30 abril 2017
Paix, por Catherine Ribeiro, cantora francesa de origem portuguesa, e o grupo Alpes, liderado por Patrice Moullet
25 abril 2017
Trovas do Mês de Abril
Foram dias foram anos a esperar por um só dia.
Alegrias. Desenganos. Foi o tempo que doía
Com seus riscos e seus danos. Foi a noite e foi o dia
Na esperança de um só dia.
Foram batalhas perdidas. Foram derrotas vitórias.
Foi a vida (foram vidas). Foi a História (foram histórias)
Mil encontros despedidas. Foram vidas (foi a vida)
Por um só dia vivida.
Foi o tempo que passava como nunca se passasse.
E uma flauta que cantava como se a noite rasgasse
Toda a vida e uma palavra: liberdade que vivia
Na esperança de um só dia.
Musa minha vem dizer o que nunca então disse
Esse morrer de viver por um dia em que se visse
um só dia e então morrer. Musa minha que tecias
um só dia dos teus dias.
Vem dizer o puro exemplo dos que nunca se cansaram
musa minha onde contemplo os dias que se passaram
sem nunca passar o tempo. Nesse tempo em que daria
a vida por um só dia.
Já muitas águas correram já muitos rios secaram
batalhas que se perderam batalhas que se ganharam.
Só os dias morreram em que era tão curta a vida
Por um só dia vivida.
E as quatros estações rolaram com seus ritmos e seus ritos.
Ventos do Norte levaram festas jogos brincos ditos.
E as chamas não se apagaram. Que na ideia a lenha ardia
Toda a vida por um dia.
Fogos-fátuos cinza fria. Musa minha que cantavas
A canção que se vestia com bandeiras nas palavras:
Armas que o tempo tecia. Minha vida toda a vida
Por um só dia vivida.
Manuel Alegre
Alegrias. Desenganos. Foi o tempo que doía
Com seus riscos e seus danos. Foi a noite e foi o dia
Na esperança de um só dia.
Foram batalhas perdidas. Foram derrotas vitórias.
Foi a vida (foram vidas). Foi a História (foram histórias)
Mil encontros despedidas. Foram vidas (foi a vida)
Por um só dia vivida.
Foi o tempo que passava como nunca se passasse.
E uma flauta que cantava como se a noite rasgasse
Toda a vida e uma palavra: liberdade que vivia
Na esperança de um só dia.
Musa minha vem dizer o que nunca então disse
Esse morrer de viver por um dia em que se visse
um só dia e então morrer. Musa minha que tecias
um só dia dos teus dias.
Vem dizer o puro exemplo dos que nunca se cansaram
musa minha onde contemplo os dias que se passaram
sem nunca passar o tempo. Nesse tempo em que daria
a vida por um só dia.
Já muitas águas correram já muitos rios secaram
batalhas que se perderam batalhas que se ganharam.
Só os dias morreram em que era tão curta a vida
Por um só dia vivida.
E as quatros estações rolaram com seus ritmos e seus ritos.
Ventos do Norte levaram festas jogos brincos ditos.
E as chamas não se apagaram. Que na ideia a lenha ardia
Toda a vida por um dia.
Fogos-fátuos cinza fria. Musa minha que cantavas
A canção que se vestia com bandeiras nas palavras:
Armas que o tempo tecia. Minha vida toda a vida
Por um só dia vivida.
Manuel Alegre
O capitão Salgueiro Maia no Largo do Carmo, em Lisboa, no dia 25 de abril de 1974 (Foto: Alfredo Cunha)
24 abril 2017
Acabamos sempre por esquecer tudo
Acabamos sempre por esquecer tudo.
O tempo gera a traição do abandono
e a memória não passa de disfarce.
O que fomos
o que vimos
o que fizemos
o que nos fizeram,
esquecemos tudo.
Acabamos sempre por esquecer tudo.
Esvaiem-se os anos e os corpos
na escuridão que nos persegue.
Mantemos os olhos maquinalmente abertos
mas já nada vemos
do que passou
do que foi.
Já nada persiste.
Restam, talvez, algumas sombras disformes
um ou outro eco mecânico
palavras despidas
o sonho
o pesadelo
um nevoeiro acre e sem fundo…
Esquecemos tudo
nas oportunistas mãos do vácuo,
irmão incestuoso da morte.
Como foi possível esquecer-te, João Cabral?
E tu, Miguel,
e tu, Lourenço,
e tu, povo angolano,
e tu, soldado da minha guerra?!
Os vermes parasitam nossas recordações
cantando hinos de decomposição.
Onde estão o medo, os soluços, o desespero, a raiva?!
Onde estão os mortos, os vivos, as vítimas, os algozes?!
Quase não acredito no que já esqueci.
Mário Brochado Coelho, in Cinco Passos ao Sol, Edições Afrontamento, Porto.
Militares portugueses destacados para a Guerra Colonial, algures no norte de Angola, 1963 (Foto: A. Leitão)
19 abril 2017
Sabedoria indígena brasileira
Palavras de Ailton Krenak, índio da tribo Krenak, do estado de Minas Gerais, um dos mais respeitados líderes indígenas do Brasil
16 abril 2017
Cristo ressuscitado
Cristo Ressuscitado, parte do grupo escultórico de mármore "Ressurreição", do escultor francês Germain Pilon (c. 1528 – 1590), Museu do Louvre, Paris
15 abril 2017
Ya murió mi redentor
Ya murió mi redentor, de frei Vicente Ortiz de Zárate (1750–1791), compositor barroco do México, por Carol Ann Allred, soprano, e o quarteto Chatham Baroque
14 abril 2017
Stabat Mater
Stabat Mater Dolorosa, do compositor renascentista francês Josquin des Prez (c. 1440 – 1521), pelo agrupamento La Chapelle Royale dirigido por Philippe Herreweghe
09 abril 2017
Tomamos a vila depois de um intenso bombardeamento
A criança loura
Jaz no meio da rua.
Tem as tripas de fora
E por uma corda sua
Um comboio que ignora.
A cara está um feixe
De sangue e de nada.
Luz um pequeno peixe
— Dos que bóiam nas banheiras —
À beira da estrada.
Cai sobre a estrada o escuro.
Longe, ainda uma luz doura
A criação do futuro...
E o da criança loura?
Fernando Pessoa (1888–1935)
Em Aleppo, Síria (Foto: AFP)
07 abril 2017
Scott Joplin faleceu há cem anos
Pineapple Rag, de Scott Joplin, por um intérprete não identificado ao piano
No passado dia 1 de abril de 2017 completaram-se cem anos sobre o falecimento do compositor e pianista afro-americano Scott Joplin, com 49 anos de idade. Scott Joplin tornou-se famoso pelas suas composições do género ragtime, algumas das quais atingiram grande popularidade. Também compôs duas óperas, mas perdeu-se a primeira delas, chamada A Guest of Honor.
A segunda ópera de Scott Joplin chama-se Treemonisha, de cujo libreto ele também foi o autor, mas nunca conseguiu vê-la levada à cena. A ópera Treemonisha só foi estreada em 1972!
A ação desta ópera desenrola-se numa comunidade de antigos escravos que vive numa floresta isolada no sul dos Estados Unidos. A história tem como personagem principal uma jovem de 18 anos, chamada Treemonisha, a quem uma mulher branca ensinou a ler e que encabeça a sua comunidade contra a influência de charlatães, que se aproveitam da ignorância e da superstição das pessoas. Treemonisha é raptada e, quando está quase a ser atirada para o meio de um ninho de vespas, é salva pelo seu amigo Remus. A comunidade toma então consciência da sua própria ignorância e da importância da educação, escolhendo Treemonisha para sua professora e líder.
Cena da ópera Treemonisha, de Scott Joplin, por intérpretes não identificados
01 abril 2017
Há mais Castelos Brancos no mundo
Castelo Branco, ilha do Faial, Açores. Em primeiro plano, vê-se o morro de Castelo Branco, uma pequena península sobre a qual se ergueu uma fortificação que deu nome à freguesia. À direita, a ilha do Pico, com o seu imponente cone vulcânico que é o ponto mais alto de Portugal. Em último plano, recorta-se contra o céu o perfil irregular da ilha de São Jorge (Foto: Herbert Terra)
Vista aérea da freguesia de Castelo Branco, ilha do Faial, Açores, onde se localiza o aeroporto que serve a ilha. Ao fundo, o morro de Castelo Branco (Foto de autor desconhecido)
Há mais Castelos Brancos no mundo. Só em Portugal conheço mais dois e no Brasil deve haver mais alguns.
Além da cidade de Castelo Branco, na província dita da "Beira Baixa" ("Baixa" porquê? Acaso o cume da serra da Gardunha fica a uma altitude inferior à da cidade de Viseu, por exemplo?), há em Portugal pelo menos mais duas freguesias chamadas Castelo Branco. Uma fica na ilha do Faial, Região Autónoma dos Açores, e outra fica no concelho de Mogadouro, Trás-os-Montes.
É na freguesia de Castelo Branco, no concelho da Horta, que se situa o aeroporto que serve a ilha do Faial. O nome da freguesia deve-se à existência, no passado, de uma fortificação no cimo de uma pequena península, a qual contribuiu para a defesa da costa sul da ilha contra os ataques dos piratas. Esta fortificação foi construída com pedra vulcânica de cor clara, o que lhe valeu o nome de Castelo Branco. A própria península onde a fortificação se ergueu é constituída por rocha da mesma cor.
Quanto à freguesia de Castelo Branco, no concelho de Mogadouro, a sua origem é muito antiga, devendo-se o seu nome, certamente, à existência de um castro ou outra construção defensiva de cor clara, em contraste com a cor das rochas predominantes na região. O monumento que mais se destaca no Castelo Branco transmontano é, sem qualquer dúvida, um imponente palácio do séc. XVIII, que começou por pertencer aos Távoras e a seguir passou para as mãos dos Morais Pimentel. É o Solar dos Pimentéis, como lhe chamam. Na última vez em que passei por lá, já lá vão vários anos, o solar estava em restauro para vir a ser uma unidade de turismo rural. Entretanto parece que as obras pararam e o restauro ficou por concluir.
Solar dos Pimentéis, Castelo Branco, Mogadouro (Foto: Pedro Castro)
A freguesia de Castelo Branco, Mogadouro, coberta de neve