Africana, esta jovem?
Por incrível que pareça, ela é tão africana como as suecas ou as japonesas. Os seus antepassados saíram de África há várias dezenas de milhares de anos, tal como os antepassados das suecas, das japonesas e de todos os outros seres humanos considerados não-africanos.
Esta jovem que aqui se vê é natural de um arquipélago pertencente à Índia, o arquipélago de Andaman, que fica no Golfo de Bengala, entre a Índia e a Tailândia.
Os naturais de Andaman são habitualmente chamados "negritos", por causa da cor da sua pele e da sua pequena estatura. Um homem desta etnia mede em média 1,52 metros de altura. As mulheres são ainda mais baixas. Quer isto dizer que estas pessoas são apenas ligeiramente mais altas do que os pigmeus da África Central.
A população negrita total de Andaman não passa de algumas centenas de pessoas. Além do arquipélago de Andaman, existem também escassíssimas populações negritas vivendo na Malásia e nas Filipinas. Há igualmente relatos, e até fotografias, que testemunham terem existido negritos na Austrália, os quais desapareceram completamente.
Os negritos de Andaman são caçadores e colectores. Recusam, tanto quanto estiver ao seu alcance, qualquer contacto com o mundo exterior. Esta atitude poderá ser uma consequência da grande violência com que foram tratados pela colonização inglesa.
Oficialmente, a Índia tem respeitado a vontade de isolamento dos negritos de Andaman, mas rasgou uma estrada que atravessa a ilha de Grande Andaman quase de uma ponta à outra, a qual facilita a penetração de pessoas vindas de fora, sobretudo do subcontinente indiano. Pode-se dizer, portanto, que os negritos desta ilha se vêem ameaçados no seu modo de vida, na sua cultura e, até, na sua própria sobrevivência como povo.
Os habitantes da vizinha e pequena ilha de Sentinela do Norte, por seu lado, recusam mesmo toda e qualquer espécie de contacto com o exterior, seja ele qual for, mostrando-se completamente hostis a qualquer pessoa estranha. Não hesitarão, mesmo, em matar à flechada quem se atrever a pôr os pés na sua ilha. Os sentinelenses são, por isso, uma das populações mais isoladas da Terra.
Qualquer observação de um mapa daquela parte do mundo revelará que o arquipélago de Andaman fica extraordinariamente próximo do local onde teve origem o terrível tsunami que, em 26 de Dezembro de 2004, devastou as costas do Oceano Índico de uma forma tão pavorosa. Em face do tremendo número de vítimas registado nos países envolventes e também no vizinho arquipélago de Nicobar, esperou-se que os negritos de Andaman também tivessem sofrido pesadíssimas perdas em vidas humanas. Chegou-se mesmo a recear que eles tivessem sido, pura e simplesmente, varridos da face da Terra, pois as suas ilhas são muito baixas.
Para grande espanto, nenhum negrito de Andaman morreu na catástrofe. Enquanto as pessoas "civilizadas" morriam aos milhares e milhares, os "primitivos" negritos de Andaman souberam prever a vinda do tsunami, graças aos seus profundos conhecimentos das correntes marítimas, dos ventos, do comportamento dos peixes e das aves, da ondulação do mar, etc. Sentindo sinais de perigo, estes homens e mulheres "da Idade da Pedra" puseram-se a salvo no interior das suas ilhas, protegidos pelas florestas que as cobrem, antes que o tsunami chegasse.
Aqui está uma lição que nos ensina que nunca devemos menosprezar a sabedoria de um povo, por mais "atrasado" ou "primitivo" que ele nos pareça. Ele pode possuir conhecimentos de que nós nem sequer suspeitamos.