Por incrível que pareça, o cavalo-marinho
macho também pode ficar grávido. Exatamente, eu escrevi macho e não fêmea. O cavalo-marinho é o único animal existente na Natureza em que é o macho que fica grávido e não a fêmea.
«Espera aí!», dir-me-ão. «Então não é verdade que o cavalo-marinho é um peixe? Os peixes põem ovos; não são vivíparos como os mamíferos. Como é que um cavalo-marinho pode ficar grávido, ainda por cima sendo macho?»
É verdade. Apesar do seu aspeto pouco convencional para um peixe, o cavalo-marinho é de facto um peixe. E a fêmea desta espécie põe ovos, como as fêmeas de todos os peixes. O que sucede aos ovos a partir do momento em que a fêmea os põe, é que é diferente no caso dos cavalos-marinhos.
Os preliminares para um acasalamento entre cavalos-marinhos são um processo que pode durar bastantes dias, até que o macho e a fêmea estejam em condições fisiológicas apropriadas para se consumar a união. Estas condições são o amadurecimento dos óvulos da fêmea, por um lado, e a expansão de uma bolsa ventral existente no corpo do macho, para que esta possa receber os ovos que a fêmea nela há de depositar, por outro. Durante esta fase preliminar, macho e fêmea nadam lado a lado, entrelaçam as suas caudas, "dançam", etc.
Quando os organismos do macho e da fêmea ficam prontos para a consumação da união, tem lugar uma "dança nupcial" que dura cerca de oito horas. Durante esta "dança", o macho expõe a abertura da sua bolsa. Quando a "dança" termina, o macho e a fêmea sobem juntos, encostados de frente um para o outro. A fêmea introduz um ovipositor na bolsa do macho e liberta nesta, em média, cerca de 100 a 1000 ovos. Uma fêmea pode depositar até 2500 ovos. O macho, por seu lado, liberta os seus espermatozoides diretamente na água do mar e os ovos são fecundados. Os ovos ficam aconchegados num tecido esponjoso existente no interior da bolsa do macho, onde se desenvolvem até nascerem. A incubação dos ovos dura 24 dias.
É verdade que os ovos postos pela fêmea contêm substâncias nutritivas para alimentação dos respetivos embriões, como acontece com qualquer ovo de qualquer peixe. Mas estas substâncias não chegam, nem pouco mais ou menos, para que os embriões de cavalo-marinho se desenvolvam. Assim, além de providenciar um ambiente protetor, favorável ao desenvolvimento dos embriões, a bolsa do macho fornece a estes nutrientes diversos, tais como lípidos ricos em energia, cálcio para a formação do respetivo esqueleto, etc. Fornece-lhes, igualmente, prolactina (que é a mesma hormona que nos mamíferos, incluindo os seres humanos, induz a produção de leite), oxigénio e até um serviço de eliminação de resíduos. Não é por acaso, pois, que no caso do macho cavalo-marinho se fala em gravidez.
Não se pense que a fêmea se desinteressa da sua descendência, depois de se ter visto livre dos ovos, e se vai embora toda elegante, porque mais magra. Não. Todos os dias ela visita o seu "marido" e interage com ele durante cerca de 6 minutos. Os cavalos-marinhos são monogâmicos, pelo menos durante uma época de reprodução.
O nascimento dos pequenos cavalos-marinhos ocorre geralmente de noite. O macho expulsa-os da sua bolsa através de contrações musculares, no que constitui um autêntico parto. De todos os recém-nascidos, só menos de 0,5% consegue atingir a idade adulta, em consequência dos ataques dos predadores e de condições adversas da água do mar, em termos de temperatura, salinidade, etc.