópera Aureliano in Palmira, 1813, de Gioachino Rossini (17921868), pela Orquestra Filarmónica de Londres dirigida por Maurizio Benini

Abertura da ópera Elisabetta, Regina d'Inghilterra, 1815, de Gioachino Rossini (17921868), pela Orquestra Sinfónica de Londres dirigida por Gianfranco Masini

Abertura da ópera Il Barbiere di Siviglia, 1816, de Gioachino Rossini (17921868), pela Orquestra Sinfónica de Londres dirigida por Philip Gibson

26 janeiro 2024

Henrique Franco


Paisagem Madeirense, 1921, de Henrique Franco (1883–1961). Óleo sobre tela. Museu Henrique e Francisco Franco, Funchal

A Galinha Preta, 1922, de Henrique Franco (1883–1961). Óleo sobre tela. Museu Henrique e Francisco Franco, Funchal
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Henrique Franco foi um pintor português, nascido na cidade do Funchal em 1883. Era irmão do escultor Francisco Franco. Depois de ter frequentado a Escola Industrial no Funchal, Henrique Franco foi para Lisboa estudar pintura na Academia de Belas-Artes de Lisboa, onde foi aluno de Columbano Bordalo Pinheiro. Quatro anos depois seguiu para Paris, como bolseiro, e aí acabou por fixar residência. Em 1920 regressou à Madeira, onde foi professor durante alguns anos, e em 1934 mudou-se para Lisboa, onde passou a lecionar na Escola de Belas-Artes de Lisboa. Faleceu em 1961. A pintura de Henrique Franco reflete influências de Manet e de Cézanne, além de revelarem um estilo próprio, pessoal.

23 janeiro 2024

Welcome Home


Joaquina Kalukango, cantora e atriz norte-americana nascida em Atlanta, no estado da Geórgia, de pai e mãe angolanos, canta Welcome Home, do musical da Broadway Paradise Square

20 janeiro 2024

Mariema

Carregando o filho a mãe bate no pilão
o arroz de todas as refeições.
Nos olhos grandes aquele conformismo fatalista
e a cara preta da sobrevivência sem emoções.
O menino aninha-se nas mamas escuras já secas.
Carinho certo.
As necessidades são esquecidas.
Festa maternal.
As armas ecoam perto.

Oh mãe preta! Mãe balanta, fula, mandinga…
Oh mães da Guiné tão iguais às brancas!
Sofreis,
tremeis,
apertais no peito a vossa fertilidade
— alegria de ser mulher —.
E no perigo defendeis esse pedaço sem preço,
único tesouro comprador de vida,
o ser que os outros não criaram!

Ao longe o canhão dispara, dispara sempre,
os estilhaços continuam…
Sangue, amor, sofrimento, ânsia de paz!
O povo encontra uma mulher morta
no chão da trincheira
sob cujo corpo ainda quente uma criança vive.

28 de Julho de 1973

Alberto Bastos (1948–2022), combatente da Guerra Colonial. Bailam Flores: Poemas. Edição da Câmara Municipal de Vale de Cambra, 1999


(Foto de autor desconhecido)

16 janeiro 2024

A "Sinfonia Clássica" de Prokofiev


Sinfonia n.º 1 em Ré Maior, op. 25, chamada Sinfonia Clássica, do compositor ucraniano Serguei Prokofiev (1891–1953), pela Filarmónica do Mar Báltico, que é uma orquestra constituída por jovens músicos de países ribeirinhos do Báltico, sob a direção do maestro estónio Kristjan Järvi, filho do afamado maestro Neeme Järvi

13 janeiro 2024

Quem sai aos seus não degenera


A Verdade, homenagem a Eça de Queirós, de António Teixeira Lopes (1866–1942). Esta escultura encontrava-se no Largo Barão de Quintela, em Lisboa, mas foi substituída por uma réplica, porque era alvo frequente de vandalismo. O original encontra-se agora no Museu de Lisboa, Campo Grande, Lisboa
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Infância de Caim, de António Teixeira Lopes (1866–1942). Museu Nacional Soares dos Reis, Porto
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A Viúva, de António Teixeira Lopes (1866–1942). Museu Nacional de Arte Contemporânea do Chiado, Lisboa
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Monumento aos Militares Portugueses Mortos na I Guerra Mundial, de António Teixeira Lopes (1866–1942). La Couture, Pas de Calais, França
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Pormenor de uma porta da Igreja de Nossa Senhora da Candelária, de António Teixeira Lopes (1866–1942). Rio de Janeiro, Brasil
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Baco, de António Teixeira Lopes (1866–1942). Praça da República, Porto
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Este é um dos casos em que se pode dizer que «Quem sai aos seus não degenera» ou que «Filho de peixe sabe nadar». O filho do escultor José Joaquim Teixeira Lopes tornou-se ele mesmo igualmente escultor, e de primeira grandeza. Refiro-me a António Teixeira Lopes, que nasceu em 1866 em Vila Nova de Gaia e faleceu em 1942 em São Mamede de Ribatua, no concelho de Alijó, terra de origem da sua família.

António Teixeira Lopes teve a sua primeira aprendizagem com o pai escultor, como facilmente se compreende, e a seguir frequentou a Academia Portuense de Belas-Artes, onde foi aluno de Soares dos Reis. Antes de concluir o curso no Porto, António Teixeira Lopes rumou à capital francesa, onde terminou os seus estudos na Escola de Belas-Artes de Paris. De volta a Portugal, António Teixeira Lopes desenvolveu uma intensa atividade, criando algumas das melhores obras de sempre da escultura portuguesa e lecionando na Escola Portuense de Belas-Artes.

É digna de visita a Casa-Museu Teixeira Lopes, em Vila Nova de Gaia, onde se encontra um valiosíssimo espólio do escultor. Esta casa foi idealizada para ser a sua residência e atelier pelo seu irmão José Teixeira Lopes, que foi arquiteto, e constitui um edifício muito bem concebido, que exprime um certo revivalismo romântico.

Pormenor do interior da Casa-Museu Teixeira Lopes, em Vila Nova de Gaia (Foto: Pedro Granadeiro/GI)
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10 janeiro 2024

Santa-Rita Pintor


Cabeça, óleo sobre tela de Guilherme de Santa-Rita (1889–1918), c. 1910. Museu Nacional de Arte Contemporânea do Chiado, Lisboa
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De seu nome completo Guilherme Augusto Cau da Costa de Santa Rita, o pintor futurista Guilherme de Santa-Rita (Santa-Rita Pintor) nasceu em Lisboa em 1889. Estudou na Escola Superior de Belas-Artes de Lisboa, após o que seguiu como bolseiro para Paris, onde entrou em contacto com as correntes modernistas que então fervilhavam na capital francesa. Foi amigo de Mário de Sá-Carneiro, admirador confesso de Pablo Picasso e aderiu à corrente futurista preconizada pelo escritor italiano Marinetti.

De volta a Portugal em 1914, Santa-Rita envolveu-se numa série de ações que visavam a promoção do futurismo, juntamente com José de Almada Negreiros e outros, que entraram em choque com a conservadora intelectualidade portuguesa da época.

Santa-Rita Pintor faleceu em Lisboa em 1918, com 28 anos de idade, vítima de uma tuberculose pulmonar, mas antes já tinha ordenado que a sua obra morresse com ele. A sua família cumpriu esta exigência e a obra de Guilherme de Santa-Rita foi quase completamente destruída. A Cabeça cubo-futurista acima reproduzida é a mais representativa das pouquíssimas peças que escaparam à destruição.

08 janeiro 2024

Há palavras que nos beijam

Há palavras que nos beijam
Como se tivessem boca.
Palavras de amor, de esperança,
De imenso amor, de esperança louca.

Palavras nuas que beijas
Quando a noite perde o rosto;
Palavras que se recusam
Aos muros do teu desgosto.

De repente coloridas
Entre palavras sem cor,
Esperadas inesperadas
Como a poesia ou o amor.

(O nome de quem se ama
Letra a letra revelado
No mármore distraído
No papel abandonado)

Palavras que nos transportam
Aonde a noite é mais forte,
Ao silêncio dos amantes
Abraçados contra a morte.

Alexandre O'Neill (1924–1986)


(Composição gráfica de autor desconhecido)

04 janeiro 2024

Do copofone à harmónica de vidro


O músico anglo-italiano Robert Tiso interpreta uma sua adaptação para copofone da conhecida valsa Danúbio Azul, de Johann Strauss Filho (1825–1899)

Todos sabemos que, se passarmos um dedo molhado pela borda de um copo de cristal, este emite um som puro, com uma frequência bem definida, que será mais aguda ou mais grave consoante as dimensões, o formato e a massa do copo. Todos sabemos também que a frequência do som emitido pelo copo variará, se variarmos a quantidade de água nele contida, dentro dos limites impostos pela capacidade do copo. Se reunirmos um conjunto de copos de cristal de vários tamanhos e os afinarmos de acordo com a escala diatónica, vertendo neles mais ou menos água, obteremos um instrumento musical que se toca com as polpas dos dedos molhadas e que em português é chamado copofone.


Adágio e Rondó para Harmónica de Vidro, Flauta, Oboé, Violeta e Violoncelo, Köchelverzeichnis 617, de Wolfgang Amadeus Mozart (1756–1791), por Christa Schönfeldinger em harmónica de vidro, Maria Beatrice Cantelli em flauta, Paul Meier em oboé, Axel Kircher em violeta e Floris Fortin em violoncelo

Além de ter sido um dos "pais" da independência dos Estados Unidos, Benjamin Franklin foi um notável inventor. É sabido que foi ele que inventou o para-raios, o que lhe poderia ter custado a vida, mas menos conhecido do que o para-raios é o instrumento musical por ele inventado, baseado na sonoridade dos copos de cristal referida acima. Franklin chamou harmónica de vidro a este instrumento, que é constituído por um conjunto de semi-esferas ocas de cristal, de diferentes tamanhos e unidas umas às outras pelos seus centros, que são atravessados por um eixo comum, o qual se põe a girar (e com ele as semi-esferas) acionando um pedal. A harmónica de vidro é tocada colocando os dedos molhados nas semi-esferas em rotação. Alguns compositores escreveram peças musicais para harmónica de vidro, entre os quais se contam Wolfgang Amadeus Mozart, Ludwig van Beethoven, Gaetano Donizetti, etc.

01 janeiro 2024

Credo

Creio nos anjos que andam pelo mundo,
Creio na deusa com olhos de diamantes,
Creio em amores lunares com piano ao fundo,
Creio nas lendas, nas fadas, nos atlantes;

Creio num engenho que falta mais fecundo
De harmonizar as partes dissonantes,
Creio que tudo é eterno num segundo,
Creio num céu futuro que houve dantes,

Creio nos deuses de um astral mais puro,
Na flor humilde que se encosta ao muro,
Creio na carne que enfeitiça o além,

Creio no incrível, nas coisas assombrosas,
Na ocupação do mundo pelas rosas,
Creio que o amor tem asas de ouro. Amém.
Natália Correia (1923–1993)