31 dezembro 2023

Música para animar a passagem de ano


Hound Dog, por Elvis Presley

Great Balls of Fire, por Jerry Lee Lewis

Blue Suede Shoes, por Carl Perkins

Folsom Prison Blues, por Johnny Cash

Only the Lonely, por Roy Orbison

28 dezembro 2023

Madonna com o Menino


Madonna com o Menino, têmpera e folha de ouro sobre madeira, de um pintor anónimo do séc. XV, que certamente era italiano e a quem chamam Mestre da Natividade de Castello. Walters Art Museum, Baltimore, Maryland, Estados Unidos da América
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25 dezembro 2023

Natal de 2023


Um ícone de viagem, de um autor anónimo da Etiópia (Foto: internativities.com)
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LITANIA PARA ESTE NATAL (1967)

Vai nascer esta noite à meia-noite em ponto
Num sótão num porão numa cave inundada
Vai nascer esta noite à meia-noite em ponto
Dentro de um foguetão reduzido a sucata
Vai nascer esta noite à meia-noite em ponto
Numa casa de Hanói ontem bombardeada

Vai nascer esta noite à meia-noite em ponto
Num presépio de lama e de sangue e de cisco
Vai nascer esta noite à meia-noite em ponto
Para ter amanhã a suspeita que existe
Vai nascer esta noite à meia-noite em ponto
Tem no ano dois mil a idade de Cristo

Vai nascer esta noite à meia-noite em ponto
Vê-lo-emos depois de chicote no templo
Vai nascer esta noite à meia-noite em ponto
E anda já um terror no látego do vento
Vai nascer esta noite à meia-noite em ponto
Para nos vir pedir contas do nosso tempo

David Mourão-Ferreira (1927–1996)


NOTA — Para que este poema de 1967 mantenha toda a sua atualidade neste ano de 2023, basta substituir a palavra Hanói pela palavra Gaza.

22 dezembro 2023

Dorme, meu Menino


O Ensemble Infantil de Tilaco e o Ensemble Cantiga Armónica, do México, interpretam em náhuatl (uma língua indígena mexicana) o moteto de Natal Xicochi Conentzintle, do compositor português do séc. XVII Gaspar Fernandes, que viveu em Évora, na Guatemala e no México

19 dezembro 2023

O Infante

Deus quer, o homem sonha, a obra nasce.
Deus quis que a terra fosse toda uma,
Que o mar unisse, já não separasse.
Sagrou-te, e foste desvendando a espuma.

E a orla branca foi de ilha em continente,
Clareou, correndo, até ao fim do mundo,
E viu-se a terra inteira, de repente,
Surgir, redonda, do azul profundo.

Quem te sagrou criou-te português.
Do mar e nós em ti nos deu sinal.
Cumpriu-se o Mar, e o Império se desfez.
Senhor, falta cumprir-se Portugal!
Fernando Pessoa (1888–1935)


Praia da Ursa, Sintra (Foto de autor desconhecido)

14 dezembro 2023

Eros e Psique


Psique e o Amor, pintura de François Gérard (1770–1837). Museu do Louvre, Paris, França
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Esta é uma história de amor que acaba bem. Foi pela primeira vez publicada por Apuleio, escritor e filósofo romano do séc. II, na sua obra Metamorfoses, à qual Santo Agostinho chamou O Asno de Ouro. Apuleio não inventou a história; limitou-se a passar a escrito um mito greco-romano previamente existente. Este mito, que ficou famoso a partir de então, é uma lição de amor, que serviu de inspiração a muitos artistas plásticos e ficou materializada em obras de arte cheias de doce sensualidade.

Psique (a quem os romanos chamavam Alma, em latim Anima) era uma jovem mortal, a mais nova e mais bela de três irmãs. A sua beleza era tanta, que vinham pessoas de muito longe para admirar a sua beleza e lhe traziam oferendas que, de outro modo, teriam sido deixadas nos templos dedicados a Afrodite (Vénus na mitologia romana), a mais bela de todas as deusas. Vendo que a beleza de Psique superava a sua própria, Afrodite ficou cheia de inveja e resolveu vingar-se da jovem.

Afrodite chamou o seu filho Eros (Cupido para os romanos), cujas setas douradas tinham o condão de provocar o amor em quem acertassem. Afrodite queria que Eros fizesse Psique apaixonar-se por um monstro. Eros partiu e encontrou Psique adormecida. Quando tentava atingi-la com uma das suas setas, Eros espetou-se numa delas por acidente. Logo ficou apaixonado por Psique.

Eros e Psique, escultura de Bertel Thorvaldsen (1770–1844). Thorvaldsens Museum, Copenhaga, Dinamarca
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Por outro lado, nenhum dos muitos admiradores de Psique se atrevia a pedi-la em casamento, que assim permanecia solteira. Com o intuito de lhe arranjar um marido, os pais dela consultaram então o oráculo existente no templo de Apolo em Delfos. O deus Apolo, falando pela boca do oráculo, respondeu-lhes que Psique iria casar, sim, mas com um horrendo monstro. Recomendou que vestissem Psique como se fosse para um funeral e a abandonassem num alto rochedo, onde o seu futuro marido a iria encontrar. Tudo indicava, portanto, que Psique iria casar com um monstro.

Antes que o monstro chegasse ao rochedo para levar Psique como sua esposa, o deus do vento oeste, Zéfiro, soprou e levou Psique pelos ares até um determinado lugar, onde ela adormeceu. Quando acordou, Psique viu‑se no interior de um rico palácio, cheio de ouro e pedras preciosas, e ouviu uma voz dizendo-lhe que todas aquelas riquezas também eram suas. Esta voz era do dono do palácio, que acrescentou que ela não poderia ver o seu rosto nem saber o seu nome, sob pena de tudo perder, incluindo ele próprio, o seu esposo. Psique tomou um banho e comeu lautamente, enquanto uma lira invisível tocava belas melodias para ela. À noite, Psique foi visitada pela primeira vez pelo seu marido, que a tratou de modo imensamente gentil e carinhoso e fez com ela tudo o que fazem os amantes, mas sempre às escuras.

Decorreram algumas semanas. Psique passava os dias sozinha no palácio, rodeada de música e de variadas diversões, mas aspirava pela chegada da noite, em que se encontraria de novo com o seu terno mas desconhecido esposo. Para combater a solidão em que passava os dias, Psique pediu-lhe para ver as suas irmãs. Estas foram levadas ao palácio e ficaram com inveja de Psique por vê‑la rodeada de tantas riquezas. Quando as irmãs lhe perguntaram quem era o seu abastado marido, Psique acabou por reconhecer que nunca tinha visto o rosto dele e não sabia sequer o seu nome. As irmãs convenceram então Psique de que estava casada com um monstro e não com um homem normal. Incentivaram-na a verificar com os seus próprios olhos que espécie de monstro era ele.

Nessa noite, segurando uma candeia, Psique entrou no quarto onde o seu marido dormia para ver quem ele era. Ao aproximar-se da cama, picou-se numa seta, o que lhe provocou um movimento brusco. Uma gota de azeite ardente saltou da candeia e caiu sobre o corpo adormecido do marido. Este acordou e Psique descobriu então que estava casada com o próprio deus do amor, o belo e jovem Eros, filho de Afrodite, e não com um qualquer monstro. Ficou perdidamente apaixonada por ele, porque se tinha picado numa das suas setas.


Amor e Psique, pintura de Giuseppe Maria Crespi (1665–1747). Galerias dos Ofícios, Florença, Itália
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Como Psique não tinha cumprido a obrigação que lhe impusera, Eros partiu voando em direção à sua mãe, enquanto o palácio e todas as outras riquezas desapareciam por completo. Psique achou-se no meio de um campo, nas proximidades da casa onde as suas irmãs viviam. Psique contou a estas o que lhe tinha acontecido. As irmãs fingiram estar solidárias com Psique, mas tentaram repetir o que ela tinha feito, para que Eros também as tomasse como esposas. Subiram ao mesmo rochedo onde Psique tinha estado e saltaram, na expectativa de serem arrebatadas por Zéfiro e levadas para junto do deus do amor. Contudo, Zéfiro não soprou e elas morreram despedaçadas na base do penhasco.

Psique passou a vaguear pelo mundo enlouquecida, procurando em toda a parte o seu amado sem o conseguir encontrar. Condoída da sua sorte, a deusa Deméter (Ceres na mitologia romana) aconselhou Psique a dirigir-se à própria Afrodite, para lhe pedir perdão. Porém, em vez de lhe perdoar, Afrodite chicoteou-a, torturou-a e, a seguir, entregou-lhe alguns barris cheios de grãos de várias espécies de cereais misturados, impondo-lhe a obrigação de repartir os grãos em montes separados até ao fim daquele mesmo dia. Uma formiga ouviu o que Afrodite tinha exigido a Psique e, com pena desta, mobilizou todo o formigueiro para fazer a separação dos grãos por ela. Quando Afrodite verificou que a impossível tarefa tinha afinal sido cumprida a tempo, mais enraivecida ficou e impôs uma nova tarefa a Psique.

A nova tarefa imposta por Afrodite requeria que Psique se aproximasse de um rebanho de carneiros com lã de ouro, mas famosos pela sua violência, e tosquiasse a sua lã, que deveria ser entregue à deusa. Desesperada, em vez de cumprir a ordem de Afrodite, Psique lançou-se a um rio próximo para se afogar. O deus desse rio rejeitou-a e depositou-a suavemente na margem coberta de relva, enquanto lhe disse para esperar que os carneiros acalmassem e que o tempo arrefecesse, até poder tosquiá‑los sem correr muito perigo. E a tarefa foi cumprida.

Enraivecida, Afrodite impôs a Psique uma terceira tarefa. Desta vez, Afrodite entregou a Psique uma taça de cristal e encarregou-a de encher a taça com a negra água do rio Estige, um rio que atravessa o mundo inferior. Para conseguir chegar ao rio, Psique tinha que trepar uma escarpa muito perigosa, mas Zeus (chamado Júpiter pelos romanos) apiedou-se dela, mandou uma águia recolher a água do Estige e entregou a taça cheia a Psique. Psique levou a taça a Afrodite, que ficou ainda mais furiosa.

Afrodite concebeu então a tarefa que iria determinar a morte de Psique, tarefa esta que consistia em enviá-la ao Hades, o mundo dos mortos, de onde nunca pessoa alguma tinha voltado. Para isso, Afrodite ordenou a Psique que fosse ao Hades e trouxesse de lá um pouco da beleza de Perséfone (a quem os romanos chamaram Prosérpina), a deusa que presidia ao reino dos mortos, também ela muito bela. Sabendo que uma tal ordem significava a sua própria morte, Psique decidiu suicidar‑se, subindo a uma alta torre para se atirar lá do alto. Já que ela iria morrer, mais lhe valia morrer já.

A torre falou para Psique, aconselhou-a a não se matar e disse-lhe que havia um meio de ir ao Hades e voltar com vida. Para o conseguir, Psique teria que levar duas moedas e um pedaço de pão molhado com hidromel. As moedas destinavam-se a pagar a Caronte, o barqueiro que transportava os mortos para o Hades; uma moeda seria paga na ida e a outra no regresso. O pão molhado em hidromel seria dado a Cérbero, o cão de três cabeças que guardava a entrada no mundo dos mortos; metade do pedaço de pão seria dado à entrada e o restante seria dado à saída.

Para que Psique pudesse executar a sua tarefa, Afrodite tinha-lhe entregue uma caixa de ouro destinada a guardar o pedaço de beleza de Perséfone, caixa esta que deveria ser devolvida com o conteúdo pretendido no seu interior. Já no Hades, para surpresa de Psique, Perséfone aceitou de bom grado meter na caixa um pedaço da sua própria beleza e recomendou a Psique que nunca deveria abrir a caixa, fosse em que circunstância fosse. No entanto, a curiosidade foi mais forte e Psique abriu a caixa. Do interior desta, em vez do pedaço de beleza de Perséfone, saiu uma espécie de nuvem, que envolveu Psique numa grande escuridão e a fez adormecer tão profundamente, como se estivesse morta.

Cupido e Psique, pintura de Antoon van Dyck (1599–1641). Royal Collection, Londres, Reino Unido
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Enquanto tudo isto acontecia, Eros soube que era incansavelmente procurado por Psique e arrependeu-se de a ter abandonado. Partiu em sua busca e encontrou-a adormecida. Enternecido, deu-lhe um beijo e Psique acordou. Ambos levaram a caixa de ouro a Afrodite, que reconheceu que o amor de Psique era mais forte do que tudo no mundo e se arrependeu do que lhe tinha feito. Eros e Psique foram a seguir visitar Zeus, o mais poderoso de todos os deuses, que ordenou a Hermes (Mercúrio para os romanos), o deus mensageiro, que convocasse todos os deuses para uma assembleia no Olimpo. Reunida a assembleia, Zeus deu a beber a Psique uma taça de ambrósia, que é a bebida dos deuses, e Psique tornou-se uma deusa também. Ficou a ser a deusa da alma.


Primeira versão da escultura Psique Despertada pelo Beijo de Cupido, de Antonio Canova (1757–1822). Museu do Louvre, Paris, França
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Segunda versão da escultura Psique Despertada pelo Beijo de Cupido, de Antonio Canova (1757–1822). Museu do Hermitage, São Petersburgo, Rússia
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10 dezembro 2023

Teresa Silva Carvalho morreu


Teresa Silva Carvalho (1935–2023) canta Verdes São os Campos, um poema de Luís de Camões (1524–1580) musicado por José Afonso (1929–1987)

07 dezembro 2023

Já que se fala tanto em contas certas…


Já que se fala tanto em contas certas, proponho a resolução de uma conta que parece ser de uma dificuldade transcendente, recorrendo apenas a algumas regras matemáticas simples e avançando passo a passo. 1.º passo: Não entrar em pânico. Os passos seguintes são explicados neste vídeo do professor de Matemática brasileiro Reginaldo Moraes. Esta conta está mesmo certa

02 dezembro 2023

Pauliteiros


Lhaço Padre António, pelos grupos de pauliteiros do Orfeão Universitário do Porto e da Associação dos Antigos Orfeonistas da Universidade do Porto

Quando entrei para a Universidade, inscrevi-me no Orfeão Universitário do Porto. Além do coro, que era a própria razão de ser daquela instituição académica, o Orfeão Universitário do Porto incluía uma tuna, uma orquestra de tangos(!) e vários grupos de danças regionais portuguesas. Se não me falha a memória, houve também quem quisesse criar um coro de cante alentejano, mas a ideia não foi posta em prática, não sei porquê.

Um dia, fui abordado por um colega do grupo de pauliteiros do Orfeão, que me pediu encarecidamente para aderir a este grupo, porque eles precisavam urgentemente de um elemento suplente e eu poderia ser esse elemento. Eles eram oito no total, que era o número mínimo de membros que um grupo de pauliteiros poderia ter, e se algum deles faltasse por qualquer motivo, o grupo inteiro não teria condições para atuar em público. Eu poderia então substituir o faltoso. Depois de muita insistência da parte deles, acabei por aceder.

No primeiro ensaio em que participei, os meus receios de levar umas pauladas nos dedos confirmaram-se, e de que maneira! Quando vemos um grupo de pauliteiros a atuar, não fazemos ideia da força que eles aplicam aos paulitos. Parece que estes só são encostados uns aos outros, mas não é nada assim. Eles são batidos com toda a força.

As danças dos pauliteiros (chamadas lhaços) são danças viris, com origem certamente em danças guerreiras ancestrais, e não simples "folclore". Nos lhaços, os paulitos são agarrados com toda a firmeza e batidos uns nos outros com a máxima força que for possível. Se, por azar nosso, algum colega falhar a pancada e nos acertar nos dedos, as dores que sofremos são verdadeiramente lancinantes. Vemos as estrelas, mais os planetas, as galáxias e sobretudo os buracos negros… Com a mão a latejar, ficamos com a nítida sensação de que nos partiram um ou mais dedos.

Está-se mesmo a ver o que aconteceu: no primeiro ensaio, alguém acertou nos meus dedos. Larguei os paulitos, agarrado à mão, e disse que nunca mais me apanhavam lá. Que arranjassem outro, que eu não estava no Orfeão para ficar com os dedos partidos. Era só o que faltava. Responderam-me que se eu me viesse embora, o grupo de pauliteiros do Orfeão corria sério risco de acabar, porque ninguém queria entrar nele. De uma maneira geral, os orfeonistas queriam ir para os grupos de danças do Minho, da Madeira, do Algarve e não sei de onde mais, mas para os pauliteiros ninguém queria ir. Afinal, acrescentaram os meus colegas, eu também lhes acertava nos dedos e eles aguentavam. A custo, mas aguentavam.

Vim-me embora com os dedos inchados e também com os pulsos desengonçados, por causa da força aplicada aos paulitos, a que eu não estava habituado. Porém, naquela idade, as mazelas passam depressa e… no ensaio seguinte apresentei-me de novo ao grupo. Se os meus colegas suportavam as pauladas nos dedos sem se queixarem, eu também haveria de ser capaz de suportar. Se, por um azar, algum deles me partisse um dedo, eu só tinha que atravessar a rua, pois a Urgência do Hospital de Santo António ficava mesmo em frente ao Orfeão! Os meus colegas fizeram uma grande festa por me verem lá de novo e fiquei no grupo de pauliteiros do Orfeão até ao fim do ano letivo, mas sempre como suplente, nunca tendo atuado perante o público, nem uma vez sequer! Sofri tantas dores para nada…

O vídeo que encima este post mostra, não um, mas dois grupos de pauliteiros atuando em simultâneo (o do Orfeão Universitário do Porto e o da Associação dos Antigos Orfeonistas da Universidade do Porto) e dançando um lhaço chamado "Padre António", que eu também ensaiei, ainda que em vão. Portanto, o que se observa no vídeo não são pauliteiros verdadeiros, dos de Miranda do Douro, mas sim "pauliteiros" à moda do Porto, como as tripas.

A coreografia destes "pauliteiros", idêntica à que eu próprio ensaiei, pode parecer correta, mas o que não estava correto, de maneira nenhuma, era a coreografia dos pés, que pura e simplesmente não existia. O ensaiador nunca nos ensinou o que teríamos que fazer com os pés e, por isso, andávamos de um lado para o outro sem preocupações de qualquer espécie a respeito dos pés.

Ora os lhaços mirandeses são danças e, por isso, os pés desempenham neles um papel muito importante, como em qualquer dança. No vídeo seguinte podemos observar o mesmo lhaço, "Padre António", mas dançado como deve ser, por pauliteiros a sério, neste caso os de Palaçoulo, localidade situada a 3 ou 4 km da vila de Sendim e onde se fabrica cutelaria de altíssima qualidade. Note-se que os pés dos pauliteiros de Palaçoulo estão mais tempo no ar do que no chão e saltam todos ao mesmo tempo. A leveza da dança dos pauliteiros de Palaçoulo contrasta manifestamente com os pés de chumbo dos "pauliteiros" do Porto.

Lhaço Padre António, pelo grupo de pauliteiros de Palaçoulo, Miranda do Douro

Eu naquele tempo tinha 17 anos, no máximo 18, e nunca tinha ido a Miranda do Douro, nem sabia como Miranda era. No entanto, aceitei fazer-me pauliteiro, ainda que falhado. Só muitos anos mais tarde é que visitei Miranda do Douro pela primeira vez e apaixonei-me logo pela cidade e pela sua região, talvez por conta das cacetadas que levei nas mãos… Voltei lá várias vezes, percorri a Terra de Miranda desde S. Martinho de Angueira e Constantim até Bemposta e Algoso, comi a famosa posta mirandesa no restaurante da Gabriela, bebi o excelente vinho Pauliteiros que por aqui não se encontra à venda em lado nenhum, etc. Os mirandeses que me desculpem. Não tenho quaisquer laços familiares com Miranda do Douro, mas sinto-me um pouco mirandês também.