31 dezembro 2012
Roll Over Beethoven, por Chuck Berry
Rock Around The Clock, por Bill Haley
Jailhouse Rock, por Elvis Presley
Be-Bop-A-Lula, por Gene Vincent
Tutti Frutti, por Little Richard
Whole Lotta Shakin' Going On, por Victor Gomes e Os Gatos Negros
27 dezembro 2012
Subir ao Everest sem pôr lá os pés
Clicar na imagem para vê-la em toda a sua grandiosidade (Foto: GlacierWorks)
David Breashears é um norte-americano de 57 anos de idade fascinado pelo monte Everest e pela cordilheira dos Himalaias em geral. Já subiu cinco vezes ao Everest, realizou vários documentários sobre esta montanha e também sobre o Kilimanjaro, publicou diversos livros, fundou uma agência de viagens especializada em turismo de aventura nos Himalaias e também fundou uma organização não-lucrativa, chamada GlacierWorks, destinada a chamar a atenção das pessoas para as consequências do aquecimento global sobre os Himalaias e os países que deles dependem.
Na primavera passada, David Breashears voltou aos Himalaias para tirar cerca de 400 fotografias a partir de um determinado ponto de observação, sobranceiro ao acampamento base do Everest. Agora, ele acaba de publicar estas fotografias na Internet, todas digitalmente ligadas umas às outras de modo a que constituam uma só imagem de grandes dimensões. Com o auxílio desta imagem, podemos "passear" pelo Everest e pela região envolvente, até conseguirmos ver detalhes tão insignificantes como um homem a lavar a cara, alpinistas em ação, o gelo a escorregar pela face das montanhas, etc. Para fazê-lo, basta clicar na imagem que acima se mostra.
A avaliar pelo número de tendas que se veem no acampamento, diríamos que o Everest é um lugar mais concorrido do que a VCI à hora de ponta... Mas, de toda a gente que ali estava, quantos é que terão conseguido verdadeiramente subir ao ponto mais alto do nosso planeta?
25 dezembro 2012
Natal, e não dezembro
Entremos, apressados, friorentos,
Numa gruta, no bojo de um navio,
Num presépio, num prédio, num presídio,
No prédio que amanhã for demolido...
Entremos, inseguros, mas entremos.
Entremos, e depressa, em qualquer sítio,
Porque esta noite chama-se Dezembro,
Porque sofremos, porque temos frio.
Entremos, dois a dois: somos duzentos,
Duzentos mil, doze milhões de nada.
Procuremos o rasto de uma casa,
A cave, a gruta, o sulco de uma nave...
Entremos, despojados, mas entremos.
De mãos dadas talvez o fogo nasça,
Talvez seja Natal e não Dezembro,
Talvez universal a consoada.
David Mourão-Ferreira (1927-1996)
Uma Pequena Cantata de Natal, de Sérgio Azevedo, por alunos do Conservatório de Música do Porto
24 dezembro 2012
na hora de pôr a mesa, éramos cinco...
na hora de pôr a mesa, éramos cinco:
o meu pai, a minha mãe, as minhas irmãs
e eu. depois, a minha irmã mais velha
casou-se. depois, a minha irmã mais nova
casou-se. depois, o meu pai morreu. hoje,
na hora de pôr a mesa, somos cinco,
menos a minha irmã mais velha que está
na casa dela, menos a minha irmã mais
nova que está na casa dela, menos o meu
pai, menos a minha mãe viúva. cada um
deles é um lugar vazio nesta mesa onde
como sozinho. mas irão estar sempre aqui.
na hora de pôr a mesa, seremos sempre cinco.
enquanto um de nós estiver vivo, seremos
sempre cinco.
José Luís Peixoto, escritor português contemporâneo
(Foto: Fernanda Grilo)
20 dezembro 2012
Dança macabra
Danse macabre, de Camille Saint-Saëns (1835-1921), num arranjo para piano de Franz Liszt, por Behzod Abduraimov, jovem pianista do Uzbequistão
14 dezembro 2012
Vénus, Cupido, Vulcano e Marte
Vénus e Marte surpreendidos por Vulcano, óleo sobre tela de Tintoretto (1518-1594), Alte Pinakothek, Munique, Alemanha
Os deuses da mitologia greco-romana eram tudo menos modelos de virtudes. Era-lhes atribuída toda a espécie de qualidades e de defeitos, tal como entre os mortais.
Neste quadro do pintor veneziano Tintoretto (de seu nome próprio Jacopo Comin, a quem também chamaram Jacopo Robusti e Il Furioso), podemos ver a deusa do amor Vénus reclinada no seu leito, enquanto o marido enganado, que é o deus do fogo Vulcano, procura vestígios de amores ilícitos. Ao mesmo tempo, Cupido finge estar a dormir. No canto inferior direito da tela, um cão prepara-se para ladrar e assim denunciar a presença do amante de Vénus, que é o deus da guerra Marte, escondido debaixo de uma outra cama... O escudo de Marte, funcionando como um espelho, permitiu a este deus ver a aproximação de Vulcano e esconder-se antes de ele chegar.
08 dezembro 2012
Dave Brubeck (1920-2012)
O pianista de jazz norte-americano Dave Brubeck faleceu um dia antes de completar 92 anos de idade. Aqui se pode escutar o seu Quarteto, com Bobby Militello no saxofone, Michael Moore no contrabaixo, Randy Jones na bateria e o próprio Dave Brubeck no piano
07 dezembro 2012
R.I.P. Papiniano Carlos
Papiniano Carlos (1918-2012), escritor neorrealista português (Foto de autor desconhecido)
CANÇÃO
(Poema dedicado a Catarina Eufémia)
Na fome verde das searas roxas
passeava sorrindo Catarina.
Na fome verde das searas roxas
ai a papoula cresce na campina!
Na fome roxa das searas negras
que levas, Catarina, em tua fronte?
Na fome roxa das searas negras
ai devoravam os corvos o horizonte!
Na fome negra das searas rubras
ai da papoula, ai de Catarina!
Na fome negra das searas rubras
trinta balas gritaram na campina.
Trinta balas
te mataram a fome, Catarina.
OS CICLISTAS
(A Vasco de Magalhães-Vilhena)
Com um surdo rumor de escavadora
ressoa no subsolo a tua voz.
Muitos tapam os ouvidos delicados.
Outros escondem-se para não ouvir.
E outros estremecem de pavor.
Mas, rápidos, os ciclistas pedalam
na bruma dos subúrbios ao teu encontro.
Rosto baixo, mãos no guiador, pés
bem firmes nos pedais, geram
o movimento, o ritmo alado
das máquinas frágeis que cavalgam
ao amanhecer. Perpassam como espectros
sob a bruma e juntam-se, confluem,
avançam como um rio poderoso
sobre a cidade adormecida.
Os ciclistas. Os que erguem os andaimes
e fazem girar os fusos dos teares.
Os que movem as gruas. Os que transportam
a dinamite nas mãos calosas.
Os que não sabem envelhecer de tédio
à mesa do café nem vivem de mercadejar
preservativos, palavras, casas pré-fabricadas.
Os que não sonham morrer em glória
como jovens deuses trespassados na batalha.
Os que não hão-de apodrecer, como muitos
de nós, roídos de lepra e desespero.
Esses merecem bem a tua voz, Orfeu.
Papiniano Carlos
Bicicleta de trabalho, vulgo "pasteleira" (Foto de autor desconhecido)
06 dezembro 2012
Companheiros inesquecíveis
Os camaradas angolanos que tive na minha companhia, durante a minha comissão militar, eram filhos do povo. Do admirável e sofrido povo de Angola. Quer isto dizer que, para a esmagadora maioria deles, foi só quando passaram a fazer parte da nossa companhia que eles puderam, pela primeira vez nas suas vidas, relacionar-se com brancos de igual para igual. Olhos nos olhos, ombro com ombro, de homem para homem. E foram insuperáveis no companheirismo e na dignidade com que se relacionaram connosco, os europeus da companhia.
Isto que acabo de escrever não é retórica. Encontrando-se na mesma situação que nós, de ter que fazer uma guerra que não queriam nem desejavam, no cumprimento do serviço militar obrigatório, os nossos camaradas angolanos não se limitaram a partilhar as suas vidas connosco no seio da companhia; eles fizeram parte integrante de nós mesmos, tanto quanto isto foi possível. Eles travaram os mesmos combates que nós. Eles caíram nas mesmas emboscadas que nós. Eles enfrentaram as mesmas minas que nós. Eles contornaram as mesmas "bocas-de-lobo" que nós. Eles suaram os mesmos cansaços que nós. Eles enjoaram as mesmas rações de combate que nós. Eles dormiram debaixo da mesma chuva que nós. Eles tremeram os mesmos medos que nós. Eles riram as mesmas alegrias que nós. Eles choraram as mesmas saudades que nós. Eles acalentaram as mesmas esperanças que nós. Eles foram nós. Todos fomos nós.
À medida que o serviço militar ia decorrendo, os nossos camaradas angolanos iam sendo cada vez menos os jovens assustados dos primeiros tempos, para se tornarem homens de caráter, responsáveis e adultos, que nunca viravam a cara ao perigo e sempre agiam de acordo com a sua consciência (à imagem e semelhança do que acontecia com os seus camaradas portugueses, é muito importante que se diga isto). Ansiavam pelo momento em que, quando acabassem a tropa e regressassem à condição civil, pudessem finalmente construir as suas vidas, isto é, pudessem casar-se, constituir família e arranjar um emprego minimamente estável e razoavelmente remunerado, tanto quanto era possível a africanos vivendo na Angola colonial.
Subitamente, a um par de meses do fim previsto para o nosso serviço militar, deu-se a Revolução do 25 de Abril, à qual manifestei o meu apoio na minha condição de alferes miliciano. A Revolução abriu novos horizontes e gerou novas esperanças no coração de todos, angolanos e portugueses, eu incluído. A partir dessa data, os nossos camaradas angolanos passaram a esperar um futuro que antes não tinham podido esperar, porque lhes estivera vedado.
Eles esperaram poder aceder a empregos que até então tinham sido tacitamente reservados a brancos, como os de motoristas de táxi ou empregados bancários. Esperaram poder ganhar tanto e ter as mesmas possibilidades de promoção e de aumento de salário que um branco que fizesse o mesmo trabalho que eles. Esperaram poder entrar nos estabelecimentos comerciais que quisessem, sem receio de serem atendidos com maus modos e enxotados e sem terem que pagar mais do que pagaria um branco pelos mesmos artigos. Esperaram ter condições que lhes permitissem viver numa casa que merecesse o nome de casa, e não numa construção precária de adobe ou de blocos de cimento ou numa cubata. Esperaram que os seus filhos viessem a ter os estudos que eles próprios não puderam ter, apesar da sua enorme vontade de aprender. Enfim, eles viram abrir-se diante de si a perspetiva de uma vida muito mais livre, próspera e feliz do que tinham tido até então, uma vida sem humilhações e sem pobreza.
Quando no fim do serviço militar nos separámos, as nossas vidas — as dos portugueses por um lado e as dos angolanos por outro — tomaram caminhos terrivelmente distintos. Enquanto nós, os portugueses, pudemos recomeçar as nossas vidas (melhor ou pior, consoante a condição psíquica e física em que ficámos) num Portugal em paz, os nossos camaradas angolanos mergulharam numa guerra incomparavelmente mais terrível do que a guerra de guerrilhas que eles e nós tínhamos enfrentado juntos: a guerra civil que estalou em Angola em 1975 e que só terminou definitivamente em 2002.
Não sei quantos dos meus camaradas angolanos voltaram então a pegar em armas. Sei apenas que pelo menos um deles o fez, alistando-se nas FAPLA quando Angola foi invadida pelo exército sul-africano. Acabou por morrer em 1982, perto do Huambo. Como lamento a sua morte! Apesar de pequeno em estatura, este meu camarada era um gigante na valentia. É que era mesmo!
Muitos dos nossos camaradas angolanos eram oriundos do Huambo, do Kuito, de Malanje e de outras terras onde a guerra civil atingiu o seu paroxismo. Estes nossos camaradas apanharam em cheio com um dilúvio de fogo e de metralha que durou anos e anos a fio. Mais tarde ou mais cedo devem ter sido obrigados a abandonar tudo o que tinham e a procurar refúgio no mato ou tomar o caminho de Luanda, Benguela, Lubango ou outro sítio onde se pudessem sentir mais seguros. Devem ter enfrentado a fome, as doenças, as minas e sabe-se lá que mais. Quantos deles terão conseguido sobreviver a tudo isto? Tremo só de pensar. Naquela guerra houve tantos mortos! Tantos corpos despedaçados! Tantas famílias destroçadas! Todos os sonhos e todas as esperanças, que a seguir ao 25 de Abril esses nossos camaradas tinham alimentado, foram varridos por uma arrasadora torrente de guerra e de morte.
De maneira nenhuma eu desejo diminuir o valor dos meus camaradas portugueses, que em tudo era igual ao dos angolanos, sem qualquer sombra de dúvida. Não é disso que se trata. O que apenas pretendo fazer é prestar uma homenagem muito sincera, ainda que canhestra, a pessoas que tive o enorme privilégio de conhecer, cheias de humanidade, de sensibilidade e de coragem, que me deram extraordinárias lições de vida e que eram as últimas pessoas no mundo a merecer a sorte que o destino lhes tinha reservado: os meus antigos camaradas de armas angolanos. Faço-o com um nó na garganta.
02 dezembro 2012
Ratos nossos amigos
O rato gigante africano, Cricetomys gambianus, é um roedor comum em toda a África Subsariana (Foto de autor desconhecido)
Bart Weetjens é um engenheiro belga convertido ao budismo, que desde criança sente um fascínio por ratos. Bart Weetjens teve uma ideia que outros consideraram disparatada: usar ratos para detetar minas terrestres. Segundo ele, os ratos são dotados de um faro extraordinário, talvez superior ao dos próprios cães, e por isso podem ser usados na deteção de substâncias químicas, tais como explosivos. Por outro lado, são animais pequenos, que podem andar por cima de campos de minas sem perigo, porque o seu pouco peso não chega para fazer detonar as minas. Porque não se haveria de usar ratos para descobrir minas enterradas no solo?
Bart Weetjens com um "HeroRAT" ao ombro (Foto: APOPO)
Se bem pensou, melhor o fez. Bart Weetjens fundou uma organização não-governamental chamada APOPO e estabeleceu-se em Morogoro, na Tanzânia, onde pôs em prática a sua ideia, abrindo um centro de treino para os seus ratos com o apoio de uma universidade local. Os resultados são espetaculares. Só em Moçambique, sobretudo na província de Gaza e até 2011, os "HeroRATS" já limparam 753 932 metros quadrados de terreno, tendo encontrado 1860 minas terrestres, outros 783 engenhos explosivos e 12 817 armas e munições!
Um "HeroRAT" nas mãos do seu tratador (Foto: APOPO)
Os vídeos que se seguem ilustram eloquentemente o que acabo de dizer.
Na Colômbia, onde persiste uma guerra entre o exército governamental e os guerrilheiros das FARC, a ideia do engenheiro belga está sendo imitada, como se pode ver nesta página da BBC.
Um outro projeto em que a APOPO está envolvida consiste em utilizar ratos para detetar tuberculose pulmonar em secreções humanas. Os resultados obtidos são também extraordinários: com o auxílio dos ratos, foi diagnosticada tuberculose pulmonar em mais de 2550 doentes. O treino de "HeroRATS" para a deteção de tuberculose pulmonar pode ser visto a seguir.