Música de Franco
A cidade de Kinshasa, que tem quase 9 milhões de habitantes, é a capital política da República Democrática do Congo e a capital de facto de toda a África Central
Por muito que custe a outras capitais, como Luanda ou Libreville, a cidade de Kinshasa, capital da República Democrática do Congo (ex-Zaire), é a verdadeira capital cultural, humana e social de toda a África Central, pelo menos. Kinshasa exerce uma atração quase hipnótica sobre uma área de influência que se estende muito para além das fronteiras da RDC (que por si só já é um país imenso) e abrange os países envolventes e outros que se encontram mais afastados ainda. Kinshasa é que dita a moda, os hábitos, os gostos e os interesses de milhões e milhões de africanos.
No domínio da música popular urbana, nomeadamente, a influência de Kinshasa tem vindo a ser ao longo dos anos por demais notória. A rumba congolesa, o soukous, o kwassa kwassa e outros ritmos saídos de Kinshasa têm feito dançar gerações sucessivas de africanos em discotecas, bares, pistas de dança ou simplesmente ao ar livre. Em países tão distintos como o Chade, o Quénia ou o Zimbabwe, milhares de cantores e de orquestras ligeiras têm emulado os ídolos da dança e da canção de Kinshasa. Não há ninguém, em toda a África ao sul do Sara, que não conheça a música de OK Jazz, Bella Bella, Franco, Zaiko Langa Langa, Sam Mangwana, Papa Wemba, etc.
De todos os nomes citados, no entanto, há um que se destaca dos restantes pela popularidade extrema que atingiu: Franco. De seu nome verdadeiro François Luambo Makiadi, Franco foi um "monstro sagrado" da música zaiko (zairense-congolesa). Os seus discos venderam-se aos milhões e milhões e, embora já tenha falecido em 1989, Franco continua a ser imbatível em popularidade. Nem Papa Wemba consegue igualá-lo.
O vídeo que se segue é uma gravação feita em 1975 de uma canção de Franco para um programa de televisão. Esta gravação já deve ser em segunda ou terceira mão, porque está a preto e branco. Ora em 1975 a televisão de Kinshasa já emitia a cores e é muito provável, portanto, que a gravação original fosse também a cores. Esta gravação tem a particularidade de ter sido subitamente interrompida por um lacaio do regime de Mobutu Sese Seko. A canção chama-se Liberté (Liberdade) e, como se vê, ela não agrada ao homenzinho. Durante a ditadura de Mobutu o enaltecimento da Liberdade era subversivo.
Liberté, por Franco & Le Tout Puissant OK Jazz
Em 1987, Franco gravou uma canção que alarmou os seus incontáveis fãs. A canção era um dramático apelo ao combate contra o VIH-SIDA. As pessoas perguntaram-se então: «Será que o Franco está com SIDA?» Não estava. Dois anos depois, porém, Franco morria, não de SIDA, mas de hepatite. A canção Attention na SIDA foi um testamento deixado pelo grand maître da rumba congolesa e do soukous. Ouçamo-la.
Attention na SIDA, por Franco & Victoria Eleison