24 agosto 2015

Guem



Guem, de seu nome completo Abdelmadjid Guemguem, é um percussionista e dançarino argelino negro, cujos antepassados eram originários do Níger. Nasceu em 1947 em Batna, na Argélia, e nos inícios dos anos 70 emigrou para França, onde ainda reside, com a intenção de se tornar futebolista profissional. O destino, porém, fê-lo profissional, de facto, mas da música, como percussionista de extraordinário valor. Nesta qualidade, tem atuado em sessões de jazz e outras, a solo ou como acompanhante. Tem bastantes discos gravados, todos eles só com instrumentos de percussão.



Le Serpent, numa gravação só de áudio de 1978, em que Guem se faz acompanhar por um grupo de percussionistas franceses chamado Zaka Percussion


Guem toca, ao vivo, derbouka, um membranofone tradicional árabe semelhante ao djembé da África Ocidental

21 agosto 2015

Sobre a nudez forte da verdade, o manto diáfano da fantasia


Vénus, óleo sobre madeira do pintor alemão Lucas Cranach, o Velho (1472–1553), datado de 1532. Städelsches Kunstinstitut, Frankfurt am Main, Alemanha

19 agosto 2015

Selvajaria


Dois desolados índios da Amazónia percorrem um trecho de floresta carbonizada. Quem é selvagem, afinal? Quem procura viver em harmonia com a Natureza, como fazem os índios, ou quem a destrói? (Foto de autor desconhecido)

18 agosto 2015

A Hospitalidade ao Fantasma: Memórias dos Deficientes das Forças Armadas



Trailer do filme A Hospitalidade ao Fantasma: Memórias dos Deficientes das Forças Armadas, de Bruno Sena Martins


Este é um retrato do drama vivido por muitos homens que, na flor da sua juventude, foram mandados para a frente de combate na Guerra Colonial e ficaram para sempre marcados na carne e no espírito por esta mesma guerra. Este é também um retrato do esquecimento e da marginalização a que estes homens têm sido sistematicamente votados, num Portugal que se quer democrático mas que continua a conviver mal com a memória do seu passado colonial recente.

"A Hospitalidade ao Fantasma: Memórias dos Deficientes das Forças Armadas" é um filme com a duração aproximada de 50 minutos, produzido pelo Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra e realizado por Bruno Sena Martins, no âmbito do projeto de investigação "Vidas Marcadas pela História: a Guerra Colonial Portuguesa e os Deficientes das Forças Armadas". Este filme foi publicado em 2014 e contou com a colaboração da Associação dos Deficientes das Forças Armadas e do Centro de Documentação 25 de Abril. Nele, dá-se voz a alguns deficientes das Forças Armadas Portuguesas, que ficaram gravemente feridos na Guerra Colonial, em Angola, Moçambique e antiga Guiné Portuguesa (atual Guiné-Bissau), entre 1961 e 1974.

Recomendo que se veja este filme na sua totalidade, e não só o seu trailer, por muito duro e pesado que seja, e é. Para que estes homens e o seu sofrimento não caiam no esquecimento. Este filme foi colocado no Youtube pelo Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, com a finalidade expressa de poder ser visto gratuitamente e de poder ser partilhado livremente. Ei-lo.



A Hospitalidade ao Fantasma: Memórias dos Deficientes das Forças Armadas, um filme de Bruno Sena Martins

15 agosto 2015

Três poemas de Ana Hatherly (1929 – 2015)


ESTA GENTE / ESSA GENTE

O que é preciso é gente
gente com dente
gente que tenha dente
que mostre o dente

Gente que não seja decente
nem docente
nem docemente
nem delicodocemente

Gente com mente
com sã mente
que sinta que não mente
que sinta o dente são e a mente

Gente que enterre o dente
que fira de unha e dente
e mostre o dente potente
ao prepotente

O que é preciso é gente
que atire fora com essa gente

Essa gente dominada por essa gente
não sente como a gente
não quer
ser dominada por gente

NENHUMA!

A gente
só é dominada por essa gente
quando não sabe que é gente



PRÍNCIPE

Príncipe:
Era de noite quando eu bati à tua porta
e na escuridão da tua casa tu vieste abrir
e não me conheceste.
Era de noite
são mil e umas
as noites em que bato à tua porta
e tu vens abrir
e não me reconheces
porque eu jamais bato à tua porta.
Contudo
quando eu batia à tua porta
e tu vieste abrir
os teus olhos de repente
viram-me
pela primeira vez
como sempre de cada vez é a primeira
a derradeira
instância do momento de eu surgir
e tu veres-me.
Era de noite quando eu bati à tua porta
e tu vieste abrir
e viste-me
como um náufrago sussurrando qualquer coisa
que ninguém compreendeu.
Mas era de noite
e por isso
tu soubeste que era eu
e vieste abrir-te
na escuridão da tua casa.
Ah era de noite
e de súbito tudo era apenas
lábios pálpebras intumescências
cobrindo o corpo de flutuantes volteios
de palpitações trémulas adejando pelo rosto.
Beijava os teus olhos por dentro
beijava os teus olhos pensados
beijava-te pensando
e estendia a mão sobre o meu pensamento
corria para ti
minha praia jamais alcançada
impossibilidade desejada
de apenas poder pensar-te.

São mil e umas
as noites em que não bato à tua porta
e vens abrir-me

Ana Hatherly, pseudónimo literário de Ana Maria de Lourdes Rocha Alves, poetisa, romancista, ensaísta, artista plástica, etc. Faleceu há poucos dias com 86 anos de idade


Um poema visual de Ana Hatherly

09 agosto 2015

...mas por favor não parta o piano!



Fuga nº 1 de A Arte da Fuga, BWV 1080, de Johann Sebastian Bach (1685–1750), pelo pianista japonês Gen Hirano



Prelúdio e Fuga nº 22 em si bemol menor, BWV 891, do 2º Livro de O Cravo Bem Temperado, de Johann Sebastian Bach (1685–1750), pelo pianista japonês Gen Hirano

06 agosto 2015

Os sanitários públicos do Passeio Alegre, no Porto


O exterior do edifício dos sanitários públicos do Jardim do Passeio Alegre, na Foz do Douro, Porto. Os frisos de azulejos que o ornamentam junto ao telhado são no estilo "Arte Nova" (Foto: José Magalhães)


Os sanitários públicos são uns espaços que todos tendemos a evitar. Só os usamos quando sentimos uma necessidade imperiosa e não temos alternativa. É certo que muitos sanitários públicos já não são tão maus como antigamente, mas o seu estado continua muitas vezes a não ser o que desejávamos que fosse. Deles podemos esperar tudo: retretes entupidas, falta de papel, torneiras que não deitam água, autoclismos avariados, espelhos quebrados, etc. etc. etc. E a envolver aquilo tudo, um cheiro nauseabundo, de fezes e urina, ou (o que é quase tão mau) um cheiro pungente a creolina, que é um desinfetante frequentemente usado em tais espaços.

Mas existem uns sanitários públicos, pelo menos, que merecem que os visitemos, mesmo que não tenhamos vontade: os sanitários do Jardim do Passeio Alegre, na Foz do Douro, nesta cidade do Porto.


No sanitário dos homens. As paredes e o chão encontram-se decorados com belíssimos azulejos e mosaicos no mais puro estilo "Arte Nova" (Foto: Petr Adam Dohnálek)


Os sanitários públicos do Passeio Alegre foram feitos em 1910, ou seja, num tempo em que a burguesia do Porto ia a banhos à Foz do Douro, povoação que então ainda não tinha sido incluída na cidade. Como o próprio nome indica, o Passeio Alegre era um passeio público, onde os "ilustres" veraneantes iam passear ao fim da tarde ou ao princípio da noite, a fim de mostrarem uns aos outros as suas melhores toilettes e de porem em dia as últimas novidades da política e da má-língua. Ora tão "distintos" frequentadores precisavam de ter uns sanitários que estivessem à altura do seu estatuto social. Assim se fizeram uns sanitários públicos que são uma pequena maravilha e que continuam à disposição de quem quiser servir-se deles.


No sanitário das senhoras. Até dá pena sujar uma louça assim... (Foto: A. Amen)