29 novembro 2011

Iran

Iran dos Bidyogo, Arquipélago dos Bijagós, Guiné-Bissau, séc. XIX. Sociedade de Geografia de Lisboa

«O termo irã (irâm, irân ou hirâm) entrou no uso corrente mais com o significado de local da efectivação das cerimónias mágicas e, simultâneamente, do próprio objecto, natural ou artificial, sobre o qual, ou junto do qual, se realiza o ritualismo, ou seja o símbolo. No consenso geral, mesmo que este símbolo seja artificial -- confeccionado ou adaptado para identificar o feitiço, o irã -- ele incarna os espíritos de antepassados ou de entes sobrenaturais. Quer dizer, símbolo e local confundem-se num mesmo significado.

(...)

O irã -- forma de expressão simples e cómoda -- tem designações próprias na língua de cada tribo, mas todas com o significado a que antes fizemos alusão e é, em geral, simbolizado: por árvores de grande porte (especialmente poilões e calabaceiras); pequenos bosques ou tufos de vegetação espontânea; recantos de lalas ou de bolanhas; estacas de madeira, em bruto, vulgarmente em forquilha; esculturas em madeira representando figuras antropomórficas ou simples desenhos geométricos; e outras inúmeras formas de representação material do ídolo.»

António Carreira, in Boletim Cultural da Guiné Portuguesa, Volume XVI, nº 63, Julho de 1961. O texto completo está disponível na seguinte página do blogue Coisas da Guiné, publicado por A. Marques Lopes : http://coisasdaguine.blogspot.com/2011/05/187-simbolos-ritualistas-e-ritualismos.html.


Iran dos Bidyogo, trazido em 1853 da ilha da Caravela, Arquipélago dos Bijagós, Guiné-Bissau. Musée du Quai Branly, Paris

22 novembro 2011

Ópera de Pequim


Ária Liang zhu shiba xiang. Peço desculpa, mas não sei a tradução

15 novembro 2011

Entre as praias da Adraga e da Ursa, Sintra

(Foto: Rui Abreu)

Um dos trechos mais belos da costa continental portuguesa é, sem sombra de dúvida, o trecho situado a norte do Cabo da Roca, sobretudo aquele que fica compreendido entre a Praia da Adraga, a norte, e a Praia da Ursa, a sul, incluindo estas duas maravilhosas praias. Nem mesmo na Costa Vicentina e na do Sudoeste Alentejano conseguimos encontrar trechos que sejam mais belos do que este de Sintra.

O passeio que se pode fazer ao longo deste trecho, percorrendo o alto da falésia, é curto mas deslumbrante. Recomendo, a quem o quiser fazer, que parta da Praia da Adraga e regresse a ela. Se durante o passeio pretender descer à Praia da Ursa, pode fazê-lo, embora possa correr algum (pouco) risco; a extraordinária pureza e a enorme beleza desta pequena praia compensam sobejamente o esforço e a ginástica feitos.

Como descrição do passeio, valho-me das palavras que Raul Proença escreveu no seu enciclopédico Guia de Portugal, obra incomparável que Sant'Anna Dionísio completou. Partindo da Praia da Adraga, em Almoçageme, sigamos pois a descrição que foi feita há muitas dezenas de anos por Raul Proença.

«(...)
Volvendo alguns metros atrás e subindo à dir. por uma vereda aberta num monte coberto de zimbro, achamo-nos na plataforma abrupta sobranceira ao oceano, no alto das fragas silenciosas. Ali vamos admirar um dos mais soberbos trechos que pedras e águas, no seu embate eterno, recortaram ainda em costas atlânticas. Vem primeiro, entre duas rochas enormes, talhadas a pique, a Praia do Cavalo, que dá, com todo o frisson da grandeza, a impressão de uma paisagem das Berlengas -- o mesmo aspecto da falésia, a mesma pequenez da língua de areia, a mesma atracção de sonho e de mistério lá no fundo abismo temeroso e glauco. Em seguida, o chamado Fojo (...) escancara a boca hiante e negra. É um enorme funil fechado ao cimo em toda a volta, e do alto do qual nos debruçamos em vista horripilante para um medonho recesso onde as águas em fúria galgam as rochas e fazem soar um estampido de inferno. Solta-se os olhos do abismo fugindo à vertigem, e fica-se surpreendido ao ver o mar quase verde, orlado mais ao largo por uma franja de azul turmalina, enquanto do lado oposto refulge a casaria de Almoçageme, e no último plano o Castelo da Pena ergue no ar fino e transparente o seu altivo diadema. Para o norte segue a linha dourada da costa até à Ericeira, franjada de espuma, golpeada de pequenas abras e enseadas solitárias, até se fundir, ao longe, indecisa e diáfana, no azul do céu. -- A poucos passos a Pedra de Alvidrar (...), imensa penedia quase a prumo(...).

Mas é adiante da Pedra de Alvidrar que o aspecto da costa atinge a sublimidade na decoração fantástica. Mais do que nunca também o mar é verde. Diante dos olhos extasiados recortam-se contornos cenográficos, agulhas, pináculos, castelos medievais debruçados sobre abismos, eriçados cantábricos babujados pela nívea espuma. Um dos leixões (Pedra da Ursa) ergue-se isolado no mar, e toma o feitio de uma pirâmide; outros têm formas humanas, e num deles descobre-se mesmo a cara dum gigante, com os olhos, a testa, o mento, a boca fortemente acusados; no alto de outro, finalmente, parece que poisou agora mesmo uma ave marinha, e que está à espera de desferir voo pela amplidão sem fim. À luz viva do sol, o tom branco das rochas que se pegam à terra firme dá-lhes a aparência de estarem cobertas de neves eternas. Por fim, no extremo do cenário, e quebrando-lhes talvez um pouco o encanto, um farol -- o da Roca.

Continuando a percorrer a plataforma erguida sobre as ondas, em certa altura vemos lá ao fundo um dos mais belos aspectos desta admirável sucessão de paisagens. É a Praia da Ursa. Para ir até lá, há que descer uma íngreme colina, e seguir a margem dum pequeno ribeiro que vai desaguar nesse ponto da costa. (...)»

Raul Proença, in Guia de Portugal, I Volume, Generalidades -- Lisboa e Arredores

Acrescente-se que a Pedra de Alvidrar é um gigantesco paredão, em rampa inclinada para o mar, que era usado no tempo dos romanos como local para julgamentos, de onde se atiravam os acusados de crimes. Se sobrevivessem, considerava-se que estavam inocentes; se não, teriam sido mesmo culpados!


Eu não conheço a pessoa que aqui se vê. Encontrei esta fotografia na Web e coloquei-a aqui para dar uma ideia da beleza e das dimensões da paisagem entre Adraga e Ursa. A pessoa chama-se Dina Vieira e edita um saborosíssimo blogue chamado O Garfo Mágico.

07 novembro 2011

Uma Serenata de Coimbra virtual


Samaritana, por Edmundo Bettencourt (?)



Trova do Vento Que Passa, por Adriano Correia de Oliveira



Saudades de Coimbra, por Zeca Afonso



Fado da Despedida, por Luiz Goes



Balada de Coimbra, por Carlos Paredes

01 novembro 2011

«...a cada um a sua própria morte»

5.

(…)
Estão entregues a centenas de supliciadores tais,
e, agredidas pelo bater de cada hora passada,
circulam solitárias em torno de hospitais
esperando cheias de medo o dia da entrada.
Aí está a morte. Não aquela cujo cumprimento
na infância estranhamente as tocou,
a pequena morte, como ali se designou;
a sua própria morte está nelas como um fruto que passou
verde e sem doçura, sem amadurecimento.

6.

Senhor, dá a cada um a sua própria morte.
Morrer que venha dessa vida
durante a qual amou, sentido encontrou, teve má sorte.

7.

Porque nós somos apenas a casca e a folha.
A grande morte, que cada um em si traz,
é o fruto à volta do qual tudo gira.

Rainer Maria Rilke (1875-1926), in O Livro das Horas


Pormenor de um túmulo no cemitério de Agramonte, Porto (Foto de autor desconhecido)