29 janeiro 2018

Álvaro Nogueira


Repouso na fuga para o Egito, de Álvaro Nogueira, óleo sobre madeira datado de 1590. Museu Nacional de Machado de Castro, Coimbra


Álvaro Nogueira (1560–1635) foi um pintor maneirista natural de Penacova. Considerado um pintor secundário, Álvaro Nogueira deixou numerosas obras, de entre as quais se destacam um retábulo existente na igreja da Misericórdia do Louriçal, no concelho de Pombal, assim como duas pinturas sobre madeira, chamadas “Repouso na Fuga para o Egito” e “Juízo Final”, que estão no Museu Nacional de Machado de Castro, em Coimbra.

26 janeiro 2018

As varandas de Chaves


Correnteza de casas na Rua Direita, Chaves (Foto: Carlos Alberto Silva)


Não faltam motivos de interesse para quem quiser visitar a cidade de Chaves:

— As ruínas romanas das termas de Chaves, que estiveram na origem da cidade;

— O Museu de Arte Contemporânea Nadir Afonso, que reúne dois nomes maiores da cultura portuguesa: o arquiteto Álvaro Siza Vieira, que projetou o edifício, e o pintor flaviense Nadir Afonso, que foi um dos maiores artistas plásticos portugueses do séc. XX;

— O Castelo da cidade, com a sua imponente Torre de Menagem;

— A Ponte de Trajano, sobre o Rio Tâmega, que é uma ponte autenticamente romana;

— A Igreja Matriz, dedicada a Santa Maria Maior, de estilo originalmente românico, ao qual se juntaram vários outros estilos ao longo dos séculos;

— A Igreja da Misericórdia, situada nas proximidades da Igreja Matriz, que é de estilo barroco e tem um conjunto notável de painéis de azulejos no seu interior;

— O Forte de São Francisco, que aloja uma das melhores unidades hoteleiras da cidade;

— A gastronomia local, em que os produtos do fumeiro desempenham um papel preponderante, sem esquecer os célebres pastéis de Chaves, é claro;

— e muito, muito mais.

Ainda por cima, sendo Chaves uma cidade relativamente pequena, tudo isto está praticamente ao alcance da mão do visitante.

Mas existe em Chaves uma preciosidade a que eu dou uma importância muito particular: as maravilhosas varandas flavienses. Sempre que percorro a Rua Direita e outras ruas do centro histórico da cidade, vou de nariz no ar e de boca aberta de espanto e de encantamento, admirado com a beleza das varandas de madeira e de ferro forjado que nessas ruas se veem. As varandas, por si sós, justificam plenamente uma visita à bela cidade de Chaves.










23 janeiro 2018

Uma Quissama


(A Carlos d'Almeida)

Em manhã fria, nevada,
n'essas manhãs de cacimbo
em que uma alma penada
não se lembra de ir ao limbo;

eu vi formosa, correcta,
não sendo europeia dama
a mais sedutora preta
das regiões da Quissama.

Mal quinze anos contava
e no seu todo brilhava
o ar mais doce e gentil!
Tinha das mulheres lindas
as graças bellas, infindas,
d'encantos, encantos mil!…

Nos lábios — posto que escuros
viam-se-lhe risos puros
em borbotões assomar...
Tinha nos olhos divinos
revérberos crystalinos
… e fulgores… de matar!…

Radiava-lhe na fronte
como em límpido horizonte
radia mimosa luz —
da virgem casta a candura
que soe dar a formosura
a graça que brota a flux!…

Embora azeitados pannos,
lhe cobrisse os lácteos pomos
denunciavam os arcanos
de dois torneados gomos…

Da cintura a palmo e meio,
bem tecidinho, redondo,
descia-lhe em doce enleio
um envoltório de hondo (*)

Viam-se-lhe a descoberto
— com arte bem modeladas —
(e que eu mirava de perto)
umas formas cinzeladas.

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Co'o seu andar majestoso,
co'o seu todo gracioso,
quando a quissama encarei;

eu possuir um harém
e n'elle ter umas cem
— como um sultão — desejei!…

Joaquim Cordeiro da Matta (1857–1894), poeta angolano


(*) Hondo, fibra d´embondeiro de que os quissamas fazem vestuário.


Viúva da Quiçama, Angola, retratada por Albano Neves e Sousa (1921–1995)

20 janeiro 2018

Apoio para a cabeça


Apoio para uma pessoa colocar a cabeça enquanto dorme, em jeito de travesseiro. Artista anónimo do povo Luba, República Democrática do Congo. Museu do Quai Branly, Paris, França

14 janeiro 2018

A tragédia dos índios Xetá



Xetá é o nome de uma tribo de índios brasileiros, do grupo linguístico tupi-guarani, originários do noroeste do estado do Paraná. Esta tribo foi quase totalmente exterminada do modo descrito neste vídeo, ao ponto de só restarem oito sobreviventes em 1999, dispersos pelos estados do Paraná, Santa Catarina e São Paulo. Desde então, os Xetá têm vindo a multiplicar-se, em resultado do casamento dos sobreviventes com índios de outras tribos e com não-índios. De acordo com o Instituto Socioambiental, em 2014 já se contavam 69 índios Xetá. Da destruição da floresta que os Xetá habitavam resultou uma catástrofe ecológica, também mostrada no vídeo.

A tragédia que atingiu os Xetá não é coisa do passado. Neste preciso momento, em pleno século XXI, outras tribos de índios brasileiros passam por provações equivalentes. É o caso dos Guarani Kaiowá, do Mato Grosso do Sul, que vivem em barracas na beira da estrada, depois de terem sido expulsos das suas terras ancestrais por fazendeiros, e cujos líderes são sistematicamente assassinados por pistoleiros, um após outro. É o caso, igualmente, dos Korubo do oeste do Amazonas, que têm sido perseguidos e chacinados por madeireiros e garimpeiros. E existem outros casos, igualmente graves, nestes e noutros estados brasileiros. A situação dos índios tem vindo a agravar-se desde que Michel Temer foi feito presidente do Brasil.

09 janeiro 2018

Retrato do Herói

Herói é quem num muro branco inscreve
O fogo da palavra que o liberta:
Sangue do homem novo que diz povo
e morre devagar    de morte certa.

Homem é quem anónimo por leve
lhe ser o nome próprio traz aberta
a alma à fome    fechado o corpo ao breve
instante em que a denúncia fica alerta.

Herói é quem morrendo perfilado
Não é santo    nem mártir    nem soldado
Mas apenas    por último    indefeso.

Homem é quem tombando apavorado
dá o sangue ao futuro e fica ileso
pois lutando apagado morre aceso.

José Carlos Ary dos Santos (1937–1984)


07 janeiro 2018

Cete


Fachada principal do mosteiro de São Pedro de Cete (Foto: Rota do Românico)

Cete (lê-se "Cête") é uma vila do concelho de Paredes, situada a cerca de 30 km da cidade do Porto. O que há de mais notável em Cete é o seu mosteiro românico, dedicado a São Pedro, que foi um dos vários mosteiros beneditinos da Ordem de Cluny construídos em Portugal.

Tudo indica que o mosteiro de São Pedro de Cete já existia no ano de 924, data de um documento que lhe faz referência. A poderosa torre ameada da igreja, de caráter claramente defensivo, é testemunha de um tempo de guerras, pilhagens, invasões, conquistas e reconquistas, não só entre cristãos e muçulmanos, mas também entre habitantes locais e atacantes normandos (vikings). Estes últimos, vindos do mar pelo rio Douro adentro, cobiçavam as riquezas das populações e das comunidades monásticas, que saqueavam. As igrejas eram um refúgio para os habitantes em pânico, que assim procuravam defender-se dos exércitos mouros e das hordas normandas.

O que hoje se vê no mosteiro de São Pedro de Cete não é apenas românico, mas também gótico, em resultado de acrescentos e restauros feitos, sobretudo, nos séculos XIII e XIV. Além do exterior do mosteiro, merecem ser admirados o despojado, mas belo, interior da igreja e o claustro românico.


Claustro do mosteiro de São Pedro de Cete (Foto: Direção Regional de Cultura do Norte)

01 janeiro 2018

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança;
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.

Continuamente vemos novidades,
Diferentes em tudo da esperança;
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem, se algum houve, as saudades.

O tempo cobre o chão de verde manto,
Que já coberto foi de neve fria,
E em mim converte em choro o doce canto.

E, afora este mudar-se cada dia,
Outra mudança faz de mor espanto:
Que não se muda já como soía.

Luís de Camões (1524–1580)