Sabedoria que pode ajudar a combater as alterações climáticas
Ao contrário do que é corrente afirmar, os povos indígenas não vivem na Idade da Pedra. Eles possuem valiosíssimos conhecimentos, muitos dos quais são arrogantemente desprezados por nós. Um exemplo é o das residências tradicionais dos índios brasileiros chamadas ocas ou malocas, como estas que estão na aldeia Piyulaga, no Alto Xingu, Mato Grosso. Apesar de serem feitas de materiais frágeis, estas ocas não são frágeis de maneira nenhuma, porque foram construídas de tal forma que conseguem resistir às tempestades mais violentas (Foto: Pirathá Waurá)
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As mudanças climáticas vêm há tempos modificando a vivência na cultura do povo Waurá. Entendemos que esses fatos são alterações que ocorrem no clima geral do planeta Terra, e sabemos que são provocados principalmente por ações dos seres humanos. Percebemos o aumento significativo da poluição do ar e da temperatura, e nosso maior desafio é nos adaptarmos, principalmente da década passada até a atual.
Nesse sentido, a mudança climática está causando muitos problemas para a sociedade Waurá, e está afetando, principalmente, o calendário tradicional que o povo segue conforme as suas tradições e costumes. Os nossos cultivos, por exemplo, são uma grande preocupação. O clima mudou, o calor aumentou, a chuva diminuiu, deixando confuso o período de plantação.
Em todos os tempos passados, o rio sempre fez a sua correnteza normalmente, não havia destruição das florestas ao redor do território, o fogo não escapava do nosso controle durante a queimada na nossa roçada. Atualmente, podemos ver que, cada vez mais, estão acabando as florestas exuberantes que existiam ao redor da área da Terra Indígena do Xingu. Fazendas de soja e gado estão ocupando o entorno, apertando o território xinguano, nos cercando. Também sentimos que o rio está secando bastante e aumentando a temperatura da água. Além disso, o calor deixa a serrapilheira (camada formada pela deposição e acúmulo de matéria orgânica morta em diferentes estágios de decomposição que reveste superficialmente o solo ou o sedimento aquático) muito ressecada, transformando-a em um poderoso combustível para o fogo e queimando as nascentes dos rios.
“Queremos saber o que está acontecendo. Antes sabíamos controlar o fogo quando queimávamos para preparar a nossa roça. Agora ele escapa e não para. Não era assim naquele tempo aqui na região. Também sabíamos quando a chuva ia parar e quando ia voltar, mas agora não sabemos mais”, disse o cacique Awaulukuma Waurá.
A humanidade, principalmente os não indígenas, não pensa na saúde do planeta. Para nós, é simples: precisamos diminuir a queimada das florestas, respeitar os territórios indígenas, que são os que mais cuidam e se preocupam com a floresta como um bem cultural, parar de queimar combustíveis fósseis, parar com funcionamento de fábricas poluidoras, reciclar e controlar o lixo, dentre tantas outras soluções. Podemos entender que falar é fácil, o problema verdadeiro é como fazer isso. Pois tudo seria mais fácil se as pessoas se conscientizassem de verdade. O problema é que as pessoas que têm o poder escolhem o dinheiro em vez do meio ambiente, e assim a situação fica cada vez mais difícil.
Nós, da cultura Waurá, que dependemos da natureza, temos muito conhecimento para dividir: como reflorestar tradicionalmente, como cuidar do meio ambiente da nossa região, formas de fazer a derrubada para a nossa plantação de sobrevivência e depois jeitos de ajudar a crescer de novo as árvores que foram derrubadas.
Entre fechar uma de suas fábricas que causa maior poluição para ajudar a natureza e mantê-la para conseguir mais poder, todos preferem continuar com suas indústrias poluentes. Isso precisa ser revisto. Todos nós temos de nos empenhar e ajudar a reverter as mudanças climáticas, porque nós, os povos indígenas, sozinhos nunca conseguiremos.
A partir de tudo isso, sabemos que a união pode ser a verdadeira chave para a solução dos nossos problemas. Todos estão sofrendo com muito calor, não só os índios. E a água, principal fonte de vida para os seres vivos, está diminuindo. Todos são afetados, não só nós. Mas temos muito o que contribuir para a solução desses problemas.
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Pirathá Waurá, em Mudanças Climáticas e a Percepção Indígena. Pirathá Waurá é professor indígena brasileiro, graduado em Licenciatura Intercultural na área de Língua, Arte e Literatura pela Universidade do Estado de Mato Grosso. Mora na aldeia Piyulaga, localizada na Terra Indígena do Xingu, município de Gaúcha do Norte, Mato Grosso, Brasil
(Foto: Pirathá Waurá)
(Foto: Pirathá Waurá)
(Foto: Pirathá Waurá)
(Foto: Pirathá Waurá)
Uma panela de barro (Foto: Pirathá Waurá)
(Foto: Pirathá Waurá)
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