26 junho 2021

Oceanos, de Cândido Lima


Oceanos, uma composição de música eletrónica, datada de 1978–1979, da autoria de Cândido Lima, um dos mais destacados compositores contemporâneos portugueses

19 junho 2021

O soldado que foi para o céu



(Desenho de autor desconhecido)


Ia uma vez um soldado para casa com a baixa; quando ia a passar por uma ponte encontrou um pobre de pedir, que não tinha dinheiro para pagar a passagem e estava ali parado. Ora o soldado nunca tinha feito bem a ninguém; mas naquele instante teve pena do velhinho e carregou com ele às costas e passou a ponte. O soldado não pagou nada, porque os soldados não pagam, e o velho também não pagou nada porque ia às costas do soldado. Logo que chegou ao outro lado, pôs o velho no chão, e ia despedir-se dele, quando o pobre lhe disse:

— Camarada, peça alguma cousa, que o que eu quero é agradecer-lhe.

— Ora o que lhe hei de eu pedir?

— Peça tudo o que quiser.

O soldado pediu: Que todas as vezes que disser «Salta aqui à minha mochilinha!» nenhuma cousa deixe de obedecer à minha ordem. E que onde quer que me eu assente ninguém me possa mandar levantar.

O velho disse-lhe que estava concedido. Foi-se o soldado muito contente para casa e nunca mais trabalhou, e viveu bem, sem lhe faltar nada. Se queria pão, carne, vinho, dinheiro, dizia: «Salta aqui à minha mochilinha», e tinha logo tudo o que lhe era preciso. Veio o tempo e o soldado estava para morrer; os diabos vieram logo para lhe levarem a alma, mas o soldado viu-os e gritou: «Saltem aqui já à minha mochilinha!» Os diabos não tiveram remédio senão obedecer; ele assim que os apanhou dentro da mochila mandou-a a casa do ferreiro para que lhe malhasse em cima até os deixar em estilhas. Por fim o soldado morreu, e como tinha passado sempre na má vida, foi parar ao inferno. Os diabos assim que o lá viram começaram a gritar:

Fecha portas e postigos,
Senão seremos aqui todos batidos.

E aferrolharam as portas, e o soldado não pôde entrar para lá; foi então bater às portas do céu. São Pedro assim que o viu, disse-lhe:

— Vens enganado! Não entras cá. Não te lembras da má vida que levaste?

Responde-lhe o soldado:

— Oh, senhor São Pedro! no inferno não me quiseram. Eu agora para onde hei de ir?

— Arranja-te lá como puderes.

O soldado viu meia porta do céu aberta, e pega no barrete e atira-o lá para dentro, e disse:

— Oh senhor São Pedro, deixe-me ir apanhar o meu barrete.

São Pedro deixou; mas o soldado assim que se viu dentro do portal, sentou-se logo na cadeira dele. São Pedro quis mandá-lo sair mas não pôde e foi dali à pressa queixar-se a Nosso Senhor, que lhe disse:

— Deixa-o entrar, Pedro, não tens outro remédio, porque assim lhe estava prometido.

E o soldado sempre ficou no céu.



Conto popular recolhido no Porto. Contos Tradicionais do Povo Português, por Teófilo Braga (1843–1924)

14 junho 2021

Publicidade enganosa


Anúncio de imprensa, publicado por volta de 1970, mais ano, menos ano, em jornais e revistas portugueses. Este anúncio sugere que os cigarros da marca publicitada eram tão inofensivos, que até os médicos os fumavam

11 junho 2021

Chorinhos de Chiquinha Gonzaga


Gaúcho, de Chiquinha Gonzaga (1847–1935), pelo agrupamento musical Retratos


Saci-Pererê, A Corte na Roça, A Dama de Ouros, Não Insistas, Rapariga e Atraente, de Chiquinha Gonzaga (1847–1935), pelo pianista Marco Aurélio Xavier


Faceiro, de Chiquinha Gonzaga (1847–1935), pela pianista Olinda Allessandrini

04 junho 2021

A felicidade de viver


Le bonheur de vivre, óleo sobre tela de Henri Matisse (1869–1954), The Barnes Foundation, Filadélfia, Pensilvânia, Estados Unidos da América

Le bonheur de vivre é um quadro de grandes dimensões do artista plástico francês Henri Matisse. Quando foi exposto pela primeira vez no Salão dos Independentes de 1906, em Paris, este quadro provocou protestos por parte do público, assim como uma opinião negativa dos críticos de arte. Agora, ele é considerado um dos melhores exemplares da corrente modernista no domínio da pintura.

Há quem afirme que Le bonheur de vivre é uma pintura inspirada numa gravura do artista italiano Agostino Carracci, chamada Reciproco Amore, a qual, por sua vez, se inspirou num quadro do pintor flamengo Pauwels Franck, intitulado "Amori"- Reciproco amore (Etá dell'oro).


Reciproco Amore, gravura de Agostino Carracci (1557–1602), Ashmolean Museum, Oxford, Reino Unido


"Amori"- Reciproco amore (Etá dell'oro), óleo sobre madeira de Pauwels Franck (c.1540–1596), Kunsthistorisches Museum, Viena, Áustria