25 fevereiro 2023

Caminhada para Cesareia


O Coro das Forças Armadas Ucranianas interpreta em hebraico o cântico Halika LeKeisarya (Caminhada para Cesareia), musicado em 1945 por David Zehavi para um poema escrito em 1942 pela judia húngara e combatente da Resistência Hannah Szenes, que foi capturada, torturada e terá sido fuzilada em 1944 pelos nazis. Este vídeo foi gravado no monumento às vítimas do Holocausto existente em Babyn Yar (Babi Yar), uma ravina na cidade de Kiev, capital da Ucrânia, onde os nazis assassinaram, durante a II Guerra Mundial, mais de cem mil judeus, ciganos e outros

23 fevereiro 2023

Nas ondas


Dans les Vagues, óleo sobre tela de Paul Gauguin (1848– 1903). The Cleveland Museum of Art, Cleveland, Ohio, Estados Unidos da América

Quanto mais o frio aperta, mais saudades sentimos do calor do verão. A cada dia que passa, cresce cada vez mais a vontade de dar um mergulho nas salgadas ondas do mar.

O pintor francês Paul Gauguin deixou numerosos quadros sobre a Polinésia, cheios de cor e de sensualidade, mas este quadro não foi pintado lá. Foi pintado em França, numa localidade da Bretanha chamada Pont-Aven, onde o parisiense Gauguin viveu durante algum tempo, numa permanente procura da Natureza e da simplicidade. Foi esta procura, aliás, que o levou até ao Pacífico Sul, onde acabou os seus dias. Está sepultado nas Ilhas Marquesas.

16 fevereiro 2023

Poema ao Imigrante


Neste "jardim à beira mar plantado"
Com bom vinho, bom sol, boa comida,
Está sempre a porta aberta e há guarida,
P’ra mais um imigrante aqui chegado!

Em busca de outro rumo a dar à vida,
Trazem na mala o mundo que hão sonhado,
Para um futuro melhor do que o passado,
Ficando já bem longe a despedida…

Com fé no coração e olhar de esp’rança,
Acreditam nos ventos de mudança,
Deixando para trás desilusões…

Será bem-vindo quem por bem vier,
Ao meu país que é nobre a receber
Os povos de outras raças e nações!…

José Manuel Cabrita Neves (1943–2022)


(Foto de autor desconhecido)

13 fevereiro 2023

Sonho meu


Sonho meu, um samba de Délcio Carvalho e Dona Ivone Lara, cantado por Dona Ivone Lara e Beth Carvalho

08 fevereiro 2023

Cedo feita


A igreja românica de São Martinho de Cedofeita, no Porto (Foto de autor desconhecido)

O nome da antiga freguesia de Cedofeita, no Porto (agora e por enquanto integrada na União das Freguesias de Cedofeita, Santo Ildefonso, Sé, Miragaia, São Nicolau e Vitória) significa isso mesmo: cedo feita. Quando perguntados sobre que coisa foi cedo feita, os portuenses apontam para a igreja românica e dizem que foi ela. Na verdade, não foi bem assim. Passo a explicar.

Na sua origem, a designação de Cedofeita não se aplicou à igreja românica de São Martinho, tal como a vemos agora no Largo do Priorado, mas sim a uma igreja anterior, que existiu naquele mesmo local e foi construída no séc. VI, isto é, no tempo do Reino dos Suevos. Do primitivo templo pré-românico não restam vestígios, ainda que possamos considerar que as suas pedras tenham sido aproveitadas para a construção da igreja que agora lá está.


O rei suevo Ariamiro, pai de Teodomiro, e o bispo de Braga, São Martinho de Dume, numa representação de 1145. De virtutibus quattuor (Federzeichnung lm Co. 791, fol. 109v). Biblioteca Nacional Austríaca, Viena, Áustria

A igreja original de Cedofeita, construída no séc. VI, foi mandada fazer por Teodomiro, rei dos Suevos, no cumprimento de uma promessa feita a São Martinho de Tours, depois da cura, supostamente milagrosa, operada por este santo ao seu filho e sucessor Miro. Para tentar salvar o filho gravemente doente, Teodomiro tinha enviado a Tours, no Reino dos Francos, o bispo de Braga, São Martinho de Dume, transportando uma quantidade de ouro e de prata com peso equivalente à do seu filho. O bispo trouxe de volta uma relíquia de São Martinho de Tours e o milagre aconteceu. Miro curou-se e Teodomiro ordenou a construção da igreja em cumprimento da promessa.

Teodomiro, que seguira a seita do arianismo, já se tinha convertido ao catolicismo. O milagre operado no seu filho levou à conversão ao catolicismo da restante população do reino, que era pagã ou ariana. Diz-se que a rapidez com que a igreja foi construída levou à sua denominação de Cito Facta, isto é, Feita Cedo.

Há muitos anos, li não sei onde uma versão diferente para a origem do nome Cito Facta dado à igreja. Se a memória não me falha, a versão que li referia que, depois da cura do filho, Teodomiro enviou um emissário a Roma, encarregado de solicitar ao Papa autorização para a construção do templo. Quando o emissário regressou ao Porto com a autorização papal, encontrou a igreja já feita. Sentindo-se seguro de que esta autorização iria ser favorável, Teodomiro tinha ordenado a construção imediata da igreja, que assim foi "cedo feita".


O cabelo de um provável suevo, datado de entre os anos 135 e 385. Este cabelo apresenta o chamado "nó suevo", que é um nó dado a uma mecha de cabelo, que os suevos do sexo masculino costumavam usar. Este cabelo pertencia ao corpo de um homem encontrado numa turfeira, nas proximidades da aldeia de Dätgen, no estado de Schleswig-Holstein, norte da Alemanha. Archäologisches Landesmuseum Schloss Gottorf, Schleswig, Schleswig-Holstein, Alemanha (Foto de autor desconhecido)

Mas afinal — perguntar-se-á — quem eram esses tais Suevos, que estabeleceram um reino em terras que hoje são portuguesas e galegas?

Os Suevos foram uma tribo ou federação de tribos germânicas. Eram originários de uma região situada entre os rios Elba e Oder, junto ao Mar Báltico, no norte da Germânia. Os romanos chamavam ao Báltico Mare Suebicum.

Talvez pressionados pelas hordas de Hunos vindas da Ásia, os Suevos iniciaram uma migração para oeste e para sul, até encontrarem as fronteiras do Império Romano, onde as legiões que as guarneciam lhes barraram o caminho. Os Suevos permaneceram então durante algum tempo numa região do sudoeste da atual Alemanha, região esta que tomou o seu nome. Ainda hoje esta região se chama Suábia, sendo Stuttgart a sua cidade mais importante.

Em consequência da crescente pressão militar exercida sobre as suas fronteiras pelos Suevos e outros povos e tribos, que no seu conjunto eram chamados bárbaros, o Império Romano do Ocidente acabou por ceder na noite de 31 de dezembro do ano 406. Nessa noite, a Europa saiu de uma época, a da Antiguidade Clássica assente na pax romana, e entrava numa nova era, a que foi posto o nome de Idade Média. Os bárbaros invadiram o Império, este colapsou e a Europa mudou para sempre.

Para o atual território português dirigiram-se três povos. Nada menos do que três, que ainda por cima se contavam entre os mais temidos de todos. Estes povos foram os referidos Suevos, os Vândalos (outro povo germânico, cujo nome se tornou sinónimo de causadores de destruição e de morte) e os Alanos, que não eram germânicos, mas sim oriundos de uma região situada a norte do Cáucaso.


Foram os Suevos que destruíram a cidade de Conímbriga (Foto: Carole Raddato)

Chegados à parte mais ocidental da Península Ibérica, estes três povos encontraram o Oceano Atlântico pela frente a impedir-lhes o avanço mais para oeste. Entre ficar e voltar para trás, eles preferiram ficar. Repartiram entre si a faixa ocidental da Península, ficando uma tribo dos Vândalos e os Suevos mais a norte, outra tribo dos Vândalos no centro e os Alanos a sul. Não ficaram satisfeitos e procuraram conquistar territórios uns aos outros, ao mesmo tempo que enfrentavam a resistência das populações locais. Aqueles tempos foram tempos terríveis, de matanças, pilhagens e fomes generalizadas. Por exemplo, a cidade romana de Conímbriga foi atacada e destruída pelos Suevos, de tal modo que ela acabou por ser abandonada. As ruínas de Conímbriga lá continuam, como testemunhas de uma tragédia que teve lugar há 1600 anos, provocada pelos Suevos.

As diferentes configurações do Reino dos Suevos ao longo do tempo

Sem entrar em pormenores sobre os confusos acontecimentos ocorridos naquela época, refira-se que os Suevos saíram finalmente vencedores, expulsando os Vândalos e os Alanos da faixa ocidental da Península Ibérica. Os Suevos criaram então um reino, com capital na cidade de Braga, que foi o Reino dos Suevos, também chamado Reino da Galécia (enquanto a capital foi Braga) ou Reino de Portucale (depois de a capital ter sido transferida para a cidade do Porto, então chamada Portucale). Este foi o primeiro reino bárbaro estável surgido em toda a Europa após a queda do Império Romano do Ocidente, porque os Suevos se relacionaram com as populações que conquistaram e acabaram por se pacificar. O cronista Paulo Orósio, que foi testemunha pessoal do que então se passou, escreveu que os Suevos depressa trocaram a espada pelo arado.

Representação do cronista Paulo Orósio, numa miniatura pertencente ao códice de Saint-Épure, do séc. XI

Entretanto, também chegaram à Península Ibérica os Visigodos, igualmente germânicos mas já bastante romanizados, que fundaram um reino próprio com capital em Toledo. Os Visigodos empreenderam a conquista de território aos Suevos, até à batalha final, ocorrida no Porto, para onde a capital do reino suevo houvera mudado. O Reino dos Suevos desapareceu, absorvido pelo dos Visigodos, mas as regiões que os Suevos tinham ocupado mantiveram uma certa autonomia. Tudo indica que a nobreza sueva permaneceu nas suas terras, mais ou menos como anteriormente, com a diferença de que tinha passado a estar submetida ao rei dos Visigodos e não ao rei dos Suevos.

Desde que chegaram a estas paragens no séc. V, os Suevos foram adotando a língua, os usos e os costumes das populações celto-romanas que conquistaram. Ao mesmo tempo, também foram misturando os seus genes com os destas populações, até que deixaram de existir como uma entidade étnica e cultural diferenciada. Deixou de haver Suevos enquanto tais.

Agora que sabemos um pouco sobre os Suevos, a cujo rei Teodomiro se deve a primitiva igreja de Cedofeita, assim como a possível origem do próprio nome "Cedofeita", voltemos a incidir a nossa atenção sobre a igreja românica que a substituiu. Tudo indica que esta igreja tenha sido erguida no lugar da outra, após a tomada da cidade do Porto aos mouros, no ano 868, pelo cavaleiro Vímara Peres.

Estátua de Vímara Peres, o primeiro conde portucalense, idealizada pelo escultor Salvador Barata Feyo (1899–1990). Esta estátua foi inaugurada em 1968, por ocasião das celebrações do 1100.º aniversário da presúria da cidade do Porto (Foto: Diego Delso)

Não se pode dizer que o Porto tenha sido conquistado aos mouros, porque provavelmente não chegou a haver combates. Os mouros terão abandonado a cidade antes da chegada das forças cristãs, atravessando o rio Douro e passando-se para Gaia, para se juntarem aos que já lá estavam. Por isso se fala em "presúria" do Porto e não em conquista. Esta presúria marca o início da existência do Condado Portucalense, que foi criado pelo rei das Astúrias Afonso III e atribuído a Vímara Peres, em reconhecimento pela tomada da cidade, que se chamava Portucale e agora se chama Porto. Vímara Peres foi portanto o primeiro conde portucalense.

Após a sua construção no séc. IX, a igreja românica atual de Cedofeita sofreu muitas transformações e acrescentos ao longo dos tempos. Já no séc. XX, procurou-se repor a sua traça, tal como ela teria sido no séc. XIII. É esta a traça que a igreja apresenta atualmente.

O interior da igreja românica de Cedofeita, no Porto (Foto: Manuela Freitas)

04 fevereiro 2023

Uma cadeira muito temperamental


A Chairy Tale, um filme de curta metragem realizado por Norman McLaren (1914–1987) e Claude Jutra (1914–1986)

02 fevereiro 2023

Jesu Redemptor, de Estêvão Lopes Morago


O agrupamento coral britânico Pro Cantione Antiqua, dirigido por Mark Brown, interpreta Jesu Redemptor, do compositor espanhol Estêvão Lopes Morago, que nasceu em Vallecas (Madrid) por volta de 1575, viveu e trabalhou em Viseu, e em Viseu deve ter falecido em data indeterminada, provavelmente em 1630 ou pouco depois