Há ruínas e ruínas. Há ruínas antigas, cheias de dignidade, que atraem multidões de turistas, e há ruínas velhas, que são a própria imagem da decadência e do abandono e pelas quais ninguém se interessa. A fortaleza de Juromenha pertence a esta segunda categoria. Ela é a verdadeira representação viva do abandono a que tem sido votado o interior de Portugal Continental em geral e o interior do Alentejo em particular.
Juromenha, que D. Afonso Henriques conquistara aos mouros em 1166, juntamente com Moura e Serpa, desempenhou ao longo dos séculos um importantíssimo papel na defesa do território português, contra os mouros, primeiro, e contra os espanhóis, depois. A sua origem perde-se na noite dos tempos, sendo a sua fundação atribuída a galo-celtas, adoradores de Endovélico e outros deuses locais. Passou pelas mãos de romanos, de mouros, de portugueses, outra vez pela de mouros e pela de portugueses mais uma vez.
Vista do interior da fortaleza de Juromenha (Foto: Maria Ana BS)
A fortaleza, tal como existe agora em Juromenha, foi edificada no séc. XVII, por ocasião da Guerra da Restauração, no local onde antes tinha existido uma fortificação mourisca, primeiro, e um castelo medieval, depois, mandado erguer pelo rei D. Dinis. Em 1659, uma terrível explosão de um paiol de pólvora causou a morte de cerca de cem pessoas.
A seguir, a fortaleza de Juromenha voltou a mudar de mãos, tendo sido ocupada pela Espanha em 1662, durante a Guerra da Restauração, passado para o domínio português em 1668, voltado a ser conquistada pelos espanhóis durante a chamada "Guerra das Laranjas", em 1801, e regressado à soberania portuguesa em 1808. Por fim, a evolução da tecnologia militar acabou por torná-la irrelevante e ditou o seu abandono definitivo em 1920.
O interior da igreja matriz de Juromenha encontra-se neste miserável estado (Foto: António Neves)
O que agora se vê na fortaleza de Juromenha é confrangedor. Tudo o que havia para roubar, já foi roubado. Tudo o que havia para vandalizar, já foi vandalizado. O que resta, vai caindo aos bocados por efeito da passagem do tempo. Em 2018, ruiu uma das torres da fortaleza. A igreja matriz, então, é um exemplo particularmente eloquente da decadência de Juromenha. Por que se espera para transformar estas ruínas velhas e desprezadas numas ruínas antigas e dignificadas? A região é lindíssima, o rio Guadiana é convidativo e o Alentejo precisa de gente nova como de pão para a boca.
O rio Guadiana espreguiça-se aos pés da fortaleza de Juromenha (Foto de autor desconhecido)