Escaravelhos de "ouro" e de "prata"
Chrysina aurigans (à esquerda) e Chrysina limbata (à direita) (Foto: Eduardo M. Libby)
As joias mais importantes e valiosas do Antigo Egito continham representações de escaravelhos, que simbolizavam uma divindade solar, o deus Khepri. Eram joias feitas de pedras preciosas e metais nobres.
Nas florestas da Costa Rica, por outro lado, existem escaravelhos que, se não são preciosos, pelo menos parecem. São escaravelhos vivos -- e não joias -- que parecem feitos de ouro e de prata, mas não são. Os escaravelhos dourados são da espécie Chrysina aurigans e os prateados são da espécie Chrysina limbata. Tal como todos os outros escaravelhos do mundo, de qualquer cor e feitio, estes escaravelhos estão cobertos de uma substância dura, chamada quitina. Por incrível que pareça, é esta substância que lhes dá a sua cor dourada e prateada.
Um grupo de cientistas da Universidade da Costa Rica descobriu muito recentemente como é que a cutícula de quitina que cobre estes insetos consegue dar-lhes a sua cor metálica característica. Consegue-o, por um lado, através de um fenómeno de difração da luz, que decompõe a luz solar nas suas componentes, tal como no arco-íris. As cores resultantes desta difração são sujeitas, por sua vez, a reflexões em camadas sobrepostas de quitina, que têm espessuras e estão dispostas de tal maneira que as ondas luminosas sofrem interferências umas com as outras e consigo próprias. Destas interferências resulta o apagamento de umas cores, porque se anulam e assim não são refletidas, e o realce de outras, que saem reforçadas do processo. O somatório de todas as cores que são refletidas corresponde à cor final, que no caso destes escaravelhos é semelhante à do ouro e da prata. Espero não ter sido muito confuso nesta explicação, que é necessariamente simplista.
Ora os cientistas costa-riquenhos descobriram que a cutícula que cobre estes escaravelhos -- e que tem uma espessura de cerca de 10 milésimos de milímetro -- tem cerca de 70 camadas extremamente finas de quitina! Estas camadas não têm todas a mesma espessura; elas são cada vez mais finas à medida que estiverem localizadas mais profundamente. É nestas várias camadas de quitina e nas fronteiras entre elas que se produzem os fenómenos óticos acima referidos.
Agora que se descobriu como é que a Natureza consegue sintetizar, através de estruturas orgânicas, as cores do ouro e da prata, é de esperar que surjam, no futuro, estruturas idênticas a estas feitas pelo homem em diversas aplicações. Tornar-se-á certamente ainda mais válido o ditado que afirma que «nem tudo o que luz é ouro».
Joia do Antigo Egito, com a representação de um escaravelho ao centro