31 maio 2021

10 000 Anos depois entre Vénus e Marte


10 000 Anos depois entre Vénus e Marte, de José Cid, um álbum discográfico de ficção científica gravado em 1977–78. Na sua realização, José Cid contou com a colaboração dos músicos Mike Sergeant, Ramón Galarza e Zé Nabo. Depois de a humanidade ter tornado o planeta Terra inabitável, este regenera-se, vazio de gente. Dez mil anos depois, um casal regressa para povoá-lo

28 maio 2021

Busque Amor novas artes, novo engenho

Busque Amor novas artes, novo engenho
Pera matar-me, e novas esquivanças,
Que não pode tirar-me as esperanças,
Que mal me tirará o que eu não tenho.

Olhai de que esperanças me mantenho!
Vede que perigosas seguranças!
Que não temo contrastes nem mudanças,
Andando em bravo mar, perdido o lenho.

Mas, enquanto não pode haver desgosto
Onde esperança falta, lá me esconde
Amor um mal, que mata e não se vê,

Que dias há que na alma me tem posto
Um não sei quê, que nasce não sei onde,
Vem não sei como e dói não sei porquê.

Luís Vaz de Camões
(1524–1580)


(Foto: Mero Barral)

23 maio 2021

Jogo de futebol entre filósofos


Só podiam ser os Monty Python!

15 maio 2021

Vizinhos


Neighbours, um filme de curta metragem em stopmotion, premiado com um óscar, de Norman McLaren (1914–1987)

12 maio 2021

Sabedoria que pode ajudar a combater as alterações climáticas


Ao contrário do que é corrente afirmar, os povos indígenas não vivem na Idade da Pedra. Eles possuem valiosíssimos conhecimentos, muitos dos quais são arrogantemente desprezados por nós. Um exemplo é o das residências tradicionais dos índios brasileiros chamadas ocas ou malocas, como estas que estão na aldeia Piyulaga, no Alto Xingu, Mato Grosso. Apesar de serem feitas de materiais frágeis, estas ocas não são frágeis de maneira nenhuma, porque foram construídas de tal forma que conseguem resistir às tempestades mais violentas (Foto: Pirathá Waurá)

(...)

As mudanças climáticas vêm há tempos modificando a vivência na cultura do povo Waurá. Entendemos que esses fatos são alterações que ocorrem no clima geral do planeta Terra, e sabemos que são provocados principalmente por ações dos seres humanos. Percebemos o aumento significativo da poluição do ar e da temperatura, e nosso maior desafio é nos adaptarmos, principalmente da década passada até a atual.

Nesse sentido, a mudança climática está causando muitos problemas para a sociedade Waurá, e está afetando, principalmente, o calendário tradicional que o povo segue conforme as suas tradições e costumes. Os nossos cultivos, por exemplo, são uma grande preocupação. O clima mudou, o calor aumentou, a chuva diminuiu, deixando confuso o período de plantação.

Em todos os tempos passados, o rio sempre fez a sua correnteza normalmente, não havia destruição das florestas ao redor do território, o fogo não escapava do nosso controle durante a queimada na nossa roçada. Atualmente, podemos ver que, cada vez mais, estão acabando as florestas exuberantes que existiam ao redor da área da Terra Indígena do Xingu. Fazendas de soja e gado estão ocupando o entorno, apertando o território xinguano, nos cercando. Também sentimos que o rio está secando bastante e aumentando a temperatura da água. Além disso, o calor deixa a serrapilheira (camada formada pela deposição e acúmulo de matéria orgânica morta em diferentes estágios de decomposição que reveste superficialmente o solo ou o sedimento aquático) muito ressecada, transformando-a em um poderoso combustível para o fogo e queimando as nascentes dos rios.

“Queremos saber o que está acontecendo. Antes sabíamos controlar o fogo quando queimávamos para preparar a nossa roça. Agora ele escapa e não para. Não era assim naquele tempo aqui na região. Também sabíamos quando a chuva ia parar e quando ia voltar, mas agora não sabemos mais”, disse o cacique Awaulukuma Waurá.

A humanidade, principalmente os não indígenas, não pensa na saúde do planeta. Para nós, é simples: precisamos diminuir a queimada das florestas, respeitar os territórios indígenas, que são os que mais cuidam e se preocupam com a floresta como um bem cultural, parar de queimar combustíveis fósseis, parar com funcionamento de fábricas poluidoras, reciclar e controlar o lixo, dentre tantas outras soluções. Podemos entender que falar é fácil, o problema verdadeiro é como fazer isso. Pois tudo seria mais fácil se as pessoas se conscientizassem de verdade. O problema é que as pessoas que têm o poder escolhem o dinheiro em vez do meio ambiente, e assim a situação fica cada vez mais difícil.

Nós, da cultura Waurá, que dependemos da natureza, temos muito conhecimento para dividir: como reflorestar tradicionalmente, como cuidar do meio ambiente da nossa região, formas de fazer a derrubada para a nossa plantação de sobrevivência e depois jeitos de ajudar a crescer de novo as árvores que foram derrubadas.

Entre fechar uma de suas fábricas que causa maior poluição para ajudar a natureza e mantê-la para conseguir mais poder, todos preferem continuar com suas indústrias poluentes. Isso precisa ser revisto. Todos nós temos de nos empenhar e ajudar a reverter as mudanças climáticas, porque nós, os povos indígenas, sozinhos nunca conseguiremos.

A partir de tudo isso, sabemos que a união pode ser a verdadeira chave para a solução dos nossos problemas. Todos estão sofrendo com muito calor, não só os índios. E a água, principal fonte de vida para os seres vivos, está diminuindo. Todos são afetados, não só nós. Mas temos muito o que contribuir para a solução desses problemas.

(...)


Pirathá Waurá, em Mudanças Climáticas e a Percepção Indígena. Pirathá Waurá é professor indígena brasileiro, graduado em Licenciatura Intercultural na área de Língua, Arte e Literatura pela Universidade do Estado de Mato Grosso. Mora na aldeia Piyulaga, localizada na Terra Indígena do Xingu, município de Gaúcha do Norte, Mato Grosso, Brasil





(Foto: Pirathá Waurá)


(Foto: Pirathá Waurá)


(Foto: Pirathá Waurá)


(Foto: Pirathá Waurá)


Uma panela de barro (Foto: Pirathá Waurá)


(Foto: Pirathá Waurá)

07 maio 2021

O rei D. Sebastião


O Rei D. Sebastião, óleo sobre tela de Cristóvão de Morais, pintor português que teve atividade conhecida entre 1551 e 1571. Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa, Portugal

Este retrato do rei D. Sebastião é da autoria de Cristóvão de Morais, que foi um excelente pintor português do séc. XVI. Cristóvão de Morais foi, com toda a certeza, um dos melhores pintores maneiristas portugueses. Ao olhar para este quadro, não posso deixar de notar que ele é um bom retrato de um mau rei, porque mal aconselhado: o rei de Portugal D. Sebastião. Não vale a pena insistir no facto de que D. Sebastião trouxe a desgraça para Portugal quando se fez matar na batalha de Alcácer Quibir, no norte de África, em 4 de agosto de 1578.

Como seria de esperar, a batalha de Alcácer Quibir vem referida nos livros de História de Marrocos. Não é todos os dias que um rei é morto num campo de batalha, seja em Marrocos ou seja onde for. O que é surpreendente é o modo como os marroquinos reagem diante de um interlocutor português, quando o assunto é abordado, e lhe dizem: «Sim, é verdade que nós ganhamos, mas a batalha de Alcácer Quibir foi somente uma batalha entre muitas que houve entre as nossas duas nações. Nós ganhamos algumas, vocês também ganharam algumas, mas o que importa é que agora estamos todos em paz e somos todos amigos». Fica a sensação de que esta desvalorização da importância da batalha de Alcácer Quibir por parte dos marroquinos é apenas uma manifestação de gentileza. Os marroquinos são um povo gentil, atencioso, tolerante e acolhedor. E, o que é mais importante, não nutrem qualquer rancor ou ressentimento para com os portugueses. Isto mesmo eu verifiquei pessoalmente em diversas ocasiões.

Efetivamente, quando eu disse uma vez a um marroquino que era português, ele soltou uma sonora gargalhada e exclamou: «É português? Então somos grandes inimigos! Ahahahahah!» Por momentos julguei que ele me iria dar um grande abraço, o abraço do reencontro de dois "grandes inimigos". Mais tarde, fiquei a pensar.

No ano 711, os mouros atravessaram o Estreito de Gibraltar, vindos do Norte de África, e rapidamente se apoderaram da Península Ibérica, com exceção das Astúrias, conquistando o fraco Reino dos Visigodos, que não era mais do que uma frágil federação de senhores feudais. Começou assim um ciclo de conquistas e reconquistas, invasões e recuos, grandes batalhas e pequenas escaramuças, tanto em solo ibérico como em solo norte-africano, entre mouros e cristãos, que, no caso português, se prolongou até ao ano 1769, ano em que Portugal abandonou a sua última posição em terras de Marrocos, a fortaleza de Mazagão. Por determinação do Marquês de Pombal, os ocupantes da fortaleza foram então transferidos para a foz do Rio Amazonas, onde fundaram uma povoação também chamada Mazagão.

Agora, como dizia António Guterres, «é só fazer as contas». Estas contas revelam que, ainda e só no caso português, se passaram 1058 anos entre o primeiro acontecimento e o último. Foram 1058 anos de ódios e de guerras, em que cristãos e muçulmanos se esquartejaram mutuamente, enquanto gritavam, uns contra os outros, «Morte aos infiéis!». Foram 1058 anos com montanhas e montanhas de mortos, rios e rios de sangue, milhões e milhões de órfãos e de viúvas, uma dor incomensurável e lágrimas sem fim. 1058 anos. Tudo isto para quê? Para que alguém, na viragem do séc. XX para o séc. XXI, se ria e graceje: «É português? Então somos grandes inimigos! Ahahahahah!» O ódio e o fanatismo, que tanto mal causaram, apagaram-se e converteram-se em anedota. Valeu a pena ter havido tantos mortos?

01 maio 2021

Cantigas do Maio



Cantigas do Maio, de José Afonso, por Carlos do Carmo (voz) e Bernardo Sassetti (piano)