29 abril 2010

Dia Internacional da Dança


Dança de guerreiros ambós (ovambo) do sul de Angola, numa fotografia antiga

O Dia Internacional da Dança foi instituído pelo Conselho Internacional da Dança da UNESCO em homenagem a Jean-Georges Noverre (1727-1810), que é considerado o fundador do ballet tal como o conhecemos atualmente. Foi no dia 29 de Abril de 1727 que nasceu, em Paris, este notável bailarino e coreógrafo francês.




Lamentation, uma coreografia criada em 1930 pela norte-americana Martha Graham (1894-1991), com base numa peça musical do compositor húngaro Zoltán Kodály (1882-1967), aqui interpretada por Peggy Lyman em 1976

25 abril 2010

A Guidinha também escreveu sobre o 25 de Abril


O CHEFE DO MEU PAI ERA UM DEMOCRATA E NINGUÉM SABIA...

Ora cá estou eu outra vez a contar as coisas que se passam lá em minha casa e no bairro da Graça em que vivo sim porque eu vivo no bairro da Graça e tenho muita honra nisso porque não há nada para uma mulher como ser Graciosa pois como toda a gente sabe houve um 25 de Abril e cá em casa esse 25 de Abril foi bestial para começar o meu pai só soube que era 25 de Abril mais tarde lá por volta das onze que é quando ele lá no trabalho acaba de ler o jornal e liga o rádio de maneira que já uma data de pessoas sabia que era vinte e cinco de Abril e ainda lá no trabalho estava a ler no Diário de Notícias que o presidente Américo Tomaz tinha ido visitar um salão de antiguidades cá por mim o que me espanta é que o tivessem levado para um regimento porque o podiam ter deixado no tal salão de antiguidades para ele não estranhar o ambiente mas adiante que o que interessa é o que aconteceu ao meu pai pois como eu ia dizendo tinha ele acabado de ler essa interessante notícia das antiguidades se andarem a visitar umas às outras e uma outra do deputado Ferreira da Silva do Porto coitadinho ter pedido acções de repressão contra a situação anárquica que visava gerar o descontentamento e mais não sei o quê e vai ouviu na rádio que era vinte e cinco de Abril e ficou a suar a suar a suar diz ele que ficou a suar tanto que se lhe colou o dito à cadeira sem saber o que havia de fazer mas lá conseguiu descolá-lo e foi até ao gabinete do chefe que estava naquele momento a redigir uma ordem a dizer que lixava quem faltasse no dia 1 de Maio e disse-lhe que a rádio estava a dizer que havia um movimento das Forças Armadas para derrubar o regime o homem ficou branco e disse que era mentira e que se o meu pai continuasse a espalhar boatos que lhe fazia um processo disciplinar e mais não sei o quê e que era proibido ouvir rádio durante as horas de trabalho e vai o meu pai voltou para a secretária mas ainda ouviu o chefe ligar um transistor que ele esconde numa gaveta quando alguém lhe entra no gabinete e daí a dois minutos o chefe chegou-se ao pé dele e pediu-lhe para ir à rua ver se ouvia qualquer coisa e o meu pai foi e ouviu olá se ouviu e viu olá se viu diz ele que viu uma data de carros de assalto ao Largo do Carmo e que voltou a correr e disse ao chefe o que tinha visto o chefe ainda ficou mais branco e mandou-o para o escritório porque queria fazer umas chamadas confidenciais e vai daí a bocado entrou todo pimpão no escritório e disse que tinha tido conhecimento de ter havido um movimento de revolucionários ingénuos mas que já estavam todos na cadeia e que se o meu pai voltasse a sair outra vez durante as horas de expediente para ir ouvir boatos no Largo do Carmo que tinha de informar a DGS e o meu pai ficou com o dito outra vez colado à cadeira mas foi colagem de pouca dura porque daí a bocado o chefe entrou outra vez branco como a cal da parede e disse ao meu pai para ir outra vez à rua ouvir o que se passava e o meu pai foi olá se foi e viu tanta coisa que esteve para não voltar ao escritório mas como é pai de família etc. etc. voltou e disse o que tinha visto e vai o chefe entrou no escritório e disse que sempre tinha respeitado as ideias políticas de cada um e que deixava sair quem quisesse mas quando toda a gente se ia raspar alguns até já iam na escada entrou um senhor qualquer falou com o chefe um minuto e ele outra vez branco como a cal da parede chegou ao patamar da escada e desatou a berrar que ninguém saía que dava à D. G. S. os nomes de quem saísse que não queria simpatizantes com revolucionários que ia instaurar processos disciplinares a toda a gente e que o meu pai por ter saído duas vezes do escritório ia parar a Caxias tão certo dois e dois serem quatro e estava quase a fuzilar o meu pai e os colegas quando entrou uma data de gente a berrar e a dizer que os que estavam no Carmo se tinham rendido e que o general Spínola tinha ganho e o chefe começou a dar vivas ao general Spínola à democracia ao povo à Pátria só não deu à leitaria da esquina porque não se lembrou sim porque até ao 25 de Abril o miúdo da leitaria estava proibido de entrar lá por o dono da leitaria ter dito uma vez que as guerras de África eram uma infâmia de maneira que se o chefe naquele momento se tivesse lembrado também tinha dado um vivazito ao dono da leitaria vai depois todos se foram embora e quando voltaram no dia seguinte o chefe deu um grande abraço ao meu pai e explicou a todos que se na véspera tinha dito que não admitia na repartição simpatizantes com revolucionários era só porque se a revolução falhasse queria ser ele sozinho a assumir as responsabilidades porque ele era um democrata desde sempre enfim o que eu queria saber era como ele conseguiu manter o segredo tanto tempo e ainda há quem diga que os portugueses não sabem guardar segredos.

Guidinha (Luís de Sttau Monteiro), in A MOSCA, suplemento humorístico do Diário de Lisboa, 11 de Maio de 1974

24 abril 2010

Três vozes antes da Revolução dos Cravos


Desenho de João Abel Manta

LIVRE

Não há machado que corte
a raíz ao pensamento
não há morte para o vento
não há morte

Se ao morrer o coração
morresse a luz que lhe é querida
sem razão seria a vida
sem razão

Nada apaga a luz que vive
num amor num pensamento
porque é livre como o vento
porque é livre

Carlos de Oliveira



EPÍGRAFE PARA A ARTE DE FURTAR

Roubam-me Deus,
outros o Diabo
-- quem cantarei?

roubam-me a Pátria;
e a Humanidade
outros me roubam
-- quem cantarei?

sempre há quem roube
quem eu deseje;
e de mim mesmo
todos me roubam
-- quem cantarei?

roubam-me a voz
quando me calo,
ou o silêncio
mesmo se falo
-- aqui d'El Rei!

Jorge de Sena



MUMPIOZO AME, por Alberto Teta Lando

23 abril 2010

«O meu bairro é lindo»



Imagens e sons da Rua Escura, uma rua problemática habitada por gente pura no bairro da Sé, Porto (Reportagem de Diana Sousa e João Nápoles)

19 abril 2010

A lenda do dia e da noite


O dia 19 de Abril é Dia do Índio na América do Sul, tendo sido instituído em 1943 pelo presidente do Brasil Getúlio Vargas. Aproveito esta data para partilhar uma lenda tradicional brasileira encontrada no Youtube. Trata-se de um filme de desenhos animados cheio de poesia, que foi realizado por Rui de Oliveira.


17 abril 2010

A Citânia de Sanfins


Há dois mil anos vivia gente aqui (Foto: Henrique Matos) 


A Citânia de Sanfins, no concelho de Paços de Ferrreira, é um dos maiores povoados castrejos que até agora foram postos a descoberto em Portugal. Terá sido fundada no séc. V A.C. e foi habitada até ao séc. II D.C., já em plena dominação romana. Tendo em vista as dimensões deste povoado, há quem sugira que ele foi a capital dos Brácaros, uma tribo celta do grupo dos Calaicos.

A Citânia de Sanfins, à semelhança de muitas outras citânias e castros, fica situada no cimo de um monte bastante elevado e com ampla vista sobre as redondezas, por razões de defesa militar. Ao conquistarem o território que é agora Portugal, as legiões romanas dominaram os ímpetos bélicos dos guerreiros celtas. As necessidades de defesa das povoações deixaram então de existir. A população de muitos castros e citânias acabou por abandonar as alturas dos montes para se fixar nos vales e terras baixas, mais férteis e abrigadas. Foi o que fizeram os habitantes da Citânia de Sanfins.

Mesmo assim, muitas citânias e castros pré-romanos continuaram sempre a ser habitados até aos nossos dias. Foi o que sucedeu com as cidades de Lisboa e do Porto, assim como com muitas outras cidades e vilas portuguesas. Aqui no Porto, nomeadamente, as obras de construção de uma residência para estudantes na zona da Sé puseram a descoberto vestígios de uma muralha castreja.

12 abril 2010

A Igreja Matriz de Caminha


Igreja de Nossa Senhora da Assunção (Igreja Matriz), Caminha (Foto: Dias dos Reis)


A Igreja Matriz da vila de Caminha, consagrada a Nossa Senhora da Assunção, é um belíssimo templo que foi restaurado muito recentemente. É uma igreja do séc. XVI e o seu estilo é alvo de alguma controvérsia, porque se trata de uma obra de transição. Há quem diga que a igreja é de estilo plateresco, manuelino ou renascentista. Na verdade, encontramos cada um destes estilos em diferentes partes do templo. No portal da igreja, por exemplo, encontramos um predomínio de elementos renascentistas.

Vale a pena entrar na igreja e admirar o seu riquíssimo teto de madeira. Apresenta influências do estilo mudéjar, que é de inspiração islâmica.



Pormenor do teto de madeira (Foto: IGESPAR)


Um detalhe curioso da Matriz de Caminha é uma gárgula que se encontra virada para Espanha. Essa gárgula representa um homem de traseiro ao léu, cagando para os espanhóis... Quando chove, a água da chuva escorre pelo buraco, como se o homem estivesse com diarreia!

Este tipo de gárgula não é exclusivo desta igreja. Existe uma gárgula semelhante, por exemplo, na Sé Catedral da Guarda. Em Miranda do Douro, igualmente, há uma casa que tem um apoio para vasos de flores em forma de cu, numa fachada da Rua do Abade de Baçal. E mais cus haverá certamente ao longo da fronteira, todos devidamente virados para os espanhóis.

É claro que estes traseiros malcriados são sinais de um tempo passado, de guerras e inimizades, entre Portugal e Espanha. Nos tempos que correm, eles são completamente anacrónicos. Ainda mais anacrónicos são em Caminha, tendo em vista os laços de especial cordialidade que existem entre portugueses e galegos. Ao fim de tantos séculos de separação política, de guerras, ódios e mortes aos milhares, portugueses e galegos acabam por descobrir que afinal são irmãos, de sangue e de cultura. O Rio Minho não separa; une.



Uma gárgula malcriada (Foto: Manuel Passos [Asas])

06 abril 2010

Um poema de Albino Magaia, falecido há poucos dias


(Foto: eagleye)


DESCOLONIZÁMOS O LAND-ROVER

Já não é carro cobrador de impostos.
Nós descolonizámo-lo.
Já não é terror quando entra na povoação
Já não é Land-Rover do induna e do sipaio.
É velho e conhece todas as picadas que pisa.
É experiente este carro britânico
Seguro aliado do chicote explorador.
Mas nós descolonizámo-lo:
No matope e no areal
Sua tracção às quatro rodas
Garante chegada às machambas mais distantes
Às cooperativas dos camponeses.
Entra na aldeia e no centro piloto
Ruge militante nas mãos seguras do condutor
Obedece fiel a todas as manobras
Mesmo incompleto por falta de peças.

- Descolonizámos o Land-Rover!

Com nossos produtos
Compramos combustível que consome
Com nossa inteligência
Consertamos avarias que surgem
Com nossa luta
Transformamos em amigo este inimigo.
Nós, descolonizadores
Libertámos o Land-Rover
Porque também ficou independente, afinal
Transformaram-se os objectivos que servia
E hoje é militante mecânico
Um desviado reeducado
Uma prostituta reconvertida em nossa companheira.
Descolonizámo-la e com ela casámos
E não haverá divórcio.

De Tete a Cabo Delgado
Do Niassa a Gaza
Da sede provincial ao círculo
Este jeep saúda quando passa
O Caterpillar seu irmão
Outro descolonizado fazedor de estradas
E cruza-se com o Berliet atarefado
Ex-pisador de minas
Eles aprenderam com a G-3
Menina vanguardista na mudança de rumo
A primeira a saber e a gostar
A diferença antagónica
Entre a carícia libertadora das nossas mãos
E o aperto sufocante e opressor do inimigo que servia.

As mãos dos operários que o fabricam
são iguais às mãos dos operários da nossa terra.
Essas mãos inglesas que o criam
Um dia saberão que ajudaram a fazer a revolução
e vão levantar o punho fechado da solidariedade.

Ruge este militante nas picadas da Zambézia
Galga as difíceis estradas de Sofala
Passa pelos pomares de Manica
Pelo milho de Gaza
Pelas palmeiras de Inhambane
Na cidade do Maputo descansa.
Transporta pelo país
Os olhos dos estrangeiros amigos
Que querem conhecer de perto a nossa Revolução

- Descolonizámos uma arma do inimigo
Descolonizámos o Land-Rover!

Aquelas quatro rodas e um motor potente
Aquela cabine dos mecanismos de comando
Aquelas linhas da carroçaria irmanadas ao medo
Já não afugentam o povo:
Homens, mulheres e crianças do campo
Fazendo sinal ao condutor,
Pedem boleia.
Nós descolonizámos o Land-Rover
E dele
O povo já não foge!

Albino Magaia, poeta moçambicano (1947-27 de Março de 2010)

04 abril 2010

Ressurreição


A ressurreição de Cristo, de Pieter Pauwel Rubens (1577-1640), Catedral de Nossa Senhora, Antuérpia, Bélgica




Jesus alegria dos homens (Jesus bleibet meine Freude), BWV 147-7, de Johann Sebastian Bach (1685-1750)

01 abril 2010

Eis o homem...


Cartaz do filme Ato da Primavera, de Manoel de Oliveira (Foto: Paulo Cunha)


A paixão de Cristo, levada à cena pelo povo de uma freguesia próxima de Chaves, chamada Curalha, num auto de características populares, é o tema principal do filme Ato da Primavera, que Manoel de Oliveira realizou em 1963. Este filme é muito mais do que um simples documentário etnográfico.

Eu não vi muitos filmes de Manoel de Oliveira, longe disso, mas, daqueles que eu vi, o Ato da Primavera foi sem dúvida um dos melhores.

AVISO - Aconselho as pessoas sensíveis a não verem a sequência final do filme, que a seguir se apresenta. Ela contém imagens eventualmente chocantes.




Imagens finais do filme Ato da Primavera, de Manoel de Oliveira