25 janeiro 2015

Chegada das relíquias de Santa Auta ao Convento da Madre de Deus, Lisboa

Chegada das Relíquias de Santa Auta ao Convento da Madre de Deus, em Lisboa, de pintor anónimo da primeira metade do séc. XVI, provavelmente Cristóvão de Figueiredo. Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa

A pintura que aqui em cima se reproduz faz parte do chamado Retábulo de Santa Auta, que é um políptico que pertenceu ao Convento da Madre de Deus, em Lisboa, mas que agora se encontra no Museu Nacional de Arte Antiga, também em Lisboa. Não se sabe ao certo quem foi o seu autor, mas supõe-se que tenha sido o pintor português Cristóvão de Figueiredo, que viveu na primeira metade do séc. XVI, com a colaboração provável, segundo alguns entendidos, de Garcia Fernandes.

A fundação do Convento da Madre de Deus deveu-se à rainha D. Leonor, mulher do rei D. João II e fundadora das Misericórdias, para nele ficar instalada a Ordem das Franciscanas Descalças. O que se representa no quadro é a chegada ao convento, em solene procissão, das relíquias de Santa Auta, as quais ainda se encontram na belíssima e riquíssima igreja do convento. Estas relíquias foram oferecidas a D. Leonor pelo imperador Maximiliano I, do Sacro Império Romano-Germânico, que era seu primo. A rainha D. Leonor encontra-se representada muito discretamente no quadro, vestida de preto, em sinal de luto pois já tinha enviuvado, e de mãos postas, ao fundo à esquerda.

Comentários: 4

Blogger NAMIBIANO FERREIRA escreveu...

Bela pintura, a procissão parece estar em movimento.

28 janeiro, 2015 12:34  
Blogger Fernando Ribeiro escreveu...

Obrigado pelo seu comentário, prezado Namibiano. A pintura é muito bela, de facto.

Quem passar à porta do convento da Madre de Deus, que fica perto da estação de Santa Apolónia, verá um portal que parece ser o que se vê na pintura (http://www.patrimoniocultural.pt/static/data/cache/62/19/621988a0b94519bc50440f5e098f0ba0.jpg). Mas não é o mesmo portal da pintura! Apesar das grandes semelhanças, é possível notar algumas diferenças. Não é preciso ser muito perspicaz para as notar. Por exemplo, os colunelos que ladeiam o portal atual são mais finos do que os da pintura. Não admira. O portal atual da igreja não é o original. É uma cópia da segunda metade do séc. XIX, feita a partir, precisamente, desta pintura. Pelos vistos, não é uma cópia muito fiel.

O portal original (o da pintura) desapareceu algures no tempo, em resultado das muitas obras, ampliações e restauros que o convento foi sofrendo, não esquecendo o terramoto de 1755, que deve ter feito muitos estragos também.

Se repararmos na pintura, veremos no canto superior direito da mesma o rio Tejo e uma embarcação, que é provavelmente a caravela que trouxe da Alemanha as relíquias de Santa Auta. Isto quer dizer, portanto, que o portal antigo estava virado a norte, de costas para o rio. O portal atual, por seu lado, está voltado para o rio, ou seja, está virado a sul! A menos que o convento tenha dado uma volta de 180 graus, o portal que se vê na pintura não pode ser o mesmo que lá está agora.

Há ainda a referir um pormenor que eu não sei se é verdadeiro ou não, pois não me dei ao trabalho de verificar in loco. A encimar a fachada, por cima do portal atual, existe uma platibanda com elementos decorativos supostamente "manuelinos". Dizem que um desses elementos decorativos é uma locomotiva!!! Será verdade?

29 janeiro, 2015 00:24  
Blogger Fernando Ribeiro escreveu...

Ainda a propósito da locomotiva que dizem estar representada na platibanda, aparentemente manuelina, da fachada sul do convento da Madre de Deus, a sua representação deve ser intencional. Lembrei-me agora de ter lido há muito tempo, não sei onde, que é frequente encontrar-se elementos aparentemente anacrónicos em reconstruções ou acrescentos de edificações antigas, para sinalizar que as reconstruções ou acrescentos não fazem parte das edificações originais. São do tempo em que existiam os elementos "anacrónicos".

No caso da Madre de Deus, que fica a poucos metros de uma linha de caminho de ferro, será então natural que se represente uma locomotiva. Embora a fachada seja em estilo manuelino, ela não é do séc. XVI, como o estilo sugere, mas sim de um tempo em que já existiam comboios. A locomotiva deve estar lá para lembrar isso.

Diz-se que também na ala do Mosteiro dos Jerónimos, onde está instalado o Museu de Marinha, existe pelo menos um elemento "anacrónico" (não me lembro de qual ou quais), para que as pessoas não pensem que aquela ala fazia parte do mosteiro original. Não fazia. É uma construção moderna, ainda que em estilo manuelino também.

29 janeiro, 2015 03:31  
Blogger NAMIBIANO FERREIRA escreveu...

Caro Fernando, Obrigado por esta aula de historia e visita guiada.
Gostei muito.
abraços

29 janeiro, 2015 04:33  

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