Um poema de Albino Magaia, falecido há poucos dias
DESCOLONIZÁMOS O LAND-ROVER
Já não é carro cobrador de impostos.
Nós descolonizámo-lo.
Já não é terror quando entra na povoação
Já não é Land-Rover do induna e do sipaio.
É velho e conhece todas as picadas que pisa.
É experiente este carro britânico
Seguro aliado do chicote explorador.
Mas nós descolonizámo-lo:
No matope e no areal
Sua tracção às quatro rodas
Garante chegada às machambas mais distantes
Às cooperativas dos camponeses.
Entra na aldeia e no centro piloto
Ruge militante nas mãos seguras do condutor
Obedece fiel a todas as manobras
Mesmo incompleto por falta de peças.
- Descolonizámos o Land-Rover!
Com nossos produtos
Compramos combustível que consome
Com nossa inteligência
Consertamos avarias que surgem
Com nossa luta
Transformamos em amigo este inimigo.
Nós, descolonizadores
Libertámos o Land-Rover
Porque também ficou independente, afinal
Transformaram-se os objectivos que servia
E hoje é militante mecânico
Um desviado reeducado
Uma prostituta reconvertida em nossa companheira.
Descolonizámo-la e com ela casámos
E não haverá divórcio.
De Tete a Cabo Delgado
Do Niassa a Gaza
Da sede provincial ao círculo
Este jeep saúda quando passa
O Caterpillar seu irmão
Outro descolonizado fazedor de estradas
E cruza-se com o Berliet atarefado
Ex-pisador de minas
Eles aprenderam com a G-3
Menina vanguardista na mudança de rumo
A primeira a saber e a gostar
A diferença antagónica
Entre a carícia libertadora das nossas mãos
E o aperto sufocante e opressor do inimigo que servia.
As mãos dos operários que o fabricam
são iguais às mãos dos operários da nossa terra.
Essas mãos inglesas que o criam
Um dia saberão que ajudaram a fazer a revolução
e vão levantar o punho fechado da solidariedade.
Ruge este militante nas picadas da Zambézia
Galga as difíceis estradas de Sofala
Passa pelos pomares de Manica
Pelo milho de Gaza
Pelas palmeiras de Inhambane
Na cidade do Maputo descansa.
Transporta pelo país
Os olhos dos estrangeiros amigos
Que querem conhecer de perto a nossa Revolução
- Descolonizámos uma arma do inimigo
Descolonizámos o Land-Rover!
Aquelas quatro rodas e um motor potente
Aquela cabine dos mecanismos de comando
Aquelas linhas da carroçaria irmanadas ao medo
Já não afugentam o povo:
Homens, mulheres e crianças do campo
Fazendo sinal ao condutor,
Pedem boleia.
Nós descolonizámos o Land-Rover
E dele
O povo já não foge!
Albino Magaia, poeta moçambicano (1947-27 de Março de 2010)
Comentários: 4
Sr. Fernando Ribeiro!
Entao esta' de volta a blogosfera e nao dizia nada???
Oh messa!!!
Sinceramente, nao sabia... vi ha' pouco o seu comentario no meu blog, mas decidi que lhe iria responder depois de consultar a fonte que nele indica e de encontrar um texto que sei que tenho sobre o Lingala, a sua historia e os seus falantes.
Mas acabei por vir ate' ao seu blog por uma razao completamente diferente: eu quero postar uma materia sobre o Dondo e lembro-me de uma conversa, salvo erro com o nosso amigo do Humanos e o Museu do Dundo, mas nao me lembro em que post foi. Depois de procurar atraves do google e nao encontrar nada, decidi vir aqui a procura do endereco dos Humanos para ver se encontrava la' a tal conversa...
E eis que:
O Denudado esta' de volta!
WELCOME BACK!
"Sr. Fernando Ribeiro"? O que foi que eu fiz de errado para que agora toda a gente me trate por senhor? Começo a ficar preocupado... Eu nem sequer sou senhor do meu nariz!
Pois é, estou de volta. Não há redes sociais, Twitter ou fóruns que consigam substituir a publicação de um blogue comme il faut.
O nosso amigo do Humanos, Paulo Costa, ex-PlanaltoBié, teve uma má experiência com o Blogger. Aparentemente, alguém terá conseguido entrar na conta dele e ter-lhe-á apagado o blogue completamente. Por mais que ele tentasse pressionar o Blogger no sentido de recuperar o que era seu, nunca conseguiu tê-lo de volta. O Humanos que agora está na Web é uma segunda versão.
Escaldado, certamente, por esta má experiência, o nosso amigo resolveu impedir todo e qualquer acesso de terceiros ao seu blogue, bloqeuando os comentários. Só ele, e mais ninguém, pode mexer no blogue. Ainda fez mais: retirou qualquer referência ao seu próprio perfil e omitiu qualquer endereço de email, ficando incontactável. Eu pelo menos não consigo contactá-lo. Resolveu ainda por cima apagar sistematicamente todos os posts antigos, de modo a que só estejam disponíveis os mais recentes. O diálogo a que a Koluki se refere, portanto, já deve ter desaparecido do ciberespaço há bué de tempo!
Embora eu esteja impedido de comentar no blogue dele, continuo a ser um seu visitante fiel. Apesar de nem sempre estar de acordo com as suas opiniões, gosto muito das coisas que ele publica.
É com grande satisfação que verifico que, em boa hora, regressou à sua Matéria do Tempo. A partir de hoje voltarei a ser visita regular deste seu local de saber.
Carlos Romão,
Muito obrigado pelas suas palavras. Pela parte que me toca, nunca deixei de ser uma visita regular aos seus espaços de grande beleza e de tristeza, sobre esta cidade que é minha também.
Enviar um comentário