30 julho 2012

Libertação

(Desenho de autor desconhecido)

28 julho 2012

Música fresca e leve para os dias de praia

(Foto de autor desconhecido)

É verdade que, pelo menos em Portugal, agora é silly season durante o ano todo, mas eu ainda sou de um tempo em que a silly season se limitava ao verão; sou de um tempo em que havia as chamadas "músicas de verão", que eram umas músicas mais ligeiras do que as outras, chegando mesmo a ser completamente tontas, como era o caso dos divertidos Óculos de Sol, de Natércia Barreto.

Enfim, sou de um tempo em que as praias portuguesas eram percorridas de lés a lés por um senhor de barbas brancas, que chamava as crianças para junto de si com um apito e a quem davam o nome de Catitinha. Na minha ingenuidade infantil, eu pensava que o Catitinha era o próprio Pai Natal e que só não lhe chamavam Pai Natal porque não estávamos na época do Natal...

Resolvi hoje evocar esse tempo, propondo a escuta de um punhado de músicas de verão dos anos 50 e 60. Tentei acrescentar-lhes o Tarzan Boy, dos Baltimora, que foi a música de verão por excelência da década de 80, mas desisti da intenção, porque cheguei à conclusão de que esta canção contrasta demasiado com as outras, por ter uma batida muito mais pesada do que elas. Resolvi, por isso, acrescentar uma outra em sua substituição.

Acrescentei uma canção do Conjunto de António Mafra. Esta e algumas outras canções deste divertido e ingénuo conjunto de música popular portuguesa fazem-me vir à memória os tempos em que eu fazia praia em Lavadores (este nome lê-se com o o aberto: Lavadóres), em Canidelo, Vila Nova de Gaia. Durante a minha infância e adolescência, eu fazia praia alternadamente, ano sim, ano não, em Lavadores e em Espinho, mas a praia de que eu gostava mais era a de Lavadores. Enquanto as músicas de verão que se ouviam em Espinho eram predominantemente italianas (de Domenico Modugno, Marino Marini, etc.), as que se ouviam em Lavadores eram sobretudo dos conjuntos de António Mafra e de Maria Albertina.


Barbara Anne, por The Beach Boys


Lollipop, por The Chordettes


Itsy Bitsy Teeny Weenie Yellow Polka Dot Bikini, por Brian Hyland


Tintarella di Luna, por Mina


Sete e Pico, pelo Conjunto de António Mafra

26 julho 2012

Árvores do Alentejo

Horas mortas... Curvada aos pés do monte
A planície é um brasido... e, torturadas,
As árvores sangrentas, revoltadas,
Gritam a Deus a bênção duma fonte!

E quando, manhã alta, o sol posponte
A oiro a giesta, a arder, pelas estradas,
Esfíngicas, recortam desgrenhadas
Os trágicos perfis no horizonte!

Árvores! Corações, almas que choram,
Almas iguais à minha, almas que imploram
Em vão remédio para tanta mágoa!

Árvores! Não chorais! Olhai e vede;
— Também ando a gritar, morta de sede,
Pedindo a Deus a minha gota de água!
Florbela Espanca (1894-1930)


(Foto de autor desconhecido)

19 julho 2012

Papiamento

Uma praia na ilha de Curaçao (Foto de autor desconhecido)

O papiamento é um idioma crioulo falado nas ilhas de Aruba, Bonaire e Curaçao, que ficam nas Caraíbas, a cerca de 60 km da costa da Venezuela. Estas três ilhas, juntamente com as pequenas ilhas de Saba, Santo Eustáquio e a parte meridional (chamada Sint Maarten) da ilha de Saint Martin (cuja parte setentrional está sob domínio francês), também nas Caraíbas, estão submetidas ao domínio da coroa da Holanda e são os últimos resquícios do antigo império colonial holandês.

O papiamento apresenta algumas diferenças de ilha para ilha. Tem o estatuto de língua oficial de Aruba, de Curaçao e de Bonaire, juntamente com o holandês e o inglês. Ao todo, estima-se que 270 mil pessoas tenham o papiamento como seu idioma materno. Destas, cerca de 120 mil vivem em Curaçao, 60 mil em Aruba, 10 mil em Bonaire, 70 mil na Holanda (imigrantes) e mais umas quantas no resto do mundo.


Este crioulo é um fruto da colonização e da escravatura, apresentando muitas semelhanças com os crioulos africanos de base portuguesa falados em Cabo Verde, Guiné-Bissau e Casamança. Além da influência portuguesa, o papiamento apresenta uma influência espanhola muito forte (a Venezuela fica ali ao lado), assim como claras influências do holandês, inglês, francês, línguas africanas e línguas índias.

A presença nas Antilhas Holandesas de uma forte comunidade judaica portuguesa, no passado, contribuiu para o fortalecimento da influência da língua portuguesa no papiamento. Com efeito, muitos judeus expulsos de Portugal acabaram por se fixar nas Caraíbas, beneficiando da hospitalidade holandesa. Um grupo de judeus portugueses partiu, depois, destas ilhas para a América do Norte, onde fundou uma cidade a que deu o nome de Nova Amesterdão. Esta cidade mudou, mais tarde, de nome e passou a chamar-se... Nova Iorque.

Alguns dados sobre o papiamento, em inglês, podem ser encontrados, por exemplo, neste sítio da Internet: http://www.papiamentu.com/papiamentu/index.html.

18 julho 2012

Brothers in Arms

Brothers in Arms, pelos Dire Straits, com Mark Knopfler à cabeça e acompanhados por Eric Clapton, num concerto realizado em Londres em 1988, por ocasião do 70º aniversário de Nelson Mandela e a favor da sua libertação, o que viria a acontecer dois anos mais tarde

14 julho 2012

Tango

(Foto de autor desconhecido)

Se alguém perguntar à minha mãe como foi que conheceu o meu falecido pai, ela responderá:

— Foi num baile. Ele chegou ao pé de mim e convidou-me para dançar um tango do Carlos Gardel.


Silencio, por Carlos Gardel

Isto foi num tempo em que Carlos Gardel fazia derreter os corações das moças e em que se dançava o tango um pouco por toda a cidade do Porto, desde os populares bailes de bombeiros, até aos bailes mais burgueses do Ateneu e do Clube Portuense. Foi num tempo, também, em que os maiores cafés da cidade tinham uma orquestra privativa, que à hora do chá tocava tangos (e também mambos, foxtrots e boleros) para a clientela.

Por outro lado, muito tempo antes de terem surgido as radionovelas do Tide (então chamadas folhetins radiofónicos) no Rádio Clube Português, já aqui no Porto havia quem fizesse folhetins na rádio. Concretamente, o Rádio Clube do Norte, que era um dos Emissores do Norte Reunidos, fez pelo menos um. Não sei se recorreram a atores contratados para preencher o elenco (muito provavelmente sim), o que sei é que os papéis principais foram protagonizados pelos dois locutores mais conceituados da estação: Maria Eugénia Olga Cardoso e Fernando Rocha.

A radionovela incluiu canções que foram criadas propositadamente para ela. Estas canções tornaram-se num êxito tal, que se resolveu editar duas delas em disco. Foram editados um mambo (ou seria uma rumba?) na voz de Maria Eugénia Olga Cardoso e um tango cantado por Fernando Rocha. Foi o tango que se impôs à preferência do público. Chamava-se "Sonho de Amor" e pode ser ouvido a seguir. Chamo a atenção para a alta qualidade da orquestra que acompanha Fernando Rocha. Aqui no Porto não se brincava aos tangos...


Sonho de Amor, por Fernando Rocha

De todos os tangos que no Porto se criaram, o que se tornou mais popular em todo o país foi, sem dúvida nenhuma, o tango "Amores de Estudante", composto em 1937 por Aureliano da Fonseca e Paulo Pombo, para a orquestra de tangos do Orfeão Universitário do Porto. Julgo que não há ninguém em Portugal que não conheça este tango, que se tornou numa espécie de hino da Academia do Porto.

Ora a orquestra de tangos do Orfeão Universitário do Porto já não existe. Por isso, o tango "Amores de Estudante" passou a ser interpretado pela tuna do mesmo Orfeão, assim como por muitas outras tunas de estudantes espalhadas pelo país fora. O problema é que o tango "Amores de Estudante" não é uma música para tunas. Fica irreconhecível, para pior.

Andei pela Internet fora à procura de uma versão dos "Amores de Estudante" que fosse tocada pela orquestra de tangos do OUP de outros tempos, mas não encontrei, com muita pena minha. O que encontrei foi uma versão que eu desconhecia, na voz de um tal João Lourival, que eu também desconhecia. Esta versão não é nenhuma maravilha, longe disso, mas pelo menos é um tango. Ouçamo-la.


Amores de Estudante, por João Lourival

Aditamento — Recebi uma mensagem de um amável visitante, que agradeço, chamando a minha atenção para uma gravação existente no Youtube, em que se pode escutar o tango "Amores de Estudante", interpretado pela orquestra de tangos do Orfeão Universitário do Porto, feita na década de 60. O cabeçalho no Youtube é enganador, pois diz que a interpretação é da Tuna Universitária do Porto. Não é tal. É mesmo da orquestra de tangos do OUP. Para ouvir a gravação, queira dirigir-se a este endereço: http://www.youtube.com/watch?v=tc5vQ6BdJOY.


Correção  — Tive a oportunidade de falar com uma antiga orfeonista do OUP, que me informou que, contrariamente ao que eu pensava, o tango "Amores de Estudante" era habitualmente tocado pela tuna do Orfeão Universitário do Porto e não pela orquestra de tangos. Esta orquestra tocava unicamente tangos argentinos, como "Caminito", "Adiós Muchachos", etc. Aqui fica a correção e o meu pedido de desculpas, por ter induzido em erro quem visita este blogue. Fica, assim, desfeito o equívoco: os "Amores de Estudante" pertenciam ao repertório da Tuna Universitária do Porto, embora fossem um tango.

Por outro lado, a mesma antiga orfeonista informou-me que o Orfeão Universitário do Porto visitou Angola duas vezes: uma primeira digressão só a Angola, ocorrida em 1962, e uma segunda visita em 1969, no âmbito de uma digressão mais vasta que incluiu também Moçambique e a África do Sul.

11 julho 2012

Um herói lunda-quioco

Representação de Cibinda Ilunga (na ortografia angolana), Tshibinda Ilunga (na ortografia congolesa) ou Chibinda Ilunga (na ortografia zambiana), feita por um escultor quioco anónimo. Angola, séc. XIX. Ethnologisches Museum, Berlim, Alemanha (Foto: Claudia Obrocki)

A história lendária do herói-caçador, Tshibinda Ilunga, exerce profunda influência sobre a cultura dos povos de Angola, especialmente a dos Tshokwe.

Tshibinda Ilunga é conhecido, em primeiro lugar, como o marido da chefe feminina Lueji e como o pai do fundador da dinastia Mwata Yamvo em território Lunda há mais de 350 anos. Grande caçador de arco e flecha, este príncipe tinha ainda uma machadinha e uma lança, armas superiores àquelas então conhecidas pelos Lunda. Segundo [Henrique de] Carvalho (1890:58), os últimos eram sobretudo pescadores, que caçavam ocasionalmente de clava e fisga.

Em resumo, é a seguinte a lendária história de Tshibinda Ilunga, registada com ligeiras variantes pelos Lunda do Mwata Yamvo, retirado de Carvalho (1880:65-112), Biebuyck (1958:802-3) e Duysters (1958:81-5).

Tshibinda Ilunga era filho do grande chefe Luba, Kalala Ilunga, tendo sido educado no complexo cerimonial da corte de seu pai.

Um dia, para matar a sede após uma expedição de caça na região do Kalanyi (o curso superior do Mushimai em território Lunda), Tshibinda bebera vinho de palma sangrado de uma árvore pertencente a um notável da corte da chefe feminina Lueji. Em forma de pagamento, deixara uma grande quantidade de caça ao pé da árvore. Este acontecimento fora relatado à chefe, que, desejosa de conhecer tão exímio caçador, mandara os seus homens em busca dele, para o convidar a visitá-la. Tshibinda vem com a sua comitiva. A deferência e os sinais de respeito da comitiva espantaram os Lunda e a chefe, a quem Tshibinda cativou com generosas ofertas de caça. Em sinal de boas-vindas, ela sugeriu que partilhassem a refeição. Tshibinda recusou gentilmente o convite, enquanto os seus companheiros lhe explicaram que ele não podia comer em público sem diminuir a sua posição aristocrata e, assim, foi montada uma cabana especial em sua honra. Em pouco tempo, uma amizade nasceu entre Tshibinda e Lueji, que foi imortalizado pelo próprio caçador Luba, ao plantar um grupo de três árvores ao pé da pedra onde se conheceram pela primeira vez. Este local antigo desempenha um papel na cerimónia de investidura dos Mwata Yamvo. Carvalho (1890:73) publicou um desenho das árvores conforme se encontram nas margens do Kalanyi. Os notáveis chamam a atenção dos viajantes para as árvores como prova histórica da sua história.

Mais tarde, Lueji casou com o príncipe. Lueji não podia usar o bracelete lukano enquanto se encontrava com a menstruação. Durante estes períodos cruciais para o país, Lueji entregou este emblema de chefia ao seu marido. A partir desse momento, foi a Tshibinda, como portador do lukano, que o povo prestou homenagem.

Recusando-se a obedecer a um estrangeiro, os irmãos de Lueji, Tshinguli e Tshinyama, imigraram, dirigindo-se para sudoeste com as suas famílias e seguidores. Entre estes encontravam-se Ndumba e Kanyaka, que viriam a conquistar o território dos Tshokwe.

A união de Lueji e Tshibinda não deu descendência. Assim, Lueji escolheu para o seu marido uma segunda mulher, Kamonga Lwaza. Esta deu à luz um filho, Yaav, que se tornou no primeiro Mwaant Yavv ou Mwata Yamvo. Algumas tradições afirmam que Tshibinda reinou por muito tempo e em grande paz ao lado de Lueji e que foi enterrado em território Lunda. Outras relatam que uma onda de hostilidades o obrigaram a abandonar o território do Kalanyi por um lugar desconhecido.

Tshibinda Ilunga transmitiu aos Lunda os segredos da arte da caça; introduziu ainda o conceito de realeza divina e fundou uma dinastia imperial.

Extraído de Marie-Louise Bastin (1982), La Sculpture Tshokwe, Meudon (França): 29-37

In http://ler.letras.up.pt/uploads/ficheiros/7883.pdf


NOTA: A palavra usada para designar os Quiocos (termo usado pelos portugueses e que é oriundo do quimbundo) escreve-se Cokwe em Angola, Tshokwe na República Democrática do Congo e Chokwe na Zâmbia. Aqui temos três maneiras diferentes de escrever a mesma palavra e com a mesma pronúncia! Não seria conveniente que os três países fizessem um acordo ortográfico?

08 julho 2012

Paco Ibáñez canta poetas de Espanha


LA POESÍA ES UN ARMA CARGADA DE FUTURO

Cuando ya nada se espera personalmente exaltante,
mas se palpita y se sigue más acá de la conciencia,
fieramente existiendo, ciegamente afirmando,
como un pulso que golpea las tinieblas,

cuando se miran de frente
los vertiginosos ojos claros de la muerte,
se dicen las verdades:
las bárbaras, terribles, amorosas crueldades.

Se dicen los poemas 
que ensanchan los pulmones de cuantos, asfixiados,
piden ser, piden ritmo,
piden ley para aquello que sienten excesivo,

con la velocidad del instinto,
con el rayo del prodigio,
como mágica evidencia, lo real se nos convierte
en lo idéntico a sí mismo.

Poesía para el pobre, poesía necesaria
como el pan de cada día,
como el aire que exigimos trece veces por minuto,
para ser y en tanto somos dar un sí que glorifica.

Porque vivimos a golpes, porque apenas si nos dejan
decir que somos quien somos,
nuestros cantares no pueden ser sin pecado un adorno.
Estamos tocando el fondo.

Maldigo la poesía concebida como un lujo
cultural por los neutrales
que, lavándose las manos, se desentienden y evaden.
Maldigo la poesía de quien no toma partido hasta mancharse.

Hago mías las faltas. Siento en mí a cuantos sufren
y canto respirando.
Canto, y canto, y cantando más allá de mis penas
personales, me ensancho.

Quisiera daros vida, provocar nuevos actos,
y calculo por eso con técnica, qué puedo.
Me siento un ingeniero del verso y un obrero
que trabaja con otros a España en sus aceros.

Tal es mi poesía: poesía-herramienta
a la vez que latido de lo unánime y ciego.
Tal es, arma cargada de futuro expansivo
con que te apunto al pecho.

No es una poesía gota a gota pensada.
No es un bello producto. No es un fruto perfecto.
Es algo como el aire que todos respiramos
y es el canto que espacia cuanto dentro llevamos.

Son palabras que todos repetimos sintiendo
como nuestras, y vuelan. Son más que lo mentado.
Son lo más necesario: lo que no tiene nombre.
Son gritos en el cielo, y en la tierra, son actos.

Gabriel Celaya (1911-1991)



LO QUE PUEDE EL DINERO

Hace mucho el dinero, mucho se le ha de amar;
Al torpe hace discreto, hombre de respetar,
hace correr al cojo al mudo le hace hablar;
el que no tiene manos bien lo quiere tomar.

También al hombre necio y rudo labrador
dineros le convierten en hidalgo doctor;
Cuanto más rico es uno, más grande es su valor,
quien no tiene dinero no es de sí señor.

Y si tienes dinero tendrás consolación,
placeres y alegrías y del Papa ración,
comprarás Paraíso, ganarás la salvación:
donde hay mucho dinero hay mucha bendición.

El crea los priores, los obispos, los abades,
arzobispos, doctores, patriarcas, potestades
a los clérigos necios da muchas dignidades,
de verdad hace mentiras, de mentiras hace verdades.

El hace muchos clérigos y mucho ordenados,
muchos monjes y monjas, religiosos sagrados,
el dinero les da por bien examinados,
a los pobres les dicen que no son ilustrados.

Yo he visto a muchos curas en sus predicaciones,
despreciar el dinero, también sus tentaciones,
pero, al fin, por dinero otorgan los perdones,
absuelven los ayunos y ofrecen oraciones.

Dicen frailes y clérigos que aman a Dios servir,
más si huelen que el rico está para morir,
y oyen que su dinero empieza a retiñir,
por quién ha de cogerlo empiezan a reñir.

En resumen lo digo, entiéndelo mejor,
el dinero es del mundo el gran agitador,
hace señor al siervo y siervo hace al señor,
toda cosa del siglo se hace por su amor.

Juan Ruiz, Arcipreste de Hita (1284-1351)



ROMANCE DEL PASTOR DESESPERADO

Por aquel lirón arriba
lindo pastor va llorando;
del agua de los sus ojos
el gabán lleva mojado.
—Buscaréis, ovejas mías,
pastor más aventurado,
que os lleve a la fuente fría
y os caree con su cayado.

¡Adiós, adiós, compañeros,
las alegrías de antaño!,
si me muero deste mal,
no me enterréis en sagrado;
no quiero paz de la muerte,
pues nunca fui bien amado;
enterréisme en prado verde,
donde paste mi ganado,
con una piedra que diga:
«aquí murió un desdichado;
murió del mal del amor,
que es un mal desesperado».

Ya le entierran al pastor
en medio del verde prado,
al son de un triste cencerro,
que no hay allí campanario.
Tres serranitas le lloran
al pie del monte serrano;
una decía: «¡Ay mi primo!»
otra decía: «¡Ay mi hermano!»
la más chiquita dellas:
«Adiós, lindo enamorado,
mal te quise por mi mal,
siempre viviré penando».

Anónimo

05 julho 2012

Dornes

A vila de Dornes, no centro da imagem, fica situada numa península (Foto: http://www.dornes.eu)

O Rio Zêzere, que é afluente da margem direita do Rio Tejo, é sem sombra de dúvida um dos rios mais bonitos de Portugal. Desde a Serra da Estrela até Constância, este rio é uma ininterrupta sucessão de belíssimas paisagens e de belíssimas vilas e aldeias. Esta beleza e a paz imensa que nas suas margens se respira fazem do Zêzere um destino turístico altamente recomendável para os dias quentes de verão. Junto a ele, poderá o visitante retemperar o corpo e consolar a alma.

A vila de Dornes, que é sede de uma freguesia do concelho de Ferreira do Zêzere, é uma das localidades situadas nas margens do Zêzere cuja visita se recomenda. Fica sobre uma pequena península que é contornada pelo rio, já na parte formada pela albufeira do Castelo do Bode.

Dornes é muito antiga, é anterior à fundação da nacionalidade. Talvez já no tempo dos lusitanos tenha existido uma povoação no mesmo local, se for verdade a afirmação que alguns fazem de que a torre da vila foi construída sobre as ruínas de uma outra torre, que Sertório teria mandado construir.

Vista aérea de Dornes (Foto: Paulo Moreira)

A vila de Dornes esteve muito ligada aos Templários. A sua torre pentagonal foi mandada erigir por Gualdim Pais (1118-1195), que foi grão-mestre da Ordem dos Templários em Portugal, como parte integrante de um sistema defensivo da Linha do Tejo contra os mouros, que incluía Tomar (onde estava a sede da Ordem), Almourol, etc. No interior da torre de Dornes há diversas estelas funerárias templárias.

Além da torre, a igreja matriz de Dornes também merece uma visita. Nela se encontra a imagem muito venerada de Nossa Senhora do Pranto, que é uma pietà do séc. XVII. Anteriormente a esta imagem, terá existido uma outra idêntica do séc. XIII, sobre a qual se conta a seguinte lenda:

Guilherme de Pavia, feitor da Rainha Santa Isabel, perseguia um veado na Serra Vermelha quando ouviu um doloroso choro. Mas por mais que procurasse não conseguia encontrar de onde vinham tais gemidos. Resolveu então ir contar a novidade à Rainha Santa. Para seu espanto, esta não só sabia o motivo da viagem, como o local exacto onde procurar “… e lhe disse que buscasse no lugar onde ouvia os gemidos e que ahi acharia huma imagem de Virgem Maria Nossa Senhora com outra de seu Santíssimo Filho morto em seus braços, o que elle fez, e entre huns matos, que estavão na áspera Serra da Vermelha… achara escondida a admirável e milagrosa imagem…”.

Veio depois a Rainha admirar o achado que mandou erguer uma capela. À terra chamou Vila das Dores, a actual Dornes.

Da outra margem do rio (Cernache) o povo contestou e revoltou-se porque reclamavam para si a imagem que tinha sido encontrada na Serra da Vermelha, pertencente àquela localidade e termo da Sertã e não a Dornes.

Por diversas vezes a quiseram levar e outras tantas vezes a imagem de Nossa Senhora do Pranto com seu Filho nos braços desapareceu misteriosamente e voltou a aparecer em Dornes, no seu lugar, no altar da Ermida.
(in Freguesia de Dornes)

A torre de Dornes, que foi militar e agora é sineira (Foto: Freguesia de Dornes)