31 dezembro 2022

Haja alegria


Rapsódia Húngara N.º 2, de Franz Liszt, numa interpretação humorística de Victor Borge e Leonid Hambro

Trecho do filme Moulin Rouge, de John Huston, contendo o Galope Infernal, da ópera Orfeu nos Infernos, de Jacques Offenbach

28 dezembro 2022

Francisco Smith


Lisboa—Alfama, 1920, óleo sobre tela de Francisco Smith (1881–1961). Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, Portugal

A Costa do Castelo, óleo sobre tela de Francisco Smith (1881–1961). Museu de Lisboa, Lisboa, Portugal

As Escadinhas, c. 1934, óleo sobre tela de Francisco Smith (1881–1961). Museu Nacional de Arte Contemporânea do Chiado, Lisboa, Portugal

Francisco Smith foi um pintor português de ascendência inglesa, nascido em Lisboa em 1881. Fixou residência em Paris em 1907 e, na década de 30, naturalizou-se francês e passou a assinar as suas obras como Francis Smith. Desde que saiu do país até à sua morte, ocorrida em 1961, poucas vezes voltou a Portugal. Estes factos poderiam levar-nos a concluir que Francisco Smith se desinteressou pelo país que o viu nascer, mas nada poderia estar mais longe da verdade. Portugal e, sobretudo, a sua Lisboa natal estiveram sempre presentes na sua obra, em quadros cheios de ingenuidade que evocam as recordações da sua infância.

26 dezembro 2022

Prenda de Natal


Quando eu era criança, recebi uma vez pelo Natal esta prenda, que foi feita pelo meu pai com as suas próprias mãos nas horas livres. Só as rodas não são as originais. O meu pai chamava-se Guilherme e morreu quando eu tinha oito anos de idade

24 dezembro 2022

Luz do mundo


A Natividade Mística, óleo sobre tela de Sandro Botticelli (1445–1510). National Gallery, Londres, Reino Unido

De hoje a uma semana, será dia de Natal. O Menino, que nasceu há mais de 2000 anos, terá nascido de novo. A oportunidade será dada a todos nós de voltarmos à estaca zero: às primeiras horas do cristianismo - da nova religião cuja nascença com a nascença do Menino celebramos.

O que trouxe a nova religião?

1) Luz. «Nele estava a vida e a vida era a luz dos homens. E a luz brilha na escuridão e a escuridão não dominou a luz» (João 1:4-5).

2) Liberdade. «O sábado foi feito para o homem e não o homem para o sábado» (Marcos 2:27).

3) O fim do ódio. «Amai os vossos inimigos, fazei bem aos que vos odeiam» (Lucas 6:27).

4) A solução para a vida humana. «Fazei o bem... sem nada esperar em troca» (Lucas 6:35).

5) A compreensão humana. «Não julgueis para que não sejais julgados» (Mateus 7:1).

6) O despojamento. «Não acumuleis para vós tesouros na terra» (Mateus 6:19).

7) A justiça. «Bem-aventurados os perseguidos por causa da justiça, pois deles é o reino dos céus» (Mateus 5:10).

A aceitação de todas e de todos. «Eu não julgo ninguém» (João 8:15).

Infelizmente, os mais de 2000 anos que nos separam do nascimento do Menino mostram-nos um cristianismo que, em vez de luz, trouxe e traz tantas vezes o obscurantismo; em vez da liberdade, trouxe e traz tantas vezes o aprisionamento das mentes; em vez do fim do ódio, fomentou-o exponencialmente (entre cristãos e entre cristãos e judeus); em vez do despojamento, encontrou maneira de dar a senhores de engenho, ditadores e bilionários o reconforto de se considerarem bons cristãos; em vez de estar do lado dos perseguidos, esteve tantas vezes do lado dos perseguidores; e em vez de aceitar as pessoas na diversidade com que Deus quis que nascessem, tudo fez para excluir tantas e tantos.

Mas a beleza do Natal — e a esperança do Natal — é que, ao celebrarmos todos os anos o nascimento do Menino, todos os anos podemos começar do zero. A nova religião que o Menino trouxe e traz — todos os anos, cada dia, cada hora, cada segundo — está sempre a tempo de cumprir a sua verdadeira vocação. Este Natal, o mundo ainda vai a tempo de se tornar, no verdadeiro sentido da palavra, verdadeiramente cristão. Basta somente todas e todos querermos. A mensagem do Menino é que, se quisermos, podemos fazer do mundo em que vivemos o «Céu» na «Terra».

«Eu sou a luz do mundo» (João 8:12)

«Vós sois a luz do mundo» (Mateus 5:14)



Frederico Lourenço, Coimbra, 18 de dezembro de 2017

18 dezembro 2022

Música de Zemba, município de Nambuangongo, Angola


Uma canção popular de Zemba, município de Nambuangongo, província do Bengo, Angola, por um habitante local chamado Gabriel António, que canta em kimbundu e se acompanha à viola. Nova digitalização de uma gravação feita em dezembro de 1972

Há 50 anos certos, praticamente dia por dia, gravei numa cassete audio analógica um conjunto de canções populares de Zemba, município de Nambuangongo, província do Bengo, Angola, interpretadas por habitantes locais. Das gravações feitas, destaco duas, cuja qualidade técnica deixava muito a desejar e que procurei melhorar. A primeira delas, apresentada acima, tinha sido mal processada na sua passagem para o formato digital. Foi digitalizada de novo, com uma significativa melhoria na sua qualidade técnica.

A segunda gravação, que é apresentada em baixo, encontrava-se em péssimas condições, com inúmeros cortes no som original. No sentido de a melhorar, procedi a uma pesada compressão da gama dinâmica, no sentido de tornar mais audíveis os muitos fragmentos que o mau estado da cassete quase apagou. O resultado não é nada brilhante, mas foi o melhor que consegui fazer. Pelo facto, peço muita desculpa.

Música popular de Zemba, interpretada pelos habitantes locais Gabriel António e Gonçalo, que cantam em kimbundu e se acompanham em violas. A gravação foi feita em dezembro de 1972, em cassete audio analógica, cuja fita se encontra em péssimas condições

14 dezembro 2022

Prefixos do Sistema Internacional de Unidades (SI)


(Foto de autor desconhecido)

Foram internacionalmente aprovados novos prefixos para as grandezas do Sistema Internacional de Unidades, também chamado Sistema Métrico. São quatro os novos prefixos, dois aumentativos (para grandezas verdadeiramente monstruosas) e dois diminutivos (para grandezas incrivelmente minúsculas): ronna, quetta, ronto e quecto.

Assim, os principais prefixos do SI passam a ser os que se indicam a seguir.

deca (símbolo da) = 10
hecto (símbolo h) = 100
kilo (símbolo k) = 1000 = 103 (dez elevado a três)
mega (símbolo M) = 106
giga (símbolo G) = 109
tera (símbolo T) = 1012
peta (símbolo P) = 1015
exa (símbolo E) = 1018
zetta (símbolo Z) = 1021
yotta (símbolo Y) = 1024
ronna (símbolo R) = 1027
quetta (símbolo Q) = 1030

O Sol que nos ilumina, por exemplo, pesa cerca de 2 quettagramas, isto é, 2000000000000000000000000000000 gramas (dois seguido de trinta zeros).

Agora, para as grandezas infinitesimais passamos a ter:

deci (símbolo d) = 0,1
centi (símbolo c) = 0,01
milli (símbolo m) = 0,001 = 10-3 (dez elevado a menos três)
micro (símbolo μ) = 10-6
nano (símbolo n) = 10-9
pico (símbolo p) = 10-12
femto (símbolo f) = 10-15
atto (símbolo a) = 10-18
zepto (símbolo z) = 10-21
yocto (símbolo y) = 10-24
ronto (símbolo r) = 10-27
quecto (símbolo q) = 10-30

Um electrão, por exemplo, pesa cerca de 0,9 quectogramas, isto é, 0,0000000000000000000000000000009 gramas (zero vírgula trinta zeros e um nove no fim).

09 dezembro 2022

Rogério salva Angélica


Rogério salva Angélica, 1819, óleo sobre tela do pintor francês Jean Auguste Dominique Ingres (1780–1867). Museu do Louvre, Paris, França 

Rogério salva Angélica é uma pintura de Ingres, que representa uma cena do livro Orlando Furioso, de Ludovico Ariosto, poeta italiano dos princípios do séc. XVI. Este livro, por sua vez, foi inspirado num outro, chamado La Chanson de Roland, publicado pela primeira vez no séc. XI e de autor anónimo. La Chanson de Roland gozou de uma enorme popularidade durante a Idade Média e inspirou inúmeros trovadores, poetas e artistas europeus, entre os quais Ariosto. Por sua vez, o poema Orlando Furioso de Ariosto inspirou outros poetas e artistas, entre os quais se conta Ingres, num processo em cadeia.

A gesta de Roland/Orlando gira em volta da guerra entre cristãos e sarracenos no tempo de Carlos Magno. Eu nunca li La Chanson de Roland, nem Orlando Furioso, nem Orlando Enamorado de Boiardo, mas talvez devesse, por causa da importância que estas obras tiveram para a cultura europeia. Nestas condições, confesso a minha ignorância sobre estas obras literárias e valho-me do pouco que pesquisei na internet.

Angélica é uma princesa, filha do rei de Catai, isto é, da China, que surge na corte do imperador Carlos Magno e pela qual todos os cavaleiros se apaixonam, incluindo o cavaleiro Orlando. Angélica, porém, enamora-se e, eventualmente, casa-se com um mouro, o que deixa Orlando furioso. Angélica acaba por se achar numa situação idêntica à da grega Andrómeda, que foi salva por Perseu, ou seja, encontra-se nua e acorrentada a uma rocha à beira-mar, para ser devorada por um monstro marinho. É salva por Rogério, que mata o monstro.

Rogério é um cavaleiro mouro nascido no Norte de África, filho de uma moura e de um cavaleiro cristão, e que desembarca na Europa integrado no exército sarraceno. Depois de muitas e confusas peripécias, a Rogério é oferecido um hipogrifo, que é um animal imaginário, híbrido de cavalo e de grifo. É montando no seu hipogrifo que Rogério salva Angélica do monstro.

05 dezembro 2022

Pré-história de guerra


1.
a pomba foi morta pelo general

calculou    o sítio exacto
o lugar único     onde a morte esperava

no relatório omitiu a cor branca da vítima
e aquela leve pluma de ternura
visível no seu olhar     depois de morta

parecia mais pena     do que saudade ou terror
mais um enorme peso de braços caídos
do que o gelo transido do pânico

o general descreveu com precisão
a trajectória magnífica do tiro
o seu rigor     a rapidez fatal

com palavras antigas    sincopadas
ao ritmo dos tambores de mil batalhas

2.
quando pouco tempo depois lhe disseram
que o neto    o filho    a sua velha mãe
a mulher cujo sabor guardava dia a dia
a casa com jardim e duas árvores
a rua suave     a cidade onde nascera
eram agora uma nuvem espessa de cinza
onde a custo emergia o esqueleto de uma árvore sozinha

o general suspendeu o relatório
e teve um suor frio vindo da raiz da alma

mas quando lhe vieram dizer pouco depois
que era inútil mandar o relatório
porque o lugar que o ia receber não existia

o general chorou como um menino perdido

e foi então que o sol se perdeu numa nuvem de poeira
e um doce sabor a morte    azul e profundo
entrou pelo general até aos ossos

3.
a mão do general ficou ligeiramente tombada
sobre a folha do relatório vitorioso

ocultou um pouco a trajectória da bala
a palavra pomba parecia agora levemente manchada

e junto à porta o olhar fixo do jovem ajudante
era um vidro de espanto gravado no general

tudo à volta estava finalmente tranquilo
a paz fulminantemente conquistada

Rui Namorado


(Foto de autor desconhecido)

03 dezembro 2022

Dois caprichos


Capricho Italiano, op. 45, do compositor russo Piotr Ilitch Tchaikovsky (1840–1893), pela Orquestra Filarmónica da Rádio dos Países Baixos dirigida pelo maestro neerlandês Antony Hermus

Em 1880, Tchaikovsky viajou até Roma e ficou tão entusiasmado com a música popular que lá ouviu, que compôs uma fantasia sinfónica dedicada a Itália, a que chamou Capricho Italiano.

Como que em resposta, Rimsky-Korsakov, que era amigo pessoal de Tchaikovsky, estreou em 1887 uma outra fantasia, a que deu também o nome de capricho, mas desta feita um Capricho Espanhol.

Capricho Espanhol, op. 34, do compositor russo Nikolai Rimsky-Korsakov (1844–1908), pela Orquestra Sinfónica da Rádio de Frankfurt, Alemanha, dirigida pelo maestro espanhol Pablo Heras-Casado