Dobet Gnahoré
Nan, por Dobet Gnahoré, cantora, percussionista e bailarina da Costa do Marfim
Nko, por Dobet Gnahoré
Issa, por Dobet Gnahoré
A Primavera
1º andamento: Allegro
Chegada é a Primavera e festejando
A saúdam as aves com alegre canto,
E as fontes ao expirar do Zeferino
Correm com doce murmúrio.
Uma tempestade cobre o ar com negro manto
Relâmpagos e trovões são eleitos a anunciá-la;
Logo que ela se cala, as avezinhas
Tornam de novo ao canoro encanto.
2º andamento: Largo
Diante disso, sobre o florido e ameno prado,
Ao agradável murmúrio das folhas
Dorme o pastor com o cão fiel ao lado.
3º andamento: Allegro
Da pastoral Zampónia ao Suon festejante
Dançam ninfas e pastores sob o abrigo amado
Da primavera, cuja aparência é brilhante.
O Verão
1º andamento: Allegro non molto — Allegro
Sob a dura estação, pelo Sol incendiada,
Lânguidos homem e rebanho, arde o Pino;
Liberta o cuco a voz firme e intensa,
Canta a corruíra e o pintassilgo.
O Zéfiro doce expira, mas uma disputa
É improvisada por Borea com seus vizinhos;
E lamenta o pastor, porque suspeita,
Teme feroz borrasca: é seu destino [enfrentá-la].
2º andamento: Adagio — Presto — Adagio
Toma dos membros lassos o repouso
O temor dos relâmpagos e os feros trovões;
E de repente inicia-se o tumulto furioso!
3º andamento: Presto
Ah! No mais o seu temor foi verdadeiro:
Troa e fulmina o céu, e grandioso [o vendaval]
Ora quebra as espigas, ora desperdiça os grãos [de trigo].
O Outono
1º andamento: Allegro
Celebra o aldeão com danças e cantos
O grande prazer de uma feliz colheita;
Mas um tanto aceso pelo licor de Baco
Encerra com o sono estes divertimentos.
2º andamento: Adagio molto
Faz a todos interromper danças e cantos,
O clima temperado é aprazível;
E a estação convida a uns e outros
Ao gozar de um dulcíssimo sono.
3º andamento: Allegro
O caçador, na nova manhã, à caça,
Com trompas, espingardas e cães, irrompe;
Foge a besta, mas seguem-lhe o rastro.
Já exausta e apavorada com o grande rumor,
Por tiros e mordidas ferida, ameaça
Uma frágil fuga, mas cai e morre oprimida!
O Inverno
1º andamento: Allegro non molto
Agitado tremor traz a neve argêntea;
Ao rigoroso expirar do severo vento
Corre-se batendo os pés a todo momento
Bate-se os dentes pelo excessivo frio.
2º andamento: Largo
Ficar ao fogo quieto e contente
Enquanto fora a chuva a tudo banha;
3º andamento: Allegro
Caminhar sobre o gelo com passo lento
Pelo temor de cair neste intento.
Girar forte e escorregar e cair à terra;
De novo ir sobre o gelo e correr com vigor
Sem que ele se rompa ou quebre.
Sentir ao sair pela ferrada porta,
Siroco, Borea e todos os ventos em guerra;
Que este é o Inverno, mas tal, que [só] alegria porta.
Meu filho posto
soldado
levado para lá do mar
de negro ando vestida
chorando-te até chegares
Dois braços — sei — tu levavas
com quantos voltas não sei…
com duas pernas andavas
e com os olhos enxergavas
aqueles montes além
Meu filho neste baraço
de ódio que nunca vem…
uma farda te vestiram e uma arma te entregaram
a mando não sei de quem…
Puz cinza nos meus cabelos
e com um lenço os tapei
vou chorar-te dia e noite
nessa guerra de
ninguém
Dois braços — sei — tu levavas
com quantos voltas não sei…
Duas moças mumuílas, do grupo etno-linguístico Nyaneka-Humbi, na Serra da Leba, sudoeste de Angola (Foto: Adalberto Gourgel) |
Nem rei nem lei, nem paz nem guerra,
Define com perfil e ser
Este fulgor baço da terra
Que é Portugal a entristecer —
Brilho sem luz e sem arder,
Como o que o fogo-fátuo encerra.
Ninguém sabe que coisa quer.
Ninguém conhece que alma tem,
Nem o que é mal nem o que é bem.
(Que ânsia distante perto chora?)
Tudo é incerto e derradeiro.
Tudo é disperso, nada é inteiro.
Ó Portugal, hoje és nevoeiro…
É a Hora!