Os "portugueses" de Malaca
Malaca, cidade situada no estreito do mesmo nome e actualmente pertencente à Malásia, foi conquistada por Afonso de Albuquerque em 1511 e esteve em poder dos portugueses até 1641, ano em que foi conquistada pelos holandeses.
À semelhança do que aconteceu em outras cidades e territórios conquistados por Portugal no Oriente, a miscigenação entre os conquistadores portugueses e a população local foi incentivada por Afonso de Albuquerque e pelos seus sucessores. Resultou desta política uma população mestiça, falante de português, praticante da religião católica e fiel a Portugal.
Actualmente, 366 anos depois de os portugueses terem saído de Malaca (trezentos e sessenta e seis anos, repito), ainda há naquela cidade pessoas que se chamam a si próprias portuguesas, falam um crioulo de base portuguesa chamado Papiá Cristão (Kristang em malaio) e continuam a professar o catolicismo. São na sua maioria pescadores e pobres, mas não miseráveis. Muitos mudaram para outras cidades à procura de melhores condições de vida, havendo comunidades de "portugueses" de Malaca, nomeadamente, em Kuala Lumpur (a capital da Malásia) e em Singapura.
Chega a ser comovente o apego daquela gente a Portugal. Orgulham-se dos seus antepassados portugueses, interessam-se por tudo o que diz respeito ao nosso país, conhecem muitas canções modernas portuguesas e até procuram reproduzir as nossas danças folclóricas. Sentem-se portugueses, sem renegarem a sua nacionalidade malaia, mesmo sabendo que nunca terão a oportunidade de algum dia vir a Portugal.
E nós, que aqui estamos neste "jardim à beira-mar plantado", que sabemos deles? Nada, nem sequer sabemos que eles existem, os nossos irmãos "portugueses" de Malaca!
No cimo do morro, as ruínas da antiga Igreja de Nossa Senhora do Monte, que os holandeses dedicaram a São Paulo. Em baixo, à esquerda, a Porta de Santiago, que é tudo o que resta da antiga fortaleza portuguesa, "A Famosa" como Afonso de Albuquerque lhe chamou.