Os primeiros europeus a chegarem ao Butão
Moeda comemorativa cunhada pelo Butão para assinalar a chegada àquele reino do padre jesuíta português João Cabral
À data em que escrevo este artigo ainda não teve lugar a atribuição dos óscares para o ano de 2017. Por isso não sei se o filme Silêncio, de Martin Scorsese, ganhou o não o prémio de Melhor Fotografia. Como é sabido, Silêncio é um filme que aborda a presença de padres jesuítas portugueses no Japão no séc. XVII.
Não foram só a Índia, o Japão e a China os países asiáticos aonde os jesuítas portugueses chegaram. Imbuídos de grande fervor religioso e pondo em prática o intenso proselitismo que caracterizava a Companhia de Jesus, os jesuítas atingiram as mais recônditas paragens da Ásia, tendo sido os primeiros europeus a visitá-las. Por exemplo, o padre jesuíta português António de Andrade foi o primeiro europeu a chegar ao Tibete, facto que ocorreu no ano de 1624.
Pouco depois, dois outros jesuítas, os padres Estêvão Cacela e João Cabral, partiram em 1626 da cidade de Cochim, no sul da Índia, com destino aos Himalaias. Eles foram os primeiros europeus a chegar ao Butão, facto que ocorreu em 1627, assim como ao Nepal e ao Sikkim, um pequeno e antigo reino situado entre o Nepal e o Butão, que é hoje um estado da União Indiana. Mais: eles foram os primeiros europeus a viajar pelos Himalaias no inverno. Acabaram por atingir o Tibete, onde fundaram uma missão na cidade de Xigazê.
Tudo isto não seria mais do que uma mera curiosidade histórica, se não se desse o caso de a viagem destes dois padres portugueses ter tido uma importância fundamental para o estudo da História do Reino do Butão. Sem eles, nada ou quase nada se saberia sobre as circunstâncias em que ocorreu a fundação daquele pequeno reino budista dos Himalaias, empreendida pelo rei (Shabdrung) Ngawang Namgyal, assim como o modo como então se vivia naquela parte do mundo.
Os padres Estêvão Cacela e João Cabral permaneceram oito meses no Butão. Durante esse tempo, o padre Cacela escreveu uma longa carta ao seu superior em Cochim, relatando a sua viagem e dando conta das observações que fez, nomeadamente no próprio Butão. Esta carta, chamada A Relação, está no Vaticano e é o único relato que se conhece sobre o Shabdrung Ngawang Namgyal e a fundação do Reino do Butão. Não admira, portanto, que Cacela e Cabral sejam duas personalidades que os butaneses conhecem bem dos seus livros de História.
Trailer de um filme da ONG alemã Pro Bhutan e.V. sobre a sua ação no Butão
O Butão é um país encravado nos Himalaias, entre a Índia e a China. Tem um comprimento de cerca de 300 km, uma largura de cerca de 150 km e uma área total de 38 394 km2. A sua altitude varia entre os 300 metros no sul e os mais de 7 mil metros no norte. A população atual ronda os 750 mil habitantes. A capital é Thimphu, com cerca de 100 mil habitantes. O principal produto de exportação do Butão é a eletricidade, que é gerada em barragens e vendida à Índia.
Politicamente, o Butão é desde 2008 uma monarquia constitucional, com um parlamento democraticamente eleito.
Nos anos 90 do século passado, o governo do Butão expulsou a população de etnia Lhotshampa, de origem nepalesa e que constituía um quinto da população total do país, e negou-lhe a cidadania butanesa, tornando-a apátrida. Alguns Lhotshampas têm sido ultimamente autorizados a regressar e a fixar-se em zonas desabitadas do sul.
Na língua oficial do país, chamada Dzongkha, o Butão é chamado Druk Yul, nome que significa "Terra do Dragão do Trovão", por causa das furiosas tempestades que vêm das montanhas dos Himalaias.
Por imposição constitucional, a floresta deve cobrir permanentemente pelo menos 60% da área do país.
A idade média da população butanesa é de 22,3 anos. Um terço da população tem menos de 14 anos.
(Foto: Claude Pesant)
A capital do Butão, Thimphu, é uma das duas únicas capitais asiáticas onde não existem semáforos para regular o trânsito. A outra capital é Pyongyang, na Coreia do Norte.
O Butão é o único país do mundo onde a venda de tabaco é proibida.
Com 7570 metros de altitude, Gangkhar Puensum é a montanha mais alta do Butão e é a mais alta montanha do mundo que nunca foi escalada.
Manda a tradição butanesa que, se alguém lhe oferecer comida, deve recusar, dizendo as palavras «meshu meshu» e cobrindo a boca com as mãos. Se insistirem mais uma ou duas vezes, então pode aceitar.
Se alguém matar um grou de pescoço negro, que é uma espécie de ave sagrada e em risco de extinção, pode ser condenado a prisão perpétua.
O Butão foi um dos últimos países do mundo a ter televisão e internet. A primeira emissão de televisão ocorreu em 2 de junho de 1999.
A religião oficial do Butão é o budismo, que é seguido pela maioria da população. A segunda religião é o hinduísmo.
Perto de 85,5 % dos adultos e quase 24 % dos jovens butaneses são analfabetos.
A primeira autorização dada a estrangeiros para visitarem o Butão como turistas foi dada em 1974.
O Butão é o único país do mundo que absorve mais dióxido de carbono do que emite.
Em vez de usar o Produto Interno Bruto como índice económico, o Butão usa a Felicidade Interna Bruta, com base no desenvolvimento sustentável, proteção ambiental, preservação cultural e boa governação.
Os sacos de plástico estão proibidos no Butão desde 1999.
Pintar falos nas paredes das casas é uma antiga tradição butanesa, destinada a proporcionar fertilidade e boa sorte.
(Fotos de autores desconhecidos)
AGRADECIMENTO
Agradeço a Raul Silva o apoio prestado para a elaboração deste texto.